Oitavo disco de Marisa Monte será lançado na Alemanha, turnê brasileira começa em maio
O ano de 2012 promete ser intenso para a cantora e compositora brasileira Marisa Monte. Os preparativos da grande turnê que ganha os palcos do Brasil em maio para divulgar seu oitavo disco – O que você quer saber de verdade – já estão em andamento e ela pensa em cruzar oceanos para mostrar o novo álbum.
Com um disco que tem tudo para repetir o sucesso de seus últimos trabalhos, Marisa demonstra total controle da situação. Para isso, cercou-se de parceiros fiéis em que pode confiar quando se trata de compor, tocar, produzir. É o caso de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, companheiros do coletivo Tribalistas, fundado em 2002, que a ajudaram a emplacar um dos maiores êxitos de vendas da indústria fonográfica no Brasil na década passada.
Em "O que Você quer Saber de Verdade", que está sendo lançado na Alemanha pela EMI, o trio Monte-Brown-Antunes aborda o amor em letras de certa ousadia para os padrões da mídia atual.
Deutsche Welle: Um dos charmes desse novo trabalho é a aura de Jovem Guarda que paira sobre algumas canções. Como esse movimento musical liderado por Roberto e Erasmo Carlos se refletiu no seu disco?
Marisa Monte: Não faço uma alusão direta a isso, mas com certeza Roberto e Erasmo criaram canções com um repertório que é fundamental para a alma de todo brasileiro. De alguma maneira isso influencia, mesmo que num subtexto. Algumas músicas têm uma sonoridade daquela época [meados dos anos 1960], com alguns órgãos antigos, mas eu não sinto que isso seja uma influência sobre todo o disco, como por exemplo no álbum "Iê-Iê-Iê", de Arnaldo Antunes. É uma referência mais diluída. Há talvez um pouquinho em "Depois", em duas ou três canções, mas isso faz parte, é uma resposta natural ao que a gente cresceu ouvindo.
Marisa Monte: Não faço uma alusão direta a isso, mas com certeza Roberto e Erasmo criaram canções com um repertório que é fundamental para a alma de todo brasileiro. De alguma maneira isso influencia, mesmo que num subtexto. Algumas músicas têm uma sonoridade daquela época [meados dos anos 1960], com alguns órgãos antigos, mas eu não sinto que isso seja uma influência sobre todo o disco, como por exemplo no álbum "Iê-Iê-Iê", de Arnaldo Antunes. É uma referência mais diluída. Há talvez um pouquinho em "Depois", em duas ou três canções, mas isso faz parte, é uma resposta natural ao que a gente cresceu ouvindo.
Capa de "O Que Você Quer Saber de Verdade", de Marisa Monte
Deutsche Welle: Você já teve oportunidade de cantar ao lado de Roberto Carlos?
Marisa Monte: Já, num especial dele de final de ano. Foi há uns quatro anos. Cantei com ele "Amor I Love You" e "Eu Te Amo, te Amo, te amo". Roberto é maravilhoso!
Deutsche Welle: O novo disco endossa uma parceria entre três artistas de forte personalidade: você, Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes. Como nasceu essa parceria?
Marisa Monte: Do Arnaldo eu era fã desde o tempo dos Titãs, eles têm uma carreira mais antiga do que a minha, eu era ainda adolescente. Sempre fui admiradora dele e sempre quis muito trabalhar com ele. No meu primeiro show (1988), eu cantava Comida (Marcelo Fromer, Arnaldo Antunes e Sérgio Britto), também do primeiro disco, e ocorreu uma aproximação entre nós. A gente começou a compor em 1991. Já o Brown foi pouco tempo depois, em 1993. Nos conhecemos um pouco através do Arto Lindsay, quando ele estava produzindo o primeiro disco do Brown (Alfagamabetizado).
Primeiro eu era parceira só do Arnaldo, ou só do Brown, sendo que eles também faziam músicas entre eles, mas com o tempo passamos a compor juntos os três. Os Tribalistas, que surgiram dez anos depois disso, foi um corpo de canções que fizemos todos juntos e quisemos registrar juntos. De lá pra cá, a gente continua desenvolvendo essa parceria e nossa amizade já dura 20 anos. Não só as músicas que fizemos juntos, mas também as do Brown com Arnaldo são fundamentais no meu repertório, na minha trajetória. Não posso imaginar a minha carreira sem o encontro com eles.
O disco se norteia por certo sentimentalismo amoroso, típico dos brasileiros. Ao mesmo tempo, as letras são mais rascantes, críticas, investindo numa visão mais libertária do amor. É uma mensagem que gera faíscas quando as canções tocam no rádio. Eu acho que a relação entre o amor e o canto é ancestral. Sempre se cantou muito o amor, que é uma questão muito inspiradora para os criadores. O que eu busquei nesse momento era cantar o amor de forma contemporânea, como o amor é vivido hoje. A forma de viver o amor tem se transformado muito e as canções têm que acompanhar isso.
Deutsche Welle: Uma das faixas mais curiosas do disco é "Lencinho Querido/El Panuelito". Como é que ela foi parar nesse álbum?
Essa música é consequência de um show que fiz com o Café de Los Maestros, um grupo tradicional de tango argentino. Eles vieram fazer um show aqui no Brasil e me convidaram para participar. Eu escolhi duas músicas que eram tangos versionados para o português, que tinham sido gravadas no Brasil e fizeram sucesso nos anos 40, 50.
Uma era El Panuelito e a outra Fumando espero. E eles fizeram esse arranjo maravilhoso, que eu não queria que ficasse perdido só na apresentação ao vivo. O Café de Los Maestros são músicos incríveis, que carregam uma carga de tradição enorme. É muito bacana essa interseção das culturas brasileira e argentina. Ela já foi mais intensa, mas ecoa até hoje, coisas que foram feitas há cerca de 60 anos.
É uma leitura que poderia perfeitamente entrar na trilha sonora de um filme de Pedro Almodóvar.
Eu adoraria (risos)! Eu trabalhei nesse disco bastante com o Gustavo Santaolalla, um argentino que faz trilhas. Ele é um grande produtor e foi quem produziu o disco do Café de Los Maestros, e também estava nesse nosso show. Ele talvez tenha dado nos violões, nas participações nesse disco, esse acento de imagens cinematográficas. Nos anos 40, 50, muita música argentina, colombiana, mexicana, cubana fazia sucesso no Brasil.
Deutsche Welle: … Um fato que instigou Caetano Veloso, por exemplo, a gravar o festejado Fina Estampa em 1994.
Marisa Monte: Exatamente. São reminiscências da infância dele em Santo Amaro, quando tudo isso tocava em rádio.
Marisa Monte: Exatamente. São reminiscências da infância dele em Santo Amaro, quando tudo isso tocava em rádio.
Deutsche Welle: Você produziu um dos melhores álbuns de Carlinhos Brown, o Omelete Man (1998). Gostaria de voltar a produzir outros artistas?
Marisa Monte: Depois do Carlinhos, eu produzi a Velha Guarda da Portela e o Argemiro Patrocínio. O trabalho de produção, de servir outro artista, de olhar um pouco de fora, de me colocar num outro plano, é muito bacana. Eu adoro.
Deutsche Welle: Houve uma redução drástica da oferta de shows de artistas brasileiros na Europa nos últimos anos. Ficou desinteressante para artistas como você virem se apresentar no Velho Continente?
Marisa Monte: Acho que não. Talvez seja reflexo da crise que se vive na Europa. É natural que isso se reflita no mercado de shows, com o desemprego na Espanha em torno de 25%. A Alemanha é o único país que está mais firme, segurando a onda. É claro que se corta na cultura. Imagino que isso possa ser um dos fatores. Já o mercado brasileiro está muito bom para artistas do Brasil. O país é enorme, a gente fica o ano inteiro circulando com os shows e não consegue cobrir o Brasil inteiro. São fatores sazonais que vão acontecendo mesmo.
Deutsche Welle: Mas dizia-se que com a queda da indústria fonográfica, com o advento dos downloads ilegais, que a tábua de salvação dos artistas seria o palco, mas não houve maior incidência de shows brasileiros na Alemanha, por exemplo. Muito pelo contrário.
Marisa Monte: O lastro dos artistas sempre foram os shows, mas agora mais do que nunca. A questão não é só financeira. Quando eu vou à Europa, mesmo que o cachê não seja igual ao do Brasil, eu sei que estou abrindo horizontes, que estou criando uma relação direta com outro público. O ganho não é tanto na ponta do lápis, é uma coisa mais difícil de apurar. É um investimento que vale a pena, o raciocínio não pode ser tão imediatista. Tem que estar construindo uma história, uma carreira, não é algo para depois de amanhã.
Marisa Monte: O lastro dos artistas sempre foram os shows, mas agora mais do que nunca. A questão não é só financeira. Quando eu vou à Europa, mesmo que o cachê não seja igual ao do Brasil, eu sei que estou abrindo horizontes, que estou criando uma relação direta com outro público. O ganho não é tanto na ponta do lápis, é uma coisa mais difícil de apurar. É um investimento que vale a pena, o raciocínio não pode ser tão imediatista. Tem que estar construindo uma história, uma carreira, não é algo para depois de amanhã.
Deutsche Welle: Você programou alguma viagem à Europa com esse novo show?
Marisa Monte: Acho que vou sim! Talvez os Estados Unidos fiquem para o ano que vem. A turnê no Brasil começa em maio, 2012 vai ser um ano curto para mim. Já fiz turnê de oito shows na Alemanha, cantando em festivais, o que é sempre uma estrutura mais precária, porque você canta com outros artistas numa mesma noite, você tem que ter um show mais curto, de 40 minutos, porque são várias apresentações.
O som é pior, não tem cenário próprio, nem luz. Tenho optado de ir com meu show completo mesmo, como faço no Brasil. É um investimento ainda maior, mas é para mostrar como é o show brasileiro. É importante para mim não levar um show sucateado para a Europa. É um esforço que tenho feito.
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