Topo

São os patrocinadores as novas gravadoras?

Lúcio Ribeiro

Do UOL, no Texas

18/03/2012 07h00

O South by Southwest comemora que a edição deste ano do festival tem perto de 30 patrocinadores, das mais variadas marcas, todos querendo atrelar seu nome à música independente. Espalhados por Austin, tem, por exemplo, um forro enorme de plástico preto cobrindo um prédio com o logo do novo Doritos, o Jacked, que parece que é maior e mais pesado que o Doritos regular, diz o slogan.

Não longe dali, tem uma dessas arenas da Nike montada na rua, com quadra de futebol e rampa de skate. Tudo bem que boleiro curte uma música e dá para curtir um show saboreando um Doritos pesadão, mas… Daqui que, entre as grandes discussões dentro do painel das grandes discussões que acontecem nas incontáveis alas do Centro de Convenções de Austin, o QG do South by Southwest, um dos temas abordados, bem oportuno, é “São os patrocinadores de shows as novas gravadoras?”.

Em uma via de mão dupla, produtores independentes, com a falência do mainstream e a bagunça generalizada da indústria musical, tem procurado diretamente as empresas, sem a intermediação de gravadoras e administradores de carreira de artistas, para fazer girar o negócio da new music.

Por outro lado, as marcas vêm o boom do cenário indie, seja ele indie rock, rap e eletrônico, um bom modo de se juntar à geração C, dos conectados, dos alimentados musicalmente pela internet, dos curadores de si mesmo que dão a nova cara do consumo de música. Num show extra, surpresa e sem nenhuma combinação com o festival em si, a American Express armou uma apresentação pocket do rapper milionário Jay Z, bem em Austin, bem quando já rolava o Sxsw. Para entrar nesse show, precisaria ser proprietário de um Amex, para começar.

Todo mundo parece estar ganhando com a nova música. Inclusive a nova música. Mas nem todos estão contentes assim com o novo status quo sonoro, neste período de pouca ou nenhuma importância das ex-centralizadoras de tudo, as gravadoras. Atração do Sxsw 2012, o guitarrista-ativista Tom Morello, que já tocou (ou toca, nunca se sabe ao certo se elas acabaram) nas bandas Rage Against the Machine e Audioslave, participou de uma “ação” no estilo “Occupy”, durante sua passagem pelo festival do Texas.

Morello, em parceria com o movimento Occupy Austin, armou uma aparição sonora com “bagunça democrática no Swan Dive para protestar contra todo o merchandising que ergue o South by Southwest. O músico é contra as “festas da vodka”, “festas do energético”, “festas o salgadinho” que movem a programação paralela do Sxsw e, segundo ele, “esquecem do principal: dos revolucionários, dos rebeldes, dos rockers, dos rappers e das pessoas 99 porcento. Em resumo, da música. 

Esse assunto, parece, estar só no começo e vai ainda longe, para muito além do Texas. Inclusive no Brasil. No ano passado, por exemplo, o mais bem-sucedido festival de música independente do país, o Planeta Terra, que não faz dois anos ameaçava não acontecer por falta de investimento (inclusive próprio), comemorava mais o fato de ter fechado 18 patrocinadores master do que o fato de ter esgotado 18 mil ingressos em poucas horas.