Topo

Em SP, Eric Clapton encerra turnê brasileira com reverência à música negra norte-americana

MARIANA TRAMONTINA

Editora-assistente de Entretenimento

12/10/2011 21h03


Foi o encerramento de uma rápida turnê brasileira. E, dono de um repertório múltiplo, Eric Clapton optou pela economia ao reduzir em 16 peças sua vasta história, repassada ao longo de 1h40 de show em São Paulo. O que se ouviu nesta quarta-feira (12), no Estádio do Morumbi --no show que o músico dedicou ao piloto brasileiro de fórmula 1 Felipe Massa-- foi a reverência de um guitarrista inglês à música negra norte-americana, que começou com o standard "Key To The Highway", gravado pelo pianista Charlie Segar nos idos de 1940.

Para saudar as raizes do blues dos Estados Unidos, Clapton foi buscar "Hoochie Coochie Man", de Willie Dixon, conhecida com Muddy Waters; "Driftin' Blues", standard de 1945 de Johnny Moore's Three Blazers; "Nobody Knows When You're Down And Out", de Bessie Smith; "Before You Accuse Me", de Bo Diddley; e a obra de seu declarado ídolo maior, Robert Johnson: "Little Queen of Spades" e "Crossroads".

Com sua assinatura estavam lá "Tell The Truth", as baladas "Old Love" e "Wonderful Tonight", "Tearing Us Apart", "Lay Down Sally", "Badge", "When Somebody Thinks You're Wonderful" (de seu último disco, "Clapton", do ano passado), uma versão blues em marcha lenta para "Layla" e a obrigatória "Cocaine", que colocou de pé grande parte das 45 mil pessoas que estavam sentadas. Houve quem sentisse falta de "Tears in Heaven", "White Room", "Sunshine of Your Love" ou "Bad Love". 

No palco, Clapton estava acompanhado por duas cantoras de apoio e outros quatro músicos, mas sua guitarra era única. Ele só ganhou companhia no encerramento do show, quando convidou o guitarrista Gary Clark Jr., responsável por fazer as honras da noite na abertura, para duelar em "Crossroads". Com timbre limpo e por vezes alguma saturação, Clapton trabalhava seus dedos com comodidade nas escalas de sua Stratocaster azul e branca. Os longos e diversos solos foram divididos com os pianistas Chris Stainton e Tim Carmon, quando permitiram que Clapton desse um passo atrás para admirar sua banda. O baixista Willie Weeks e o baterista Steve Gadd apenas preenchiam o som, injustamente sem receber qualquer destaque.

Fossem mais realçados o baterista e o baixista se o espetáculo de Clapton estivesse confortavelmente instalado em um local mais intimista, como sugere seu cenário aconhegante, enfeitado apenas com cortinas ao fundo. É ali também que, no meio do show, o músico se senta em uma cadeira e troca sua guitarra por um violão em uma sessão semi-acústica com "Driftin' Blues" e "Nobody Knows You When You're Down and Out". Mas, em um show que preza detalhes sonoros, a grandeza do Estádio perde notas cuidadosamente tocadas por Clapton, prejudicando principalmente quem está longe do palco.

Com quase 50 anos de carreira, Clapton já trabalha numa zona de conforto que, mesmo explorando frases e escalas em improvisos, não traz muitas novidades aos seguidores de sua obra. Aos 66 anos, sua virtuose também já é mais econômica, mas não tira o brilho e a elegância de sua execução. O show é tecnicamente impecável e a apresentação é um espetáculo de músicos de alta qualidade. Por isso Clapton se limita a trocar poucas palavras com o público: quem tem o que falar ali é mesmo sua guitarra.

Veja o que Eric Clapton tocou em São Paulo:

"Key To The Highway"
"Tell The Truth"
"Hoochie Coochie Man" 
"Old Love"
"Tearing Us Apart" 
"Driftin' Blues"
"Nobody Knows You When You're Down and Out"
"Lay Down Sally"
"When Somebody Thinks You're Wonderful" 
"Layla"
"Badge" 
"Wonderful Tonight" 
"Before You Accuse Me" 
"Little Queen of Spades" 
"Cocaine"

bis
"Crossroads"