Enquanto a indústria fonográfica trava batalha contra a pirataria pela suposta perda de lucros com as vendas de CDs e DVDs, bandas e artistas saíram pelas arestas em busca de sobrevivência no mundo da música. Entre obstáculos, encontraram lasers, fogos de artifício e telões em LED no fim do túnel: são os shows-espetáculos, repletos de efeitos especiais e audiovisuais.
Investir em grandes estruturas de palco e novidades tecnológicas tornou-se item fundamental no roteiro para atrair a audiência --que, pelo alto valor que paga, exige verdadeiras experiências reais. O show de Roger Waters que excursiona pelo Brasil, "The Wall - Live", traz uma produção para impressionar. "Custa US$ 200 mil por dia (R$ 340 mil)", segundo falou ao UOL o chefe de produção da turnê Chris Kansy.
Waters desenvolveu imagens dinâmicas para ilustrar a história e as canções do clássico álbum lançado pelo Pink Floyd em 1979: um muro com mais de 137 metros de largura e 11 metros de altura, que forma um telão em alta definição. Ao todo, são usadas 57 toneladas de equipamentos e 55 toneladas de cenário. São 172 alto-falantes e 23 projetores que amplificam barulhos de helicópteros, aviões, tiros, pessoas rindo, bebês chorando e todo o som quadrafônico do espetáculo. Tudo isso será visto na noite desta quinta-feira (29) no Rio de Janeiro, e nos dias 1º e 3 de abril em São Paulo.
Em questão de megalomania, poucos conseguem impressionar mais do que o U2. Se em 1992 eles ajudaram a popularizar os telões com a Zoo TV Tour, um dos shows mais caros da história, quase 20 anos depois eles voltaram com ambições ainda maiores. A gigantesca "360º Tour" trouxe o palco circular conhecido como "A Garra", com pontes rotativas e visão em 360 graus, como indica o nome, concentrando o sistema de som e telões LED em uma estrutura cilíndrica. Sua montagem mobilizava 209 caminhões --48 deles apenas para carregar estruturas de aço-- e 240 pessoas trabalhando.
A "World Magnetic Tour" do Metallica, entre 2008 e 2010, passou pelo Brasil com toda sua estrutura, incluindo os três telões LED de alta definição, um deles com 20x8 metros que ficava ao fundo do palco. A "Black Ice World Tour" do AC/DC saiu pelo mundo com um palco de 78m de comprimento e 21m de profundidade e dividiu a cena com uma locomotiva real de seis toneladas que se movimentava durante a apresentação.
Investimento nacional
Apesar de ainda ser algo recente, o investimento de artistas brasileiros em grandes estruturas de palco já passa a ser uma realidade. Há pontos que impossibilitam algo maior, como por exemplo o alto número de shows, que não deixa sobrar tempo suficiente para a montagem de estruturas muito complexas, mas nem por isso o investimento tem sido deixado de lado.
Enquanto o trio elétrico domina o axé e ganha espaço no sertanejo, pois não há gastos com cenário, pelo menos três nomes de destaque atualmente foram acompanhados, durante todo o ano passado, por estruturas que superaram os R$ 2 milhões: Ivete Sangalo, Luan Santana e Fernando e Sorocaba.
Até o final do ano 2011, Ivete Sangalo viajou o país com a turnê "Madison Square Garden", baseado em seu DVD gravado em Nova York. A estrutura se mantinha fiel ao que pode ser visto nos vídeos, mas havia certos impedimentos. Transportada por 7 carretas, a estrutura demorava 5 dias para ser montada, o que tornava inviável utilizá-la em todas as apresentações. Como opção, além dos trios elétricos, que a cantora nunca abandonou, foi feita uma versão reduzida do cenário do “Madison”, mais barata e de montagem mais rápida.
No meio sertanejo, Luan Santana e a dupla Fernando e Sorocaba são os principais responsáveis por levar novidades às festas do gênero, que nunca deu muita atenção para a questão visual. Em 2010, Luan comprou uma estrutura que o permitia voar durante as apresentações, já que havia uma música em seu repertório chamada "Vou Voar". No mesmo ano, Fernando e Sorocaba decidiram que uma grua, levantada por um guindaste, os alçaria para cima do público. Com a boa resposta a essas experiências, ambos passaram a dar mais atenção para o "espetáculo", e por conta disso, o investimento foi crescendo.
Só para o transporte do palco de Fernando e Sorocaba, são utilizadas duas carretas e um ônibus. O dinheiro gasto, de acordo com Sorocaba, não precisa necessariamente ser alto. "Tento levar o máximo de entretenimento aos shows. E na verdade, em muitos casos, surgem ideias de baixo custo. A bolha de plástico que eu e o Fernando entramos dentro, por exemplo, custa R$ 5 mil cada uma. O guindaste também foi outra ideia que agradou, que repercutiu. O importante é ter sacadas boas e acompanhar o mundo da música. Quando eu posso, eu viajo pra ver shows e trazer coisas novas".
Fábio Fakri, empresário da dupla, diz que nem todas as boas experiências são possíveis de colocar na estrada: "o nosso novo DVD usou a tecnologia de mapeamento 3D, que é algo inédito no Brasil. Nós temos em mente fazer alguns shows pontuais com essa tecnologia, mas não é viável colocar na turnê. Não é nem só uma questão financeira, mas é que só pra fazer o mapeamento do local, que é o básico da ideia, leva dois ou três dias, e a gente não tem esse tempo".
De acordo com Fakri, outras ideias também encontram barreiras por não serem práticas. "A grua, que é uma ideia do Sorocaba, foi a primeira grande sacada da dupla, mas enfrentava alguns problemas. Por exemplo, a gente precisava de um caminhão só pro guindaste, que pesava uma tonelada, então não era todo show que tinha a grua. Hoje, o que chama a atenção no show são as duas bolhas de plástico, que requerem só dois compressores de ar".
10 curiosidades sobre o "The Wall"
O perfil de show-espetáculo adotado por Luan Santana surgiu por dois motivos: pelo gosto do cantor por grandes shows, e por diversos comentários que ele e seu empresário ouviam a respeito de apresentações de artistas internacionais.
"Eu e o Luan estávamos incomodados porque sempre alguém vinha falar que um show lá fora teve algo diferente e que era muito bom. Podia ser coisa boba, mas alguém dava atenção. Então a gente decidiu que era hora de procurar novidades pra esse lado do entretenimento, já que havia condição financeira da gente trazer as novidades pra cá. Foi quando eu comecei a viajar pra fora atrás de feiras, e aí surgiu a ideia de usar a máquina que fazia o Luan voar".
No final de 2010, durante a gravação de seu segundo DVD, Luan Santana utilizou uma catapulta igual a que Michael Jacskon utilizava nos ensaios de sua última turnê. "Nós a vimos no documentário 'This is It' e na hora já pensamos em utilizar. Só existem 6 máquinas dessa no mundo, e uma a gente alugou pro DVD do Luan", conta Ricardo. Por conta do alto custo do aluguel, cerca de U$ 150 mil, a máquina não foi pra estrada, explica o empresário.
Ainda de acordo com Ricardo, os artistas internacionais têm agendas mais espaçadas quando vêm ao Brasil, o que possibilita a montagem de estruturas maiores. "Quando os caras chegam de fora, tocam duas noites e tem uma semana inteira pra montar a estrutura. Fazendo 25 shows por mês, não tem como. A gente tem condições de fazer algo bem maior, mas não adianta investir mais se não há como colocar o palco na estrada".
*Colaboração de André Piunti
ROGER WATERS NO RIO DE JANEIRO
Quando: 29 de março de 2012
Onde: Engenhão
Quanto: R$ 180 (superior oeste), R$ 180 (superior leste), R$ 250 (pista), R$ 300 (inferior oeste), R$ 300 (inferior leste), R$ 600 (pista prime)
Ingressos: www.ticketsforfun.com.br, 4003-5588, nos pontos de venda autorizados e na bilheteria oficial, no Citibank Hall/RJ.
ROGER WATERS EM SÃO PAULO
Quando: 1º e 3 de abril
Onde: Estádio do Morumbi
Quanto: de R$ 180 (PNEs) a R$ 600 (setor prime)
Ingressos: www.ticketsforfun.com.br, 4003-5588, nos pontos de venda autorizados e na bilheteria oficial, no Credicard Hall/SP.
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