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Em nova turnê, Chico contém a cantoria dos fãs com show para ser contemplado

Dolores Orosco

Do UOL, em São Paulo

02/03/2012 00h17

Quando Chico Buarque sobe ao palco sabe que terá um coro infalível na plateia. Vozes emocionadas que o acompanham em vedetes de seu repertório como “A Banda”, “João e Maria” ou “Construção”. Mas na nova turnê, que teve estreia paulista na noite de quinta-feira (1), no HSBC Brasil, o cantor parece ter evitado que a comoção dos fãs fosse o clímax da apresentação.

Como de costume, as músicas antigas seguem como o ponto alto da performance. Mas graças a uma seleção rigorosa, que buscou canções menos óbvias de sua vasta obra, o ídolo mantém os fãs em um delicioso estado contemplativo. Desta vez, a cantoria é tímida.

“Geni e o Zepelim”, criada para o musical “Ópera do Malandro” em 1978, nunca havia sido executada ao vivo e é o momento de ouro do show. Nos versos que descrevem o flagelo de uma personagem marginalizada (“Joga pedra na Geni / Ela é feita pra apanhar / Ela é boa de cuspir”) o percussionista Chico Batera acompanha o cantor com castanholas.

“Baioque” mostra um Chico rejuvenescido, mais solto e até fazendo dancinhas enquanto toca violão numa mistura inesperada de baião com rock. Música de 1972, mas que em raras ocasiões foi levada ao palco.

“Todo o sentimento”, de 1987, ganhou popularidade na interpretação de Verônica Sabino, como trilha da novela “Vale Tudo”. Agora foi incluída no novo show e aparece cheia de frescor entre as composições mais recentes, como “Essa Pequena”, “Sem você 2” e “Nina” – todas do álbum “Chico”, de 2011.

Outra que veio com ares de modernidade foi “Cálice”, de 1973. Com os versos originais recriados pelo rapper Criolo (“Afasta de mim as biate, pai / afasta de mim a coqueine, pai”), o refrão precede a novíssima "Sinhá".

Sensação da vez, o cantor estava na plateia e foi bastante aplaudido pelo público. “Evoé, jovem artista!”, saudou Chico no palco, como já havia feito nos primeiros shows da turnê, que já passou por Curitiba, Porto Alegre, Novo Hamburgo e Rio de Janeiro.

Charme

Se a releitura de velhas canções surpreende e traz sabor de ineditismo, o veterano Wilson das Neves consegue a mesma proeza. Chamado de “meu personal baterista” ao ser anunciado por Chico, o músico revelou sua faceta de vocalista tardio ao fazer participação especial no momento mais charmoso do espetáculo.

Com terno branco e chapéu panamá, armou um dueto elegante com Chico no samba “Sou Eu”, do álbum mais recente do cantor, e emendou com “Tereza da Praia”, de Tom Jobim e Billy Blanco. Saiu do palco deixando Chico com seu panamá até o fim da apresentação.

Para o fã mais passional – daquele que não resiste e grita “lindo!” ou “eu te amo!” para Chico durante os shows – nem tudo está perdido. “A Banda”, “João e Maria” ou “Construção” – “os clássicos para cantar junto” – foram mesmo descartadas do repertório. Mas nas duas horas de apresentação há espaço para alguns (poucos) hits como “Injuriado”, “Sob Medida” e “O Meu Amor”.

A temporada de shows de Chico Buarque vai até o dia 25 de março, no HSBC Brasil, de quinta à domingo.

Confira o repertório completo do espetáculo:

"O velho Francisco"
"De Volta ao Samba"
"Desalento"
"Injuriado"
"Querido Diário"
"Rubato"
"Choro Bandido"
"Essa Pequena"
"Tipo um Baião"
"Se Eu Soubesse"
"Sem Você 2"
"Bastidores"
"Todo o Sentimento"
"O Meu Amor"
"Teresinha"
"Ana de Amsterdam"
"Anos Dourados"
"Sob Medida"
"Nina"
"Valsa Brasileira"
"Geni e o Zepelim"
"Sou Eu"
"Tereza da Praia"
"A Violeira"
"Baioque" (com citação de "My Mammy")
"Cálice" (com letra de Criolo)
"Sinhá"

Bis 1:
"Barafunda"
"Futuros Amantes"

Bis 2
"Na Carreira"