Paul McCartney resgata memórias e mostra amor pela vida em "Kisses On The Bottom"
O ano de 2012 começou com tudo para Paul McCartney. Aos 69, corpinho --e, principalmente, espírito-- de 29, o ex-Beatle está numa fase realmente apaixonada pela vida. E pela música. Por isso, não pergunte se seu novo disco, "Kisses On The Bottom", é ou pode ser o último. "A única certeza que temos é de que esse papo soa como lorota de algum produtor inescrupuloso", debocha o ex-Beatle.
A ser lançado nesta terça-feira (7), o álbum --com apenas duas músicas inéditas, "My Valentine", com participação de Eric Clapton, e "Only Our Hearts", com Stevie Wonder e regravações de standards dos anos 50 em estilo jazzy/retrô-- é o motivo do encontro de Paul com jornalistas de todo o mundo, numa tarde londrina fria de janeiro, no discreto e charmoso The Hempel Hotel.
"Toda vez que saio em turnê, alguém me questiona sobre parar”, continua Paul, com um ar enfadonho que, por um minuto, camufla sua simpatia e vivacidade. "Eu digo que não, não pretendo me aposentar, e não sei quando ou se vou parar algum dia", diz, questionando como pode sequer cogitar pendurar as chuteiras com tamanha dose extra de energia recebida do público. "Vejam os shows recentes que fiz na América do Sul --uma incrível quantidade de gente, com um astral muito eletrizante", exemplifica, sorrindo para o lado da mesa onde o Brasil, México e Colômbia estão representados.
Embora "Kisses On The Bottom" seja resultado desta energética inspiração, muito do disco tem a ver com o clima romântico do momento atual (Paul se casou pela terceira vez em outubro de 2011), traduzido pelas canções escolhidas por ele e pelos produtores, o veterano Tommy LiPuma e a cantora, pianista e compositora Diana Krall, que cedeu sua banda para as gravações, feitas parte nos lendários estúdios da Capitol Records, em Los Angeles, mas também em Londres e Nova York.
Faixas do novo álbum
1 - "I'm Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter" (Fred E. Ahlert/Joe Young) |
2 - "Home (When Shadows Fall)" (Peter van Steeden/Jeff Clarkson/Harry Clarkson) |
3 - "It's Only a Paper Moon" (Harold Arlen/E. Y. Harburg/Billy Rose) |
4 - "More I Cannot Wish You" (Frank Loesser) |
5 - "The Glory of Love" (Billy Hill) |
6 - "We Three (My Echo, My Shadow and Me)" (Sammy Mysels/Dick Robertson/Nelson Cogane) |
7 - "Ac-Cent-Tchu-Ate the Positive" (Arlen/Johnny Mercer) |
8 - "My Valentine" (Paul McCartney) |
9 - "Always" (Irving Berlin) |
10 - "My Very Good Friend the Milkman" (Harold Spina/Johnny Burke |
11 - "Bye Bye Blackbird" (Ray Henderson/Mort Dixon) |
12 - "Get Yourself Another Fool" (Haywood Henry/Tucker) |
13 - "The Inch Worm" (Loesser) |
14 - "Only Our Hearts" (McCartney) |
A voz
O disco, uma coletânea de standards dos anos 50, já começa com um diferencial: é a primeira vez que Macca vai apenas cantar e não tocará nenhum instrumento. O fã dos Beatles e de outras bandas de Paul, como Wings, pode até torcer o nariz para a voz anasalada e "pequena", como ele faz questão de frisar, que dá o tom de todo o trabalho. A razão é Fred Astaire, de quem o ex-Beatle é fã confesso: "Me inspirei muito na suavidade dele em 'Kisses On The Bottom'", revela.
Resgate pessoal e sentimental de canções que fizeram e fazem parte da história de vida de Paul McCartney, ele revela que o disco foi gravado no mesmo esquema que os Beatles gravavam, "sem nada muito fechado até chegar ao microfone". Ele ressalta o trabalho de Diana Krall como fundamental na seleção das músicas: "Ela dedilhava um arranjo no piano e já sabíamos o que entrava e o que saía e nossa conexão foi muito boa, incluindo os feras da banda dela, como o guitarrista John Pizzarelli".
Memórias
Além de as canções serem parte da memória de Paul --da infância, com seu pai tocando ao piano "e a família toda cantando junto", ou já nos Beatles, "com John e coisas que ele ouvia porque a mãe gostava"--, ele revela que eram também referências para os Fab Four. "Algumas estavam sempre no background de coisas que escrevíamos. Há um pouco delas em músicas dos Beatles como 'Honey Pie', 'Here There And Everywhere' e 'Close Your Eyes'. São nossas influências", conta Paul.
"Kisses on the Bottom" traz canções de Sam Cooke ("Home - When Shadows Falls"), Ella Fitzgerald ("It's Only a Paper Moon"), Danny Kaye ("The Inch Worms"), com direito a coral infantil, e abre com "I'm Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter", sucesso de 1935, na voz do cantor e pianista Fats Waller, do qual Paul tirou o nome do disco, "Beijos no Traseiro" (em tradução livre). O duplo sentido se faz presente já que a letra desta canção fala sobre escrever uma carta de amor a si mesmo, com ''a lot of kisses on the bottom'' ("muitos beijos no rodapé").
"Adoro estas canções", diz Paul, ao revelar que sempre quis fazer um álbum como este, mas sempre alguém fazia antes. Robbie Williams, Rod Stewart e até Ringo fez um disco parecido, "Sentimental Journey". O diferencial, segundo ele, é o fato de haver canções desconhecidas --até pelo próprio ex-Beatle, "como, por exemplo, 'More I Cannot Wish You', do musical 'Guys and Dolls'", emenda ele.
"O Artista"
"É como o filme 'O Artista'. Mostra bem esta era que adoro, com estilo, música e arte inteligentes", comenta, fazendo uma analogia da estética dos anos 20 até a dos anos 50, mais adequada ao repertório de "Kisses On The Bottom". Musicalmente, o disco é mesmo retrô. Mas, esteticamente, teve concepção moderna, porque as filhas Stella e Mary McCartney tomaram a frente em relação à "cara" do projeto.
A estilista emprestou o diretor visual de sua grife homônima, Jonathan Schofield, e Mary, fotógrafa, clicou o pai para a capa e todas as fotos promocionais de "Kisses On The Bottom", com Paul em meio às flores --que, aliás, parecem ser tudo na vida do ex-Beatle, que envelhece com dignidade e a alegria de quem se recusa a parar.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.