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Dave Grohl ignora problemas na voz e Foo Fighters entrega raridades em show no Lollapalooza Brasil

Dave Grohl, vocalista do Foo Fighters, se apresenta no Lollapalooza, em São Paulo - Shin Shikuma/UOL
Dave Grohl, vocalista do Foo Fighters, se apresenta no Lollapalooza, em São Paulo Imagem: Shin Shikuma/UOL

Mariana Tramontina

Do UOL, em São Paulo

07/04/2012 23h37

Dave Grohl parece obstinado em mostrar que houve certo exagero na preocupação sobre seu problema nas cordas vocais. Atração principal do Lollapalooza Brasil neste sábado (7), o vocalista do Foo Fighters subiu sem melindres ao palco montado no Jockey Club de São Paulo e não poupou esforços durante quase toda as 2h35 de show --e algumas pausas para conversas e fanfarrices. Gritou aparentemente sem motivo, apenas por gritar, como se protestasse contra quem disse que ele já não é mais aquele mesmo de 20 anos atrás.

De fato, Dave Grohl não é mais aquele mesmo. Por pouco. Sua extensão vocal está realmente menos afiada, muito por culpa do cisto que ele revelou ter na garganta há alguns anos. Em certos momentos do show, falhou ao cantar trechos que pedem força, como em "Walk" e "Best of You", mas por outro lado não faltou vigor em diversos números que também exigem potência, como "White Limo" e "Stacked Actors". Há problemas na voz, mas nem tanto assim.

Grohl deu uma folga para sua voz somente quando resolveu relembrar os tempos de baterista. Depois que o vocalista apresentou os integrantes da banda, o baterista Taylor Hawkins convocou-o a ocupar seu lugar para tocar "Cold Day in the Sun". Hawkins ainda brincou: "A razão de eu poder vir para a América do Sul é que esse cara escreve músicas incríveis. Dave, eu sou rico por sua causa!".

De volta ao Brasil após 11 anos, e pela primeira vez em São Paulo, o Foo Fighters trouxe na bagagem 26 músicas, entre elas raridades nesta turnê do álbum "Wasting Light". Faixas como "Enough Space" (do segundo disco, "The Colour and the Shape", de 1997), "For All the Cows" e o megahit "Big Me" (ambas do disco de estreia "Foo Fighters", de 1995) apareceram menos de 15 vezes nos shows desde o início da excursão, que começou no final de 2010. 

E ainda que a participação da veterana Joan Jett já esteja previsível nos últimos shows do Foo Fighters, quando ela aparece no bis para cantar com a banda seu sucesso "Bad Reputation", foi somente no Brasil que o público ganhou uma amostra a mais: o super hit "I Love Rock And Roll". Também entraram no roteiro as já conhecidas versões para "In the Flesh?", clássico do Pink Floyd que Roger Waters trouxe ao Brasil na semana passada em seu "The Wall - Live", e de "Feel Good Hit of the Summer", do Queens of The Stone Age.

Dave Grohl trouxe seu Foo Fighters ao Brasil em uma das melhores fases da banda. O disco "Wasting Light", lançado no ano passado, segue sua história bem sucedido nas paradas, depois de levar quatro prêmios no Grammy. O carismático Dave Grohl espalha pelo mundo o título de "o cara mais legal do rock", ao lado de grandes músicos sempre bem humorados que compõem sua banda. O novo show, um dos mais aguardados no país, é também a principal apresentação na agenda do rock and roll de guitarras.


Shows no primeiro dia de Lollapalooza
O primeiro dia do Lollapalooza Brasil --que recebeu cerca de 70 mil pessoas, segundo a organização-- começou antes do previsto. Os portões foram abertos ao público por volta das 10h e quem estava no Jockey Club pôde ver com exclusividade à uma apresentação acústica surpresa do Band of Horses. A banda de Seattle, que se apresentou mais tarde em um dos palcos principais, tocou por 20 minutos para uma plateia de 50 pessoas sob um sol escaldante.

A programação musical oficial começou pontualmente ao meio-dia com o Ritmo Machine, banda que tem em sua formação o percussionista do Cypress Hill, Eric Bobo. Entre as atrações nacionais, Wander Wildner mostrou seu punk brega a um público pequeno, porém receptivo, que foi embalado pelas músicas "Bebendo Vinho" e "Eu Não consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro ", e pelas brincadeiras em espanhol do músico.

Marcelo Nova resgatou o bom e velho rock and roll. "Este é um som que está em extinção", disse o cantor. Tocando ao lado do filho Drake Nova, "oriundo de meus testículos", ele mostrou sucessos do Camisa de Vênus como "Eu Não Matei Joana D'Arc", e apresentou "Pastor João e a Igreja Invisível", conhecida na voz do amigo e parceiro musical Raul Seixas.

O Rappa surpreendeu ao convidar as "raparigas", que enfeitaram algumas músicas com seus violinos e violoncelos. O momento de comoção do p{ublico foi o cover de "Killing in the Name", do Rage Against the Machine. "Esse é um bom nome para tocar aqui", sugeriu Falcão. No repertorio não faltaram os hits do Rappa como "Me Deixa" e "Minha Alma". 

Enquanto caía a noite no Jockey Club, o TV On the Radio iluminava o público A banda nova-iorquina foi a primeira a usufruir dos jogos de luzes do palco principal ao levar para a plateia sua mistura de pós-punk, eletrônica e elementos climáticos com vocais soul. De volta ao Brasil, onde tocou em 2006 no extinto Tim Festival, mostrou o show do álbum "Nine Types of Light", além do hit inesquecível "Wolf Like Me", ponto alto da apresentação.

Uma das atrações mais novas e aguardadas, o Cage the Elephant chegou ao Lollapalooza Brasil na sombra do Foo Fighters, com quem saiu em turnê no ano passado e já teve a participação de Dave Grohl na bateria em um show --Dave, inclusive, assistiu metade da apresentação na lateral do palco. A banda investiu em seu garage rock e em uma das apresentações mais enérgicas do dia. O vocalista Matthew Shultz, frequentemente comparado a uma versão mirim de Kurt Cobain, começou e terminou o show no meio do público.

Pela primeira vez no Brasil, a banda do Kentucky ouviu boa parte do público cantar suas canções, como "Aberdeen" (um tributo ao Nirvana), "Shake Me Down" e "Indy Kidz". O grupo precisou tirar três músicas da programação porque o baterista passou mal novamente. Mas dessa vez, Dave Grohl não assumiu as baquetas.
 
Com uma roupa colada vermelha e um rosto que mal denuncia sua idade (53 anos), Joan Jett reinou como musa do Lollapalooza em um show animado e consistente. Mascando chiclete e com jeito simpático e extrovertido, ela convenceu nos hits que ainda brilha. Joan convocou um "solo de palmas" antes de "I Hate Myself for Loving You", fez meninas relembrarem "Crimson and Clover" e no grande e muito regravado sucesso "I Love Rock'n'Roll", aproveitou para dar uma reboladinha enquanto deixava o publico cantar.
 
As estruturas do festival
Há 20 anos em atividade nos Estados Unidos, o festival atravessou as fronteiras para desembarcar pela primeira vez no Brasil. O primeiro de dois dias de evento foi marcado pelo sol forte que bateu na zona oeste da capital paulista, onde fica o Jockey Club.
 
O Lollapalooza surpreendeu pela pontualidade desde a abertura dos portões até o início dos shows de suas mais de 20 atrações. Quem chegou mais cedo ao festival também enfrentou pouco trânsito no entorno do local e pegou poucas filas tanto para entrar quanto para comprar fichas de alimentos e bebidas.
 
No entanto, conforme aproximava-se o horário dos shows principais, o público começava a lotar o Jockey Club e filas quilométricas passaram a se formar em todos os caixas. As pessoas chegavam a esperar até 40 minutos.
 
A saída do festival também foi tranquila para quem saiu antes do encerramento do show do Foo Fighters. Quem esperou pelos últimos acordes, por outro lado, sofreu com a falta de estrutura. Ausência de táxis e de transporte público acumulou grande parte do público nas ruas.