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Disco póstumo de Amy Winehouse traz versão pálida e "higienizada" de uma cantora que foi visceral

Cantora Amy Winehouse, em imagem de 2007, posa para foto em estúdio em Londres - Matt Dunham - 16.fev.2007/AP
Cantora Amy Winehouse, em imagem de 2007, posa para foto em estúdio em Londres Imagem: Matt Dunham - 16.fev.2007/AP

ANTONIO FARINACI

Colaboração para UOL Música

16/12/2011 12h19

Pouco mais de uma semana após chegar ao mercado, o disco póstumo de Amy Winehouse, "Lioness: Hidden Treasures", já é o lançamento de maior vendagem da cantora que morreu em julho passado. Mas seria uma pena que ela ficasse mais conhecida por esse disco do que pelo genial "Back to Black", com o qual ela despontou, em 2006.
 
  • Divulgação

    Capa do disco póstumo de Amy Winehouse

Dominado por regravações de sucessos da música soul, o disco traz um retrato pálido do talento visceral de Amy, que vale mais pela curiosidade do que pela qualidade das músicas compiladas, gravadas num período de dez anos --a mais antiga, uma versão drum'n'bass de "The Girl from Ipanema" ("Garota de Ipanema"); a mais recente, sua última gravação, "Body and Soul", dueto com Tony Bennett, já lançada pelo cantor. 
 
Não estão presentes no álbum nenhum "tesouro escondido" que o título promete, nem nada que se compare à verve de "Rehab" --ou mesmo de canções como "Wake Up Alone" e "Tears Dry on Their Own", que aparecem em "Lioness" em versões antigas, que serviram de rascunho.
 
O repertório de covers é um testemunho do amor de Amy pela música dos anos 60 e pelos artistas que faziam parte de sua formação musical: "Our Day Will Come" (sucesso de Ruby and The Romantics) e "Will You Still Love Me Tomorrow" (hit das Shirelles) mostram exatamente o tipo de sonoridade que ela buscava.
 
As poucas composições próprias --"Between the Cheats", "Best Friends, Right?" e "Half Time"-- são trabalhos menores, possível motivo pelo qual não tivessem sido lançadas até hoje, e dão uma ideia do branco artístico que ela estava vivendo nos útimos anos, marcados por idas ao estúdio que jamais resultaram em um disco. 
 
A incrível voz de Amy está lá, é claro, e uma interpretação medíocre sua é melhor do que a maior parte da produção das cantoras pop atuais. Mas, no geral, este lançamento apresenta uma Amy "higienizada", numa música sem hematomas no braço, sem manchas de sangue na sapatilha, sem passagens pela polícia --o universo de abuso (químico, emocional, físico) que lhe deu um trunfo artístico e acabou por cobrar o preço como tragédia pessoal.
 
O resultado lembra um pouco o último disco gravado por Billie Holiday, frequentemente criticado pelo exagero dos arranjos orquestrais, excessivamente românticos e envernizados. "Lioness" é mais para fãs interessados em colecionar memorabília do que para quem está interessado em música e no legado de Amy Winehouse --bem preservado nos dois discos que ela lançou em vida ("Frank" e "Back to Black"). 
 
A gravadora da cantora afirma ter guardada ainda uma dúzia de canções cujo lançamento Amy teria efetivamente vetado. A empresa garante que respeitará a vontade da cantora. Com o sucesso de vendas, vejamos até quando vão durar tantos escrúpulos.