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Fundador do Napster diz no South By Southwest que ninguém aproveitou caminho aberto pelo programa nos anos 90

Lúcio Ribeiro

Especial para o UOL de Austin (Texas)

15/03/2012 15h53

Um dos "shows" mais esperados do festival South by Southwest 2012 aconteceu nesta quarta-feira (14) no palco do Centro de Convenções de Austin, no Texas, mas nenhuma nota musical foi tocada. A dupla Shawn Fanning e Sean Parker, os fundadores do polêmico Napster, programa de compartilhamento de arquivos na internet que facilitou o download e mudou a história da música a partir do final dos anos 90, participaram de uma disputada conferência no festival, sendo entrevistados pelo documentarista e diretor de cinema Alex Winter, com trabalhos no canal VH1.
 
O resumo da ópera musical, curto e grosso, é que o download de música e a bagunça generalizada que transformou a indústria não tiveram o êxito esperado depois do surgimento (e queda) do Napster. A discussão se iniciou depois que foram mostrados cinco minutos do documentário "Downloaded", projeto de Winter que estreia no final do ano e terá como luz a gênese do Napster e sua importância para o estado atual da música, da invenção de Fanning e Parker em si até seu efeito hoje em dia ao soberano iTunes e ao Spotify, serviço de streaming legalizado cuja empresa tem ligações com Sean Parker. 
 
Parker defende que o caminho que o Napster abriu para a aplicação da música no tempo da internet não foi aproveitado por ninguém. Chamou o iTunes de preguiçoso e disse que o Spotify tem tudo para ser mais importante que o Napster, porque pode dar certo onde sua antiga criação não deu, que é ser um meio de troca de informação musical porque é lucrativo para a indústria e para o artista. E que, em dois anos, vai ser mais importante que o iTunes.
 
"Há sobre o iTunes uma divergência entre gravadoras e artistas. O Spotify dá um retorno financeiro enorme para as gravadoras, o iTunes não. Se continuarmos crescendo nessa proporção, com o Spotify, em menos de dois anos iremos ultrapassar o iTunes, em termos de contribuição para a indústria", fez sua propaganda. Foi realmente um show de Parker a entrevista-conferência: "Eu tenho preguiça da loja da Apple. É tão lenta, fico impressionado", disparou.
 
Fanning e Paker explicaram o que deu errado para o Napster na guerra contra bandas e indústria, que fez o revolucionário serviço ser extinto --o Napster reabriu depois com perfil diferente e hoje é um desimportante serviço online legal. 
 
Tal explicação vale como conselho para qualquer negócio novo feito até hoje nos Estados Unidos, que dependa de criatividade e inovação: "De uma hora pra outra, por conta das várias disputas legais que passamos a enfrentar, os advogados assumiram o controle do Napster. Nosso CEO era literalmente nosso advogado. Uma das lições mais importantes que aprendemos na época é que o teu CEO nunca deve ser um advogado. O Napster virou um escritorio de advocacia".
 
Fanning lembrou como era, na época, eles garotos com um produto nerd na mão, ir participar de reuniões com engravatados da música. "Eles riam da nossa cara. Eles não tinham nem levado em consideração as complicações e implicações do que estava por vir. Depois toda a indústria de música passou a ficar aterrorizada. Eles eram tão 'dinossauros' que estavam pela primeira vez despertando para a ideia de uma mídia digital".