''Achtung Baby'' chega aos 20 anos mais jovem que o U2 e ganha caixas comemorativas

Quando o U2 aterrissou neste ano em São Paulo com sua “nave” em forma de garra para três shows da turnê “360º”, o primeiro som saído da guitarra de The Edge foi o solo de “Even Better Than The Real Thing”. Era o anúncio subliminar do fascínio do homem pelo espetáculo, aquilo que é “ainda melhor que a vida real”, a realidade inventada, recriada, editada. A canção, presente no disco “Achtung Baby”, que completará 20 anos no próximo dia 19 e que ganha neste mês um box em edição “Uber Deluxe”, também servia para ilustrar a essência da turnê “Zoo TV”, que correu o mundo em 1991 fazendo um prenuncio da interatividade global, hoje uma realidade.

Mas o arranjo de “Even Better Than The Real Thing” não foi tão marcante na “360º”. Ficou meio farofa, meio lento, meio sem o vigor presente ao disco. Parecia que tinha envelhecido, assim como outras faixas do álbum como “Mysterious Ways”, “One”, “Until The End Of The World” e “Ultraviolet”, todas no setlist daquele domingo, todas lentas demais.

Na volta para casa, para tirar a prova, uma nova audição do álbum deu o diagnóstico: quem envelheceu foi o U2. “Achtung Baby” continua um sopro de novidade na carreira dessa banda que já era um grande sucesso após os não menos retumbantes “The Joshua Tree” e “Rattle and Hum”.

E mesmo tirando-o do contexto da banda, o material surge como a contracorrente no mundo do rock, em uma época em que misturar guitarras com sintetizadores era considerado um tipo de promiscuidade. Durante um ano prolífico em clássicos do rock, como “Nevermind”, do Nirvana, “Ten”, do Pearl Jam, “The Black Album”, do Metallica, “Blood Sugar Sex Magik”, do Red Hot Chilli Peppers e “Out Of Time”, do R.E.M., “Achtung Baby” deixou os críticos boquiabertos e o público extasiado.

Gravado em Berlim, pouco tempo depois da queda do muro, o disco marca a substituição da sonoridade quase gospel de “Joshua Tree” por vocais e guitarras distorcidas, como o solo final de “Until The End of The World”, que parece sonorizar o Apocalipse e o renascer de uma nova Alemanha (ou renascimento de uma nova banda). Junto a seu sucessor “Zooropa”,  “Achtung Baby” virou praticamente uma trilha sonora da cidade. Ninguém mais passa pela Zoo Station sem ouvir os acordes da canção homônima, assim como se torna quase uma obrigação subir até os pés do anjo de bronze no Obelisco da Vitória, no Tiergarten, ao som de “Stay (Faraway, So Close)”.

A caixa Uber DeLuxe, que custa no site oficial da banda US$ 469,95, é uma celebração à altura da grandeza desse disco. Vem com seis CD´s (incluindo-se o “Zooropa”, lados B, remixes e material inédito gravado durante as sessões de “Achtung Baby”), quatro DVDs, incluindo o documentário “From The Sky Down”, que será lançado nos cinemas, a apresentação da “Zoo TV” em Sidney, todos os clipes dos dois álbuns, além de uma versão do lendário disco em vinil, outros cinco singles também em vinil, álbum de fotos, adesivos e até um par de óculos modelo mosca usado por Bono durante a turnê daquele ano.

Caso a caixa esteja acima de suas possibilidades financeiras e você se interesse apenas pela música, há outras quatro versões do material: CD simples (US$ 13,95), CD duplo (US$ 29,95), caixa de vinis (US$ 119,95) e caixa Super DeLuxe (US$ 167,95), com os mesmos seis CDs e quatro DVDs da Uber DeLuxe.