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Em seu 50º álbum, Maria Bethânia aposta em mudanças sonoras e grava faixas "mais enxutas"

Maria Bethânia durante entrevista coletiva no Rio de Janeiro (28/3/12) - Tomas Rangel/Divulgação
Maria Bethânia durante entrevista coletiva no Rio de Janeiro (28/3/12) Imagem: Tomas Rangel/Divulgação

Renato Damião

Do UOL, no Rio

28/03/2012 18h56

Nesta sexta (30) chega às lojas o “Oásis de Bethânia”, 50º álbum da carreira de Maria Bethânia. A capa do álbum traz uma foto do sertão alagoano feita por Gringo Cardia e durante a coletiva de imprensa realizada nesta quarta (28) na sede da gravadora Biscoito Fino, zona sul do Rio, Bethânia revelou que seu oásis é o sertão brasileiro: "Preciso lembrar que existe esse lugar no meu país. Isso me coloca do tamanho que eu sou", explicou Bethânia.

As dez faixas do CD contam com produção de diferentes artistas, que passam por Djavan até Lenine. “Foi uma escolha bem pensada, não queria voltar ao estúdio com a mesma formação. Queria que fosse apenas minha voz e um instrumento, se eu tocasse algum instrumento seria apenas eu tocando e cantando”, disse Bethânia sobre a concepção do álbum que, dessa vez, não teve criação geral do maestro Jaime Allen. O tom mais enxuto das canções se reflete nos 38 minutos que compõem o álbum, assinado por Bethânia e Jorger Heder.

"O Jorge é um baixista que teve relação com todos os músicos do país", contou Bethânia que dividiu o estúdio ainda com o pianista André Mehmari. "Queria o Elton John, mas o Mehmari é melhor", comparou.

A "renovação", de acordo com Bethânia era um desejo antigo. “Senti vontade de fazer um álbum com a mesma estranheza causada por ‘Ciclo’”, revelou Bethânia citando o disco lançado em 1983 e prosseguiu: “Saiu como eu queria, com as mudanças sonoras que eu queria,  esse é um álbum importante na minha carreira”, sintetizou.

Preciso lembrar que existe esse lugar no meu país. Isso me coloca do tamanho que eu sou

Bethânia sobre o sertão brasileiro

Bethânia divulga texto pela primeira vez

Dentre as novidades do novo álbum está um texto intitulado “Carta de Amor” ("Amar é um protesto", comparou), escrito por Bethânia e musicado por Paulo César Pinheiro. Segundo ela, a carta foi escrita para deixar de lado “dores, angústias e mágoas”. Essa é a primeira vez que a cantora publica um dos seus escritos. Indagada sobre o porquê da demora em divulgá-los, Bethânia explicou: “Temos poetas e escritores maravilhosos, escrevo para me preservar da visibilidade do palco que a minha profissão exige. Escrevo muito, desde moça, mas sempre queimei tudo depois”, contou aos risos.

Em “Calúnia”, Bethânia canta “Deixe a calúnia de lado / Que ela a mim não afeta”, no entanto ela garantiu que a canção não é uma resposta a repercussão causada pelo projeto de blog criado por Andrucha Waddington e Hermano Vianna. “É um bom prólogo para todos os contextos, mas não fiz isso pensado, se o tivesse feito teria sido um ato pequeno”, mas deixou escapar que “Lágrima” foi baseada em uma carta escrita para ela por por Nélida Piñon na época: “Nélida me mandou uma carta que dizia: ‘Não derrame uma lágrima, o Brasil não merece’”.

Uma das “inovações” do “Oásis de Bethânia”, por exemplo, é a canção “Fado” que conta com a viola caipira tocada por Jaime Allen, dando lugar a tradicional guitarra portuguesa usada nos fados de Portugal. “Acho linda a viola caipira e o Jaime toca lindamente essa viola”, disse. "Velho Francisco", letra de Chico Buarque, ganhou arranjos mais pesados de Lenine: "Lenine é um gênio, dá uma pancada no violão e estremece tudo", elogiou.

Música inédita de Caetano estará no show

Maria Bethânia planeja subir aos palcos no segundo semestre de 2012. No repertório do show, ela revelou que cantará uma canção inédita de seu irmão, Caetano Veloso, composta em 67 a partir de um poema do poeta Sá de Miranda: "A música acabou sobrando no disco, mas vou fazer no show", contou. Ainda sem previsão de estreia, Bethânia acredita que o show "será diferente" e promete uma "mudança cênica" para acompanhar o novo projeto.

Famosa por recitar poemas em seus espetáculos, Bethânia mais uma vez citou Fernando Pessoa como o "poeta de sua vida" e reclamou do mundo de hoje, onde, segundo ela, falta delicadeza: "Esse disco para mim é uma coisa muito forte, verdadeira e delicada. E o mundo está sem delicadeza, quando vejo esse trabalho sinto que eu segui, que achei uma brecha. Me conforta, me deixa vaidosa”, confessou.

Com mais de 40 anos de carreira, Bethânia não costuma ouvir seus trabalhos antigos e nem pensa em mudar seu visual: os cabelos se tornaram icônicos. "Cabelo esquenta, é bom", brincou ela que se disse avessa ao mundo virtual: “Não entendo nada de internet, mas se isso ajuda nosso trabalho é interessantíssimo", opinou. Nesta quarta (28) foi lançada a Rádio Bethânia, com todos as músicas gravadas pela cantora.

  • Reprodução/Ziriguidum

"Oásis de Bethânia" (Biscoito Fino)
1 – Lágrima (Candido das Neves)
2 – O Velho Francisco (Chico Buarque)
3 - Vive (Djavan) - Inédita
4 - Casablanca (Roque Ferreira) Inédita
5 - Calmaria (Jota Velloso) - Inédita
*Citação: Não Sei Quantas Almas Tenho (Bernardo Soares) Edição Fauzi Arap
6 - Fado (Roque Ferreira) - Inédita
7 - Barulho (Roque Ferreira)
8 – Calúnia (Marino Pinto / Paulo Soledane)
* Citação: Lágrima (Sebastião Nunes / Garcia Jr. / Jackson do Pandeiro)
9 - Carta de amor (música e letra: Paulo Cesar Pinheiro) - Inédita
* Texto: Maria Bethânia
10 – Salmo (Rafael Rabelo e Paulo Cesar Pinheiro)