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Hit apadrinhado por Neymar briga para ser novo "Ai Se Eu Te Pego" da música sertaneja com repetições e onomatopeias

A dupla João Lucas e Marcelo em gravação do clipe da música em balada de Goiânia  - Divulgação
A dupla João Lucas e Marcelo em gravação do clipe da música em balada de Goiânia Imagem: Divulgação

Thays Almendra

Do UOL, em São Paulo

31/03/2012 07h05

Após o sucesso de  "Ai Se Eu Te Pego", de Michel Teló, agora é a vez de "Eu Quero Tchu, Eu Quero Tcha", da dupla João Lucas e Marcelo, brigar pelo posto de hit do momento. A música estourou na internet após o jogador Neymar, do Santos, dançá-la em comemoração ao seu 100º gol feito com a camisa do time. Em pouco mais de um mês, o clipe oficial conquistou quatro milhões de visualizações no YouTube.

A letra, de Shylton Fernandes, da banda Forró Safado, despertou a atenção de João Lucas e Marcelo, que viram nela potencial para fazer sucesso no circuito sertanejo. "Descobrimos a música na internet. Eu achei muito legal, tem um ritmo diferente. Pensei: ‘vamos gravar, mudar algumas coisas e fazer uma pegada de arrocha com um pouco de funk’. É isso que o povo quer ouvir", conta Marcelo.

Se a estratégia para regravar o hit foi boa, ela se tornou ainda melhor quando a sorte bateu à porta da dupla e Neymar resolveu criar uma coreografia para a faixa. Com um simples levantar de mãos e uma reboladinha, "Tchu, Tcha" virou referência nos campos e fora deles.

Repetições que não acabam

Mesmo sendo fanáticos pelo sertanejo de raiz, João Lucas e Marcelo resolveram se adaptar à nova moda e focar em músicas com letras menos chorosas. De acordo com Marcelo, que também é compositor, o sertanejo evoluiu e agora é o hit da balada, da "pegação": "No sertanejo atual, me baseio na balada porque é isso que o público jovem quer. O que eles querem é aquela ‘pegação’, estar com os amigos."

Além disso, os músicos citam as letras fáceis e repetições para fazer a cabeça dos "sertanejeiros". Com as onomatopeias "tchu" e "tcha", que se repetem 224 vezes na música, a aposta da dupla é que o hit se torne chiclete no ouvido de quem curte o som.

'Ai se eu te pego', por exemplo, tem menos elementos, é mais fácil a aceitação e mais ainda a fixação no cérebro

Alexandre Bortoletto, instrutor da Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística

"Essas repetições entram na cabeça e fixam. As pessoas têm mais facilidade de decorar. Às vezes, você ouve a música uma vez e já decora. Logo está cantando de novo”, explica Marcelo.

De acordo com Alexandre Bortoletto, instrutor da Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística, que estuda a elaboração cerebral da linguagem, essa repetição musical é apelidada de "vírus de ouvido". "O cérebro humano aprende através de repetições. Quanto menos elementos, mais fácil fixar na cabeça de alguém. Se você treina o seu ouvido para ouvir sertanejo com onomatopeias e repetições, o seu cérebro identifica quando esse som for captado."

Bortoletto contou, em entrevista ao UOL, que as repetições não são características somente de sertanejos, axés, forrós, e estão também na música erudita, como nas composições do alemão Ludwig van Beethoven.  

Para o produtor musical Rick Bonadio, conhecido pelo trabalho com bandas como CPM 22, Mamonas Assassinas e NX Zero, as onomatopeias e repetições funcionam para o público cantar junto. "Isso existe há muito tempo, é como os famosos ‘la la iás’ e ‘oh oh ohs’ que temos no samba e na MPB."


Nem tudo é repetição... 

Quem não se lembra de hits como "Melô do Tchan", do Gerasamba, ou "Dig-Dig-Joy", da dupla Sandy e Júnior? As repetições compõem boa parte dessas músicas que, nos anos 1990, fizeram muito sucesso no Brasil (confira no infográfico acima). Há quem diga que essas faixas só conquistaram as paradas por ser mais um "vírus de ouvido", mas Bonadio argumenta que a letras fácil não é o único elemento que sustenta um sucesso musical.

O produtor diz que para ter destaque, é preciso muito mais do que onomatopeias. "Não é apenas um ‘tchu ru ru’ que vai fazer sucesso. Uma melodia tem que ter certa magia, e pegar as pessoas de jeito. É claro que também vai do fato de quem está cantando dar o recado e conseguir vender a música bem para os ouvidos do público."

Bortoletto continua, e diz que não existe música ruim. "O que há é que em determinados momentos ela é boa para você", conclui o instrutor.