Morrissey está de volta ao Brasil, 12 anos depois da última visita, para ver de perto toda uma nova geração de fãs. Gente que nem era nascida quando, com "Strangeways Here We Come", ele e o guitarrista Johnny Marr deram ponto final à parceria mais significativa do rock britânico desde os Stones de Mick Jagger e Keith Richards, capitaneando os Smiths.
Fãs que escutaram "Suedehead" em alguma rádio flashback e se encantaram. Jovens que não tinham idade para ver a primeira passagem do cantor por aqui. E, claro, os antigos devotos de sempre com camisetas e velhos LPs da época, como se fossem a própria carteira de identidade --esses eram a maioria. Pessoas que passaram o show inteiro gritando por Smiths, mas que se renderam aos acordes de "Everyday Is Like Sunday".
É difícil mensurar a importância de Stephen Patrick Morrissey no mundo pop, já que ela atravessa as fronteiras musicais e alcança campos da literatura, da moda e, mais importante, de um determinado estilo de vida. Foi esse jovem senhor que na noite desta quarta-feira (7) subiu ao palco do Chevrolet Hall, em Belo Horizonte, e autorizou meninos a se assumirem como "sensíveis".
Morrissey, cuja figura parece permanecer marcada no inconsciente pop, parece firme o suficiente para justificar uma turnê mundial que passa agora pelo Brasil e que não serve de divulgação para nenhum álbum novo. Seu último trabalho foi lançado há três anos e hoje ele se encontra, sintomaticamente, sem gravadora.
Apesar dos ingressos não terem esgotado, a casa já estava cheia durante o show de abertura da cantora Kristeen Young. Munida de apenas um teclado e amparada por programações eletrônicas, ela não convenceu o público com suas canções etéreas, que remetem ao trabalho de cantoras-compositoras como Regina Spektor e Tori Amos, sem o diferencial criativo das duas.
Depois de seu show, a platéia foi aquecida com clipes exibidos em um telão, provavelmente selecionados por Morrissey, fã assumido de artistas que foram mostrados, como Nico, Sparks e os últimos da lista, New York Dolls --quando jovem, Morrissey fundou um fã-clube da banda pré-punk na Inglaterra.
Com apenas dez minutos de atraso (o show estava marcado para as 22h), Morrissey subiu ao palco de camisa branca, enquanto o resto da banda trajava vermelho como os dizeres "Assad Is Shit" no peito, uma referência nada elogiosa ao atual presidente da Síria Bashar Al Assad, e começaram o show com "First Of The Gang To Die", hit do disco "You Are The Quarry" (2004), ganhando os primeiros coros da platéia mineira. A temperatura seguiu elevada na seqüência, com "You Have Killed Me". No final, o cantor brincou com a platéia, dizendo: "Vocês me fazem me sentir muito popular".
A ironia foi a deixa para uma seqüência que baixou os ânimos do público, com "Black Cloud", "When I Last Spoke To Carol" e "Alma Matters" --canções pouco conhecidas da maioria dos presentes, que serviram para provar que a voz de Morrissey ainda está preservada, mas que não seguraram o começo do show. No final da última faixa, o cantor fez piada ("Estou mesmo aqui? Sim!") e soltou a primeira do repertório dos Smiths na noite, "Still Ill", em uma bela versão, emendada com "Everyday Is Like Sunday", emocionando a platéia e o cantor, que puxou coro de "Brasil, Brasil!".
A partir daí, o show mostrou sua maior falha: o roteiro. Curiosamente o próprio Morrissey parece admitir isso. "Podem escolher a próxima canção", atiçou a platéia. "Não, não podem!", respondendo com uma seqüência de músicas mais climáticas, como "I Will See You In Far-Off Places", "Ouija Board, Ouija Board" e a sombria "Meat Is Murder" (1985), canção-título do segundo álbum dos Smiths.
Respeitosamente, ganharam aplausos assim como sua banda de apoio, que foi apresentada em seguida, com destaque para o guitarrista Jesse Tobias (ex-Alanis Morissette), dono dos solos e dos riffs mais impactantes. Mas o saldo até aí era de uma apresentação morna, sem maiores interações entre o cantor e seus súditos, com algumas boas canções espalhadas sem critério junto ás preferências do cantor.
O show se ajustou melhor na sua parte final, quando Morrissey se encontrou com a vontade da platéia. O que antes eram apenas ondas isoladas no meio da multidão, se transformou em muitos casais dançando ("Let Me Kiss You", e "I Know Its Over", dos Smiths, numa versão um pouco apressada), coros animados ("I'm Throwing My Arms Around Paris") e, principalmente berros saudosistas e emocionados, na rendição a três clássicos grandiosos dos Smiths.
"There's A Light That Never Goes Out" e "How Soon Is Now?" gerou até um pouco de histeria, mas foi "Please Let Me Get What I Want" o grande momento da apresentação, em uma versão simples, concentrada na voz de Morrissey e na inspirada guitarra que deu voz ao público, sublinhando que o interesse maior ainda é o repertório dos Smiths.
Sintomaticamente, no econômico bis, a apresentação teve seu ponto final com a pouco memorável "One Day Goodbye Will Be Farewell", provando, depois de quase duas horas, que o cantor que já foi considerado "o maior inglês vivo" parece estar pouco sintonizado com aqueles que poderiam ter o elegido com esse título.
Mesmo com um repertório bastante inspirado na sua carreira-solo, a força de sua apresentação parece residir, nostalgicamente, no seu passado com os Smiths. O que garante uma emocionante viagem ao passado, mas também mostra pouca inspiração no presente e preocupações para o futuro. O rei do rock poético e sentimental não está morto, mas não parece estar passando muito bem.
Veja as músicas que Morrissey tocou em Belo Horizonte:
"First Of The Gang To Die"
"You Have Killed Me"
"Black Cloud"
"When Carol Last Spoke To me"
"Alma Matters"
"Still Ill"
"Everyday Is Like Sunday"
"Speedway"
"You're The One For Me Fatty"
"I Will See You In Far-Off Places"
"Meat Is Murder"
"Ouija Board Ouija Board"
"I Know It's Over"
"Let Me Kiss You"
"There's A Light That Never Goes Out"
"I'm Thowing My Arms Around Paris"
"Please, Please Let Me Get What I Want"
"How Soon Is Now?"
MORRISSEY NO RIO DE JANEIRO
Quando: sexta-feira (9), abertura dos portões às 21h, Kristeen Young às 23h10 e Morrissey às 0h
Onde: Fundição Progesso (Rua dos Arcos, 24 - Lapa. Tel.: 0/xx/21 2220-5070)
Quanto: 3º lote R$ 240. Os demais setores estão esgotados
Ingressos: www.livepass.com.br/morrissey-rio-de-janeiro
MORRISSEY EM SÃO PAULO
Quando: domingo (11), abertura dos portões às 18h, Kristeen Young, às 20h10
Onde: Espaço das Américas (Rua Tagipuru, 795 - São Paulo. Tel.: 0/xx/11 3829-4899)
Ingressos: esgotados
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