Com novo álbum não-conceitual, Mastodon diz que primeira turnê no Brasil é "missão" para 2012
"Somos apenas uma banda de rock and roll, ainda que bizarra e única", diz o baixista e vocalista do Mastodon, Troy Sanders. Ainda que modesta, a frase sintetiza a personalidade da banda norte-americana, que passou sua carreira de mais de dez anos combinando o rock pauleira clássico da década de 1970 com experimentalismos diversos e o peso do metal atual.
Fruto do cenário metal vanguardista que proliferou no final da década de 1990 em torno de selos independentes como Relapse e Southern Lord, o Mastodon logo se destacou pela capacidade de absorver psicodelia e lirismo à massa sonora. Inspirados no rock progressivo setentista, lançaram uma série de álbuns conceituais de temática mística, culminando no complexo e elogiado "Crack The Skye", de 2009.
Agora, com o álbum "The Hunger", a banda dá uma guinada de 180 graus, rumo a uma sonoridade mais direta. Se o metal de vanguarda fez do Mastodon um grande nome do underground, o novo trabalho coloca o grupo como uma das apostas do rock pesado para 2012.
A "polêmica" fica por conta do produtor Mike Elizondo, famoso por trabalhos com artistas como 50 Cent e Maroon 5. O resultado final, longe de descaracterizar a banda, torna o som mais acessível, sem comprometer o peso e a identidade.
UOL Música - O que mudou de "Crack The Sky" para o novo álbum "The Hunter"?
Troy Sanders - Na nossa opinião, a beleza de "The Hunter" é que não há um conceito ou tema que dirija o trabalho. É uma coleção de canções que amamos. Cada uma tem sua história individual. Isso é muito diferente para nós, porque os discos anteriores tinham um tema ou conceito. Foi muito empolgante gravar um álbum com mais liberdade de criação.
Capa do disco "The Hunter", do Mastodon (2011)
UOL Música - E por que este novo trabalho não é conceitual como os anteriores?
Troy Sanders - O primeiro disco, "Remission", era baseado no elemento fogo. O segundo, "Leviathan", na água. Depois, veio "Blood Mountain" baseado na terra, e "Crack The Sky", no éter. Esperavam que fôssemos ainda mais longe numa temática bizarra, profunda e complexa. Então foi surpreendente para nós e para os outros quando fizemos uma coleção de canções em vez de mais um disco temático maluco. Foi uma reação direta ao fato de que "Crack The Skye" foi um álbum complexo, emocional e cheio de camadas. Abraçamos o lado mais simples do Mastodon, de criar um riff e entrar na canção.
UOL Música - Mas o álbum novo tem a ver com a madeira, que também é um elemento da cultura chinesa, não?
Troy Sanders - Vagamente. Algumas músicas têm a ver com madeira, florestas e árvores, e a escultura da capa é de madeira. Há muitas referências, mas não dá para dizer que seja centrado neste conceito. A madeira é um lindo elemento da terra. Nosso guitarrista, Brent Hinds, esculpe e adora arte em madeira. Não foi algo consciente, mas de repente vimos que havia muitas referências deste tipo nas letras, então pareceu apropriado colocar uma escultura de madeira na capa.
UOL Música - A capa é um dos aspectos mais impressionantes do disco. De longe parece uma pintura, mas de perto dá para ver que é a foto de uma escultura.
Troy Sanders - Definitivamente parece uma pintura ou uma imagem computadorizada, mas é um objeto real feito pelo nosso amigo, o artista AJ Fosik. Quando estávamos compondo, percebemos que a música ia para uma direção diferente, então decidimos chamar outro artista para fazer a capa. Como mudamos muita coisa na nossa música, resolvemos mudar o projeto gráfico também para revitalizar a banda.
UOL Música - A escolha do produtor Mike Elizondo neste trabalho, que é uma pessoa mais associada ao hip-hop e à música pop do que ao heavy metal, foi proposital?
Troy Sanders - Sim, foi uma decisão consciente. O que não queríamos desta vez era um produtor de metal, porque vemos a banda como multi-dimensional. No começo do ano mostramos as demos ao Mike e ele curtiu tanto o lado mais rock and roll quanto o lado mais psicodélico e o mais pesado. Ele conhece muito bem todos os tipos de música e entendeu o que queríamos. Acho que por ser talentoso em estilos variados, ele conseguia compreender todos as idéias que tivemos. O que era pegajoso ele deixou mais pegajoso, o que era pesado ele deixou mais pesado, as músicas lentas ficaram mais belas, enfim, nos empurrou para todas as direções certas.
UOL Música - No início, vocês eram associados a um cenário do metal alternativo que combinava inovação com elementos inspirados na década de 1970. Esta mistura ainda rege o trabalho de vocês?
Troy Sanders - Isso é muito natural. Acho que acontece porque todos nós somos influenciados por muitos estilos diferentes dos últimos 300 anos, de Beethoven a Björk e tudo que existe no meio. Nosso som tem elementos de metal, rock progressivo, rock clássico dos anos 70, mas essa mistura nunca foi proposital, é apenas a combinação do nosso gosto musical.
UOL Música - Com o novo álbum, vocês estão sendo vistos como "a bola da vez" do rock pesado em geral. Você ainda considera o Mastodon uma banda de vanguarda ou é apenas heavy metal?
Troy Sanders - Sempre nos considerei como uma banda de rock, ainda que bizarra e, assim espero, única. No fim das contas, somos apenas uma banda de rock and roll, mas a música é criada pelos quatro integrantes com muita sinceridade. Nós amamos e acreditamos em todos os riffs que fazemos. É maravilhoso estarmos chamando atenção no mainstream internacional, mas nunca tentamos fazer música para agradar a um público específico ou conseguir popularidade. Apenas fazemos o que curtimos e felizmente a banda conseguiu crescer e melhorar. Gostamos de tudo o que fizemos, desde o início, dez anos atrás, até hoje.
UOL Música - Vocês já foram chamados por alguns críticos de "banda de metal para não-metaleiros". Para que tipo de público você prefere tocar?
Troy Sanders - Gostamos de todo tipo de público e felizmente as pessoas curtem o Mastodon em diversos níveis. Gostamos muito de tocar em festivais com escalações diversificadas, com vários tipos de música além do rock pesado. É legal por ser um público com a cabeça bem aberta. Mas a melhor resposta da plateia geralmente acontece em festivais encabeçados por uma banda como Metallica ou Iron Maiden, em que as pessoas têm muita paixão pelo heavy metal.
UOL Música - Depois de tantos trabalhos conceituais, alguns mais pesados, outros mais psicodélicos e agora uma guinada para um lado mais direto, qual será o próximo passo do Mastodon?
Troy Sanders - Ainda não decidimos. Acho que isso virá naturalmente quando terminarmos a turnê mundial do "The Hunter". Provavelmente começaremos o próximo álbum no final de 2012. Estou ansioso para ver para que lado vamos, mas ainda não tenho a menor idéia do som que exploraremos a seguir.
UOL Música - E quando o Mastodon finalmente virá ao Brasil?
Troy Sanders - Existem alguns poucos lugares incríveis do mundo por onde o Mastodon ainda não passou. Nossa idéia para 2012 é tocar em todos eles. O Brasil está nessa lista e vamos fazer tudo o que pudermos para que isso aconteça o quanto antes. Agradecemos de todo o coração a todos que nos derem uma chance. É nossa missão.
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