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Metal Open Air é cancelado por organizadores do festival

Homem leva mãos à cabeça ao ver palco do MOA ser desmontado por organização (22/4/12) - Honório Moreira/UOL
Homem leva mãos à cabeça ao ver palco do MOA ser desmontado por organização (22/4/12) Imagem: Honório Moreira/UOL

Estefani Medeiros e Marcus Vinícius Brasil*

do UOL, em São Luís (MA)

22/04/2012 09h46Atualizada em 22/04/2012 14h46

Após a desistência de mais de 20 bandas e muitos problemas de estrutura, o Festival Metal Open Air foi definitivamente cancelado pelos organizadores do evento na manhã deste domingo (22). A informação foi confirmada ao UOL por Natanael Jr., dono da produtora Lamparina, uma das realizadoras do festival. "Não tinha como continuar depois do clima de ontem", afirmou.

A outra produtora do evento, Negri Concerts, também confirmou o fim antecipado do festival. "Uma pena. É a única coisa que consigo dizer. Estou chocado com tudo isso", disse Felipe Negri, que também explicou que algumas bandas haviam sido convencidas a subir ao palco neste domingo. "Mas os fornecedores de som não foram pagos e eles já desmontaram e levaram todo o equipamento embora", disse. Natanael nega e diz que todos os fornecedores foram pagos.

A produtora Lamparina divulgou ainda um comunicado oficial sobre o cancelamento do evento. "A Lamparina Produções lamenta profundamente e anuncia o cancelamento do terceiro dia de shows do Metal Open Air. No entanto,  afirma que os problemas causadores da interrupção do evento não são somente de sua responsabilidade".

Produtora divulga comunicado

A produtora Lamparina, responsável pela realização do Metal Open Air, divulgou neste domingo (22) comunicado oficial sobre o cancelamento do último dia do festival, realizado em São Luís, no Maranhão.

Reportagem do UOL no local apurou que os espectadores do evento estão deixando o local sem causar confusão. Muitos também fizeram um abaixo assinado para mostrar a indignação coletiva em relação a desorganização do evento.

Muitos fãs do metal, no entanto, ainda devem passar mais uma noite acampados no local por não terem conseguido remarcar suas passagens de volta. Vinicius Laurindo é um deles. Saiu de João Pessoa só para ver o festival e após saber do cancelamento do evento pela imprensa, tentou mudar sua passagem aérea para a tarde deste domingo, mas teria que desembolsar R$ 500 a mais. Ele ainda contou que  procurou hospedagem na região, mas quando há vagas, os valores da diária são muito altos.

Sem segurança privada, os fãs que decidirem passar a noite no acampamento serão protegidos por um contigente reduzido da Polícia Militar, menos de 20 homens. Alguns grupos, segundo contou Alan Carvalho, estão se unindo para ocupar um único alojamento para se proteger de possíveis roubos. Além de segurança precária, os acampados enfrentam outras dificuldades, como falta de banheiro e de locais de venda de alimentos. Alan ainda disse que o show do Korzus, realizado no sábado (21), evitou uma tragédia. "As pessoas gostaram e isso desviou um pouco a atenção dos problemas para a música". Alan ainda afirmou que os fãs de rock são rotulados como baderneiros, mas que a maioria está optando por uma saída judicial.

Natanael também se defendeu das acusações de agressão feitas por Felipe Negri neste sábado (21). "Eu não o agredi. Eu só bloqueei o carro dele porque ele estava querendo fugir do local das apresentações. Ele também era um dos organizadores, tinha que estar lá para assumir e fazer acontecer os shows das bandas que queriam subir no palco", disse.

O dono da Lamparina disse que não há possibilidade de recomeço dos shows neste domingo. "O palco já está desmontado e os equipamentos de som já foram levados embora". Ele ainda afirmou que não sabe como vai fazer para ressarcir o público do evento. "O prejuízo é enorme. Vou tomar uma série de medidas legais para depois ver o que posso fazer".

Tanto Natanael quando Felipe disseram estar preocupados com a segurança das pessoas que ainda permanecem acampadas ou na espera por shows. "Estamos com uma equipe lá para dar assistência às pessoas acampadas", disse Natanael.
 

Preços do Metal Open Air

RS$ 250 (pista por dia)
RS$ 450 (camarote por dia)
RS$ 450 (passaporte pista)
RS$ 850 (camarote + MG Area)
Passaporte camping: RS$ 100 por pessoa
Passaporte El Diablo: RS$ 75 por pessoa ou RS$ 35 por dia.

O cenário na noite deste sábado (21) era desolador para quem pagou pelo ingresso do festival Metal Open Air, em São Luís, no Maranhão. Depois do show da banda brasileira Korzus, último numa noite que teve 9 das 13 apresentações canceladas, a produção responsável pelo evento começou a desmontar o equipamento de som do único palco que ainda funcionava.

Mesmo com a chance remota dos shows prosseguirem, muitos fãs ainda alimentavam neste sábado a esperança de assistir a algum dos shows prometidos deste domingo. 

“É muita sacanagem eles não virem avisar a gente de nada. Não sabemos o que está acontecendo, estamos indignados”, diz o maranhense Cícero Luis.

Após sete horas de atraso e uma ameaça real de cancelamento definitivo do evento, o primeiro show do segundo dia do Metal Open Air só começou por volta das 18h, com a banda maranhense Àcido. Na sequência, foi a vez de Dark Avenger, Legion of the Damned e, finalmente, os veteranos do metal brasileiro do Korzus, que encerraram o evento pouco após a meia-noite.

Problemas do festival
Apesar de um começo razoavelmente recompensador para quem viu ao menos os shows de Megadeth e Anvil na primeira noite, o Metal Open Air vinha acumulando uma sequência de graves problemas na organização e estrutura desde horas antes de seu início.

Na quinta-feira, houve o anúncio do cancelamento de 3 shows. Marcado para começar às 10h da manhã de sexta, o Metal Open Air só viu seu primeiro show às 15h, horário em que entraram os canadenses do Exciter – no mesmo dia, fãs já reclamavam de precariedades, incluindo a área de camping, montada em um estábulo de cavalos usado em feiras agropecuárias.

Parte da estrutura passou o dia desmontada, e um dos palcos prometidos simplesmente não funcionou. Não havia caixas eletrônicos, garantidos pelo material de divulgação, e a praça de alimentação se resumia a poucas vendas em que faltava até água. Caminhões de abastecimento circulavam livres pela área do evento, oferecendo risco para quem passava.

Em entrevista ao UOL, organizadores admitiram problemas, como a falta de verbas para pagar as bandas, mas colocaram patrocinadores e o governo do Estado do Maranhão - que, horas depois, negou em nota oficial qualquer relação com o evento.

No início da tarde de sábado, o festival chegou a sofrer ameaça de cancelamento. Descontentes com a falta de pagamento, fornecedores de caixas de sons começaram a desligar os equipamentos que estavam no palco. Camarins também foram desmontados, enquanto o público ainda aguardava um possível início de shows debaixo de chuva.

  • Honorio Oliveira/UOL

    Banda Korzus se apresenta no segundo dia do Metal Open Air, em São Luís (21/04/12)

“A gente perdeu o Abril Pro Rock, que é um festival de que gostamos muito, acreditando que ia dar tudo certo aqui. Estamos tristes com os cancelamentos, hoje [sábado] queríamos ver pelo menos o Blind Guardian", afirmaram ao UOL os amigos Herico Hezion e José Everton, ambos da cidade de Patos, na Paraíba. Apesar dos problemas, os dois disseram que existem bons festivais no Nordeste e que isso não é desculpa para críticas. "Gastamos muita grana e ainda perdemos o outro festival”, lamentaram.

O gerente Maurício – que preferiu não dizer seu verdadeiro nome – viajou do Sul só para assistir ao festival. Acompanhado de Regina Natal, de Criciúma, em Santa Catarina, ele criticou os cancelamentos em cima da hora. “Todos nós viemos assistir ao Venom [que tocaria no domingo], faltei no trabalho para vir ontem e agora tudo isso. Avisaram o cancelamento em cima da hora, estou tentando adiantar meu voo de volta”, contou.

Maurício também comentou sobre o preço dos serviços no festival. “O preço dos serviços é outra coisa absurda. A gente pega um táxi e a cada hora é um preço diferente. O taxista roda sem taxímetro e cobra até 30 reais. Os ônibus que a organização prometeu não funcionam”, reclamou.

Quem também reclamou das condições do festival foi Joe Barzotto, de Porto Alegre. Ele disse que a situação no camping melhorou, mas que a chuva deixou toda a parte descoberta enlameada.

Repercussão internacional
Rock 'N Roll All-Stars, Blind Guardian, Anthrax, U.D.O., Ratos de Porão, Grave Digger, Obskure, Venom, Saxon, Unearthly, Expose Your Hate, Terra Prima, Shadowside, Hangar... A lista de nomes que cancelaram oficialmente sua participação no festival de metal maranhense já reúne pelo menos 15 das cerca de 40 atrações anunciadas originalmente para os três dias de evento.

Os motivos variam de falta de pagamento de cachê e passagens aéreas até o receio pela integridade física dos músicos e fãs. "Decidimos que é muito perigoso aparecer no festival. A produtora local não agiu de maneira profissional (...) e pedimos extrema cautela a qualquer um que esteja pensando em ir", escreveu o baixista do Kiss, Gene Simmons, em nota divulgada neste sábado em nome do Rock 'N Roll All-Stars.

"Entendemos que a produção não foi capaz de proporcionar um ambiente adequado para o festival", reforçou a banda alemã Blind Guardian em comunicado publicado em sua página no Facebook. Também em sua página na rede social, o Ratos de Porão disse que chegou a fazer check-in, mas que as passagens haviam sido canceladass por falta de pagamento. "Tentamos de todas as formas durante dois dias reverter a situação uma vez que nosso cachê estava pago, mas sem aéreas, fica impossível", informou o grupo do vocalista João Gordo.

Em um comentário no Facebook, a produtora Lamparina - uma das responsáveis pela realização do festival - admitiu que tem enfrentado "uma série de problemas estruturais, boicote e outros". A empresa prometeu dar mais explicações na segunda-feira.

*Com reportagem de Mariane Zendron, em São Paulo