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Estrela da noite, muro de Roger Waters vira relíquia para fãs em show no Rio

Roger Waters homenageia Jean Charles de Menezes em show no Rio de Janeiro (29/3/12) - Ricardo Cassiano/UOL
Roger Waters homenageia Jean Charles de Menezes em show no Rio de Janeiro (29/3/12) Imagem: Ricardo Cassiano/UOL

Maria Martha Bruno

Do UOL, no Rio

30/03/2012 08h17

A chuva prometida para a noite não caiu e, sem imprevistos, Roger Waters fez sua segunda apresentação no Brasil na noite desta quinta-feira (29) no Estádio do Engenhão, Zona Norte do Rio. Com meia hora de atraso e o espaço quase lotado, o ex-baixista do Pink Floyd subiu no palco às 21h30 para uma apresentação de pouco mais de duas horas, que terminou com partes do muro, a grande estrela da noite ao lado de Waters, carregadas por fãs, como se fossem verdadeiros troféus. Se em 1979, quando compôs o disco “The Wall”, o muro era um simbolismo para questões pessoais de Waters, como o divórcio, a educação rígida e o pai ausente, morto na Segunda Guerra Mundial, mais de 30 anos depois a imagem foi reconstruída por ele e pelos fãs.

No conceito do show, o cenário ainda exibe imagens do filme “The Wall” (dirigido por Alan Parker em 1982), mas também mensagens políticas, que, segundo o músico, evidenciam outros muros construídos pela sociedade, como o do consumo e da desinformação. Após o fim do espetáculo, ao conseguir alguns tijolos com roadies da produção, partes do muro de Waters viraram relíquias para alguns fãs.

Os amigos Rafael Mullin, de 22 anos, e Daniel Gaspar, também de 22, se esforçavam para carregar juntos uma das peças. Apesar da dificuldade em saber como vão dividir o tijolo, os dois saíram eufóricos do Engenhão. “É uma ‘tralha’ por causa do tamanho, mas é também uma relíquia. Ainda não sabemos como vamos dividir, mas vamos dar um jeito. É incrível poder levar isso”, disse Daniel. Ao contrário dos amigos, o guitarrista Diego Franco, de 30 anos, só conseguiu um pequeno pedaço de um tijolo, mas se deu por satisfeito com o que considerou uma conquista: “É indescritível. É mais que um souvenir. Vou emoldurar e colocar em casa”. Os tijolos distribuídos são feitos de um material semelhante ao papelão e são parte daqueles que vêm abaixo na penúltima música do show, “The Trial”. O restante permanece no palco.


O show desta quinta seguiu praticamente o mesmo script da apresentação de domingo (25) em Porto Alegre (RS), que por sua vez não mudou muito em relação ao resto da turnê. Assim como no Sul, em português, Waters dedicou o show a Jean Charles de Menezes e sua família, e “a todas as vítimas do terrorismo de Estado no mundo”. Jean Charles foi morto pela polícia londrina no metrô da cidade em 2005, ao ser confundido com um terrorista. Na quarta-feira, o ex-baixista do Pink Floyd havia anunciado que ensaiaria apenas poucas horas antes do show o coro de “Another Brick In The Wall - Pt 2” com crianças da favela da Rocinha, Zona Sul do Rio, na expectativa de que aprendessem rápido. Os 13 jovens da Escola de Música da comunidade deram conta do recado e receberam um agradecimento de Waters ao fim da canção.

Além desses dois momentos, o baixista só se dirigiu à plateia ao fim da apresentação, quando agradeceu ao que chamou de “público magnífico” e apresentou sua banda, e antes de “Mother”, ao explicar, já em inglês, que faria um dueto com ele próprio mais jovem, projetado no telão em imagens de um show em Londres, em 1980. Ainda antes de “Mother”, após tocar um acorde no violão, ele foi gentilmente interrompido por um aplauso uníssono e inesperado que ecoou em todo o estádio.

Embora muitos já conhecessem o show e o roteiro apresentasse poucas variações, o público respondeu extasiado aos vários efeitos visuais que pontuam todo o espetáculo, com destaque para o avião que se choca contra o muro em “In The Flesh?”, a primeira música, o porco que sobrevoa a pista com mensagens políticas contra o Estado (uma delas, “porcos fardados”, em referência à polícia) e as projeções dos desenhos de Gerald Scarfe, originais do filme “The Wall”. Além disso, os fãs não fizeram coro apenas para músicas mais conhecidas, como “Another Brick In The Wall - Pt 2” e “Comfortbly Numb”, mas também para canções como “Nobody Home”, “Empty Spaces” e “Hey You”.

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Desorganização faz família perder parte do show
Como nos shows de Paul McCartney ano passado, a apresentação de Roger Waters reuniu várias gerações. O comerciante mineiro Guilherme Castro, 50, saiu de Belo Horizonte para dividir a experiência musical com as filhas Débora e Mayara de Abreu e Castro, 21 e 22 anos.

O show teria sido perfeito para os três se um problema com a produção e a empresa que comercializa os ingressos não lhes tivesse roubado 30 minutos da apresentação e causado muita dor de cabeça antes da entrada. A família decidiu retirar dois dos três ingressos na bilheteria, para, segundo Débora, não pagar a “taxa de inconveniência” da Tickets For Fun.

No entanto, eles não escaparam do aborrecimento. Depois de ficar duas horas na fila para buscar os bilhetes, ouviram no guichê que só poderiam fazê-lo nas catracas de entrada, com seus documentos de identidade. Ao se dirigir ao local, funcionários lhes disseram para voltar à fila da bilheteria, pois só ali poderiam pegar seus ingressos. Guilherme conta que só conseguiu resolver o problema após chamar uma pessoa da produção e um Policial Militar. Entretanto, quando entraram no estádio, a apresentação já havia começado há meia hora. “Isso porque o Roger Waters atrasou. Se ele tivesse entrado na hora teríamos perdido a metade do show”, afirmou Débora.