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Em noite de mesmice, Grammy dá as costas a cantoras espetaculosas e faz homenagem "torta" a Whitney

Antonio Farinaci

Do UOL, em São Paulo

13/02/2012 08h18

O Grammy é talvez a mais previsível e reacionária premiação da indústria do entretenimento. Ele não premia os artistas melhores ou mais inovadores. Seu foco são aqueles que já têm o reconhecimento do público. E, nesse sentido, é um prêmio também redundante, pois apenas reafirma o sucesso, sem apontar novos caminhos para a música.

 
Para deixar a situação ainda mais complicada, parecia que o clima de festa da premiação em 2012 iria por água abaixo, com a morte, na véspera, de Whitney Houston, uma das artistas de maior sucesso comercial da história e três vezes vencedora de um Grammy de melhor cantora. Mas quem esperava que a noite fosse engolida por homenagens póstumas, se enganou.

 
Whitney é uma artista de importância fundamental por fazer a ponte entre as divas soul do passado e as cantoras atuais, mas, a rigor, sua carreira já não existia há mais de dez anos (seu último Grammy é de 2000). Dessa forma, suas homenagens em uma premiação voltada para artistas de sucesso foram mantidas num registro mínimo.
 
E mesmo o número principal de seu tributo teve uma cara ambígua. Como uma convidada que vai vestida de branco num casamento para ofuscar a noiva, a cantora Jennifer Hudson parecia mais preocupada em se exibir do que em prestar homenagem a Whitney com sua versão de “I Will Always Love You”.

A premiação sinalizou também um certo cansaço do Grammy com cantoras espetaculosas, tipo Lady Gaga e a nova sensação bufa Nicki Minaj. Ambas, com múltiplas indicações, voltaram para casa de mãos vazias. Em vez delas, o evento preferiu consagrar Adele, uma cantora de voz excepcional a serviço de um repertório banal.

No geral, como convém a um evento que preza a previsibilidade, a noite transcorreu sem surpresas, e os enxertos no roteiro não alteraram substancialmente o curso da premiação.

Abaixo, alguns destaques da noite, que, em seus melhores momentos, teve até toques de humor (ainda que involuntários).
 

Mico
Depois de chegar acompanhada por um homem fantasiado de papa, Nicki Minaj fez uma apresentação arrastada com citações ao musical “West Side Story” e ao filme “O Exorcista”. Ao final, acabou numa plataforma suspensa, como se estivesse levitando. O gran finale lembrou o do show de Cláudia Leitte no Rock In Rio, algo não muito positivo…
A voz voltou
Três meses após uma cirurgia nas cordas vocais, Adele mostrou que está recuperada e começou a cantar “Rolling in the Deep” direto pelas notas agudas do refrão, pra não deixar dúvidas. Ao final, não conseguiu conter uma gargalhada de satisfação.
Boca cheia
Ao fim da apresentação de Adele, na plateia, Rihanna parecia ter dificuldade para acabar de mastigar e engolir alguma coisa. Um gif animado com a imagem da cantora de boca cheia logo apareceu no Twitter, criado por fãs que assistiam à transmissão do show. “O que ela estava comendo?” era a pergunta.
A voz sumiu
Paul McCartney subiu ao palco duas vezes. Primeiro cantou “My Valentine”, de seu disco novo, “Kisses on the Bottom”, depois encerrou a premiação com “Golden Slumbers”. Nas duas apresentações, sua voz parecia rouca e embotada.
Pérolas
O DJ Júlio Mazzei deleitou aqueles que acompanhavam a cobertura do Grammy pelo TNT, com tradução simultânea. Seus palpites equivocados sobre vencedores, gritos de “bravo” e comentários sem sentido (“Adele tem 22 anos! Imagina ela aos 35!”) chegaram a dar saudade de Rubens Ewald Filho comentando o Globo de Ouro.
Enquanto isso…
No SBT, o cartunista Laerte explicava a Marília Gabriela que adora frequentar certa pizzaria em São Paulo, onde se sente “superbem”, mesmo vestido de mulher… Muito mais divertido do que o Grammy, convenhamos.