Fãs do Metal Open Air estão sendo tratados como indigentes, diz promotora do Maranhão
Sem comida há quase 24 horas e sem banho há vários dias, cerca de 25 pessoas ainda estavam acampadas em um estábulo do Parque da Independência, em São Luís (MA), onde aconteceu o Metal Open Air. A informação foi dada na manhã desta segunda-feira (23) ao UOL pela promotora de defesa do consumidor do Maranhão, Lítia Cavalcanti. Após dois dias de problemas na organização e suspensão de mais de 20 shows, o festival foi cancelado na manhã do domingo (22).
O público que não pôde permanecer acampado no parque montou barracas na grama em frente ao aeroporto da capital maranhense. Um grupo de pelo menos 30 pessoas ficou nesta situação na manhã desta segunda-feira (23), e deve permanecer assim até a hora de ir embora em voos que sairão entre hoje e terça-feira (24).
As pessoas estão sendo tratadas como indigentes. O estábulo está cheio de baratas e carrapatos. Parece um campo de concentração.
Lítia Cavalcanti, promotora de defesa do consumidor do MaranhãoA promotora explicou que sua equipe conseguiu uma doação de um supermercado local para que essas pessoas, de vários estados do Brasil, pudessem almoçar e tomar lanche antes de pegar o avião de volta para casa. "A situação é muito séria. As pessoas estão sendo tratadas como indigentes aqui. O estábulo está cheio de baratas e carrapatos. Parece um campo de concentração", afirmou ela.
A promotoria do Estado, segundo Lítia, também teve de conseguir transporte para tirar as pessoas do acampamento e levá-las ao aeroporto, onde serão servidos o almoço e o lanche. "Alguns deles foram furtados na sexta-feira e estão sem condições de chegar ao aeroporto".
Lítia ainda contou que os responsáveis pela realização do show não estão dando qualquer suporte para os fãs do metal e nem foram localizados pelo Ministério Público. "Essas empresas acabaram com a imagem do Maranhão", afirmou ela.
Na tarde de hoje, a reportagem do UOL foi até o Parque da Independência e todos os fãs acampados já tinham sido retirados do local. Segundo um funcionário, o Ministério Público transportou as pessoas para o aeroporto.
Procurado pelo UOL, Natanael Jr., dono da Lamparina, umas das produtoras realizadoras do evento, defendeu-se das acusações e disse que disponibilizou uma equipe de seguranças para ficar no local. Em relação à falta de alimentos, ele afirmou que disponibilizou no sábado e domingo comida às pessoas furtadas, mas ninguém apareceu para pegar. "Alguns quiseram trocar por cerveja", disse ele. Natanael ainda disse que a produtora não tem obrigação de fornecer alimentos, por isso não voltou a oferecer nesta segunda.
Nos próximos dias, o Ministério Público vai finalizar um inquérito civil, que pode cancelar os registros das duas produtoras, a Lamparina e a Negri Concerts. "As duas [empresas] são responsáveis diretas pelo que aconteceu, e o inquérito pode fazer com que elas não consigam mais atuar no mercado".
Será formalizado também um inquérito policial e os responsáveis pelo festival podem responder por crimes contra relação de consumo, estelionato e formação de quadrilha.
Os donos das produtoras Lamparina e Negri Concerts, Natanael Jr. e Felipe Negri, trocaram muitas acusações durante o final de semana. Negri diz que Natanael foi responsável pelo fracasso do festival por não pagar fornecedores e bandas. Natanael disse que os consumidores foram pagos e acusa Negri de ter tentado fugir quando percebeu problemas no evento. O dono da Negri Concerts afirmou ainda que chegou a ser agredido por Natanael, que, por sua vez, negou a agressão.
Lítia ainda disse que nada impede que o consumidor entre com sua ação individual, pois as ações podem correr no paralelo. "O consumidor que se sentir lesado poderá entrar com uma ação no juizado civil de sua cidade". Para isso, o supervisor do Procon Maranhão, Bruno Leal, orientou neste domingo (22) que as pessoas mantenham os comprovantes de pagamento, notas de consumo, e procurem orientação de um advogado.
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