No Recife, Los Hermanos volta aos palcos com devoção de público e mostra que suas músicas têm vida própria

Voa mais, que o bloco da família vai atrás. A frase de "Além do Que Se Vê", música que abriu o primeiro show do Los Hermanos de uma turnê comemorativa da banda, ainda resume a legião de fãs do grupo. Em recesso desde 2007, mas com alguns poucos shows neste intervalo, o Los Hermanos ouviu na noite desta sexta-feira (20) suas composições com devoção na voz de cerca de 15 mil pessoas --segundo a produção-- que foram à abertura do Festival Abril Pro Rock, no Recife.

 

A celebração no festival pernambucano vai de encontro com um fato marcante na carreira da banda: foi no mesmo evento, em 1999, que o grupo de Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Bruno Medina e Rodrigo Barba despontou para o público brasileiro, impulsionado pelo hit --hoje renegado-- "Anna Julia". "Vão assistir às bandas novas que vão tocar no sábado e domingo. Em 1999 éramos nós que estávamos lá", recomendou um saudoso Amarante.

 

Ao longo de mais de duas horas, após um atraso de 50 minutos, foram quase 30 músicas. Pelo menos uma de cada disco da banda passou pelo show, incluindo duas faixas da carreira solo de Camelo, "Mais Tarde" e "Acostumar". Amarante também liderou os vocais de duas novas músicas --uma com jeito de "Bloco do Eu Sozinho" e outra mais densa e cheia de guitarras, que podem entrar no álbum solo que o músico deve lançar ainda este ano.

 

 

No palco, o Los Hermanos continua econômico em suas expressões, se comunicando pouco com o público mas mostrando entusiasmo em estar ali. Em cena, falta entrosamento entre os hermanos. Falta química na relação e intimidade no palco. "A gente se ama muito", contraria Marcelo Camelo durante uma pausa no show. Mas esse amor incondicional parece inseguro depois de cinco anos de um "tempo" dessa união.

 

A sorte é que o público está do lado da banda. A plateia --com máscaras com o rosto de cada integrante, entregue por um patrocinador do evento-- comove quem vê sua recepção calorosa a cada música, sempre com braços ao alto, cantando frase por frase. Quando Bruno Medina entrou no palco, no início do show, com uma câmera apontada para o público aparentemente filmando a reação inicial da plateia ao reencontrar os hermanos, ele parecia saber que aquele era um momento histórico.

 

As canções da banda já têm vida própria. Mais do que a presença do quarteto em cena, o que vale mesmo são os sucessos consagrados, como "O Vencedor", "Cara Estranho", "Todo Carnaval Tem Seu Fim", "Sentimental" ou "A Flor". Ainda que a banda erre uma nota ou uma entrada, nada atrapalha o andamento da apresentação, tudo funciona e a plateia segue celebrando. À 1h50 da manhã, próximo ao encerramento do show, ainda havia rodas de pogo empolgadas quando a banda trouxe, no bis, "Pierrot", um hardcore do primeiro disco. Ali a banda poderia atestar que a turnê com mais de 15 shows programados será bem-vinda.

 

A excursão é comemorativa pelos 15 anos de formação da banda. Depois do Recife, o grupo viaja para Fortaleza. Ainda há shows por Manaus, Belém, Brasília, Salvador, Porto Alegre e Curitiba. Só em São Paulo serão quatro apresentações no Espaço das Américas, e no Rio, seis na Fundição Progresso, todas com ingressos esgotados. Junto com os quatro músicos sobem ao palco Gabriel Bubu (baixo), Bubu (trompete), Índio (saxofone barítono) e Mauro Zacharias (trombone).

 

Além dos Los Hermanos, o Abril Pro Rock teve nesta sexta-feira os curitibanos d'A Banda Mais Bonita da Cidade com sua sorridente e lúdica vocalista Uyara e o hit instântaneo "Oração"; o pernambucano Tibério Azul, com participação de Vítor Araújo; e os catarinenses do Somato, ganhadores de um concurso patrocinado. No sábado, em uma noite dedicada ao rock pesado, estarão Exodus e Brujeria, entre outros. O domingo encerra com Nada Surf, Buraka Som Sistema e Mundo Livre S/A, entre outros destaques.

 

Veja vídeo do público para a música "Pierrot":

 

O repertório do Los Hermanos no Recife foi na seguinte ordem:

 

"Além do Que Se Vê"

"O Vencedor"

"Retrato Para Iaiá"

"Todo Carnaval Tem Seu Fim"

"O Vento"

"A Outra"

"Morena"

"Primeiro Andar"

"Mais Tarde" (solo de Marcelo Camelo)

"Do Sétimo Andar"

"Um Par"

"Sentimental"

"Cadê Teu Suin"

"Acostumar" (solo de Marcelo Camelo)

"A Flor"

"Cara Estranho"

"Condicional"

"Deixa o Verão"

(sem título, música inédita de Rodrigo Amarante)

"Pois É"

"O Velho e o Moço"

"Conversa de Botas Batidas"

"Último Romance"

 

bis

(sem título, música inédita de Rodrigo Amarante)

"Casa Pré-Fabricada"

"Quem Sabe"

"Tenha Dó"

"Descoberta"

"Pierrot"