Topo

Entre fãs e dispersos, Paul McCartney vai ao Recife pela primeira vez e mostra músicas inéditas no Brasil

Paul McCartney se apresenta em Recife (21/4/2012) - Edmar Melo/UOL
Paul McCartney se apresenta em Recife (21/4/2012) Imagem: Edmar Melo/UOL

Mariana Tramontina

Do UOL, no Recife

22/04/2012 02h01

Foi o fim de uma longa espera. Quando "Magical Mystery Tour", um clássico de 1967 dos Beatles, rasgou a noite do Recife às 21h35 deste sábado (21), Paul McCartney encontrava-se pela primeira vez com o nordeste brasileiro. Alguns aguardavam o ex-beatle desde sua passagem por São Paulo, em 2010. Outros alimentavam por quase uma vida inteira o sonho de ver de perto o eterno baixista dos Beatles.
 
"Estou esperando há 50 anos para ver Paul McCartney de perto", disse o padre Rafael Queiroz, 60. "Já tive outras chances de ir a um show dele, mas nunca pude. Agora é minha última chance. Hoje é um dia de festa para mim", completou ele. E foi festa para grande parte das cerca de 40 mil pessoas --segundo a produção-- que esgotaram os ingressos no estádio do Arruda. Outra parcela, especialmente na pista premium, não se importou tanto assim com quem estava no palco.
 
A plateia do primeiro de dois shows só em Recife era dividida entre fãs dedicados e curiosos de plantão. O primeiro grupo trouxe pessoas locais e de outros estados (Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas, Rio ou São Paulo), que dormiram na fila ou que conheciam toda a discografia de Beatles e de Paul McCartney. No segundo, estavam pessoas dispersas que preferiam conversar e que mal olhavam para o palco. "A gente vem aqui para ver o show e tem gente que acha que está na casa mãe Joana", aborreceu-se a estudante Carla Leme, 23, de Olinda.
 
Para os dois tipos de público, Paul trouxe ao país a turnê "On The Run", uma espécie de desdobramento da excursão "Up and Coming", que passou por São Paulo e Porto Alegre em 2010 e pelo Rio em 2011. Em ambas turnês, Paul faz durante 2h30 uma retrospectiva de sua trajetória em mais de 30 canções, desde a época dos Beatles, passando por sua carreira solo e seus projetos Wings e The Fireman. 
 

Roteiro à risca
Quem assistiu ou leu sobre os últimos shows de Paul no país vai recordar o repertório, que sofre poucas alterações em sua continuidade. A principal mudança está na apresentação de músicas nunca tocadas no Brasil: "The Night Before", segunda faixa do disco "Help!" (1965), e a tríade "Golden Slumbers", "Carry That Weight" e "The End", sequência pinçada do álbum "Abbey Road" (1969), fizeram as honras.
 
"My Valentine", tirada do último álbum solo do ex-Beatle, também foi mostrada ao público brasileiro pela primeira vez. "Essa música eu escrevi para minha belíssima esposa, Nancy", disse Paul. A canção, que foi gravada com Eric Clapton, integra o disco "Kisses on the Bottom", que Paul lançou em fevereiro deste ano com regravações de standards dos anos 50 em estilo jazzy/retrô. Depois da música, Paul relembrou "Maybe I'm Amazed". "Esta eu escrevi para você, Linda", ele dedicou à ex-mulher.
 
Neste show, perfeitamente cronometrado e ensaiado, a plateia também reconhece frases como "hoje vou falar um pouquinho de português, mas vou falar mais inglês". Ou quando ele dedica canções às pessoas que fizeram parte de sua vida. Em "Here Today", ele conta que escreveu para "meu parceiro John" e pede aplausos. A frase é adaptada para George, ao tocar "Something" no ukulele e abrir os braços quando a foto do ex-companheiro de banda aparece no telão ao fundo do palco.
 
Paul brinca com a plateia, finge que está surdo com o barulho de explosões e fogos de artifício em "Live and Let Die", puxa coros em "Ob-La-Di, Ob-La-Da", arrisca dancinhas desajeitadas e faz exibições vocais, ainda que não exponha mais, aos quase 70 anos de idade, suas melhores performances. No início da apresentação, visivelmente incomodado com o calor que não está acostumado --os termômetros registravam 27ºC na cidade durante a noite, Paul parecia rouco e manifestando certo esforço para cantar, mas que foi superado ao longo do show.
 
O ex-beatle transita entre um instrumento e outro (do baixo para a guitarra para o piano para o bandolim para o ukulele), e a competente banda que o acompanha --Rusty Anderson (guitarra), Brian Ray (guitarra e baixo), Paul "Wix" Wickens (teclados) e Abe Laboriel Jr. (bateria)-- está ali para servi-lo, sem excessos nem virtuosismos gratuitos. 
 
Paul ainda entregou toda sua simpatia a cinco mulheres que subiram ao palco para conhecê-lo, escolhidas por meio de uma promoção do programa "Fantástico", levantou a bandeira de Pernambuco no bis e chamou a plateia de "povo arretado", levando ao êxtase os "recifianos", como ele também os nomeou.
 
Este foi o primeiro de três shows de Paul no Brasil. No domingo (22), ele volta a se apresentar na capital pernambucana, no Estádio do Arruda, e na quinta-feira (25) o músico toca em Florianópolis, no estádio da Ressacada. A curta turnê no Brasil tem explicação. Nos últimos anos, a duração de seus shows foram reduzidas por causa da guarda compartilhada que ele tem da filha Beatrice, de 8 anos.
 
Os shows de Paul no Recife chamaram fãs de outros estados do Nordeste. Segundo a produtoraa turnê, 51% dos ingressos foram vendidos em Pernambuco e o restante ficou dividido entre os estados mais próximos: 12% para a Paraíba, 8% para o Rio Grande do Norte; 7% para o Ceará e 7% para o Alagoas. Fãs de São Paulo e do Rio de Janeiro corresponderam a 4% dos ingressos vendidos. 
 
A última apresentação do ex-beatle no Brasil foi em maio de 2011, no Rio de Janeiro. Ele retornou 21 anos depois de se apresentar pela primeira vez no país, na mesma cidade. Antes, com a mesma turnê, ele já havia passado por São Paulo e Porto Alegre.
 
Veja o que Paul McCartney tocou no primeiro show no Recife:
 
"Magical Mystery Tour" (The Beatles)
"Junior's Farm" (The Wings)
"All My Loving" (The Beatles)
"Jet" (The Wings)
"Got to Get You into My Life" (The Beatles)
"Sing the Changes" (The Fireman)
"The Night Before" (The Beatles)
"Let Me Roll It" (The Wings)
"Paperback Writer" (The Beatles)
"The Long and Winding Road" (The Beatles)
"Nineteen Hundred and Eighty-Five" (The Wings)
"My Valentine" 
"Maybe I'm Amazed" 
"Things We Said Today" (The Beatles)
"And I Love Her" (The Beatles)
"Blackbird" (The Beatles)
"Here Today" 
"Dance Tonight" 
"Mrs. Vandebilt" (The Wings)
"Eleanor Rigby" (The Beatles)
"Something" (The Beatles)
"Band on the Run" (The Wings)
trecho de "Yellow Submarine"
"Ob-La-Di, Ob-La-Da" (The Beatles)
"Back in the U.S.S.R." (The Beatles)
"I've Got a Feeling" (The Beatles)
"A Day in the Life" com "Give Peace a Chance" (The Beatles)
"Let It Be" (The Beatles)
"Live and Let Die" (The Wings)
"Hey Jude" (The Beatles)
 
bis
"Lady Madonna" (The Beatles)
"Day Tripper" (The Beatles)
"Get Back" (The Beatles)
 
bis 2:
"Yesterday" (The Beatles)
"Helter Skelter" (The Beatles)
"Golden Slumbers" (The Beatles)
"Carry That Weight" (The Beatles)
"The End" (The Beatles)
 

PAUL MCCARTNEY EM RECIFE
Quando: 22 de abril
Onde: Estádio José do Rego Maciel (Arruda)
Quanto: R$ 600 (pista premium), R$ 260 (gramado), R$ 340 (cadeiras), R$ 180 (arquibancada superior). Há meia entrada
Ingressos: www.zetks.com.br

PAUL MCCARTNEY EM FLORIANÓPOLIS
Quando: 25 de abril
Onde: Estádio da Ressacada
Quanto: R$ 760 (gramado premium), R$ 350 (gramado), R$ 380 (cadeiras cobertas gold), R$ 280 (cadeiras descobertas). Há opção de meia-entrada, apenas para venda do público geral.
Ingressos: www.zetks.com.br