Kuduro encerra Abril Pro Rock no Recife, mas Otto é quem domina público nos 20 anos de festival
O relógio já marcava 2h da manhã desta segunda-feira (23) e o Buraka Som Sistema continuava no palco do Abril Pro Rock, no Recife. Cerca de 2.000 pessoas ainda dançavam até o chão ao som do kuduro angolano do grupo. Era um público resistente, que não debandou do evento com a maioria quando Otto encerrou seu show uma hora antes, dominando a plateia no último dia. O rock básico dos norte-americanos do Nada Surf ficou perdido na programação, numa noite de festa pernambucana para celebrar os 20 anos do festival.
O Buraka voltou ao Brasil --eles se apresentaram no Rock In Rio do ano passado-- embalados pelo sucesso da música "Vem Dançar com Tudo", tema de abertura da novela "Avenida Brasil", da Rede Globo. A faixa é uma versão do hit das pistas "Danza Kuduro", do cantor de reggaeton Don Omar e do português Lucenzo. Embaixadores do ritmo africano, o Buraka mostrou no palco do Abril Pro Rock que seu kuduro nada tem a ver com a trilha adaptada para o folhetim.
O som que o Buraka faz é uma mistura de batidas eletrônicas, como tecno e drum'n'bass, com alguns elementos de hip-hop. A sonoridade é pesada, com graves em destaque, assim como o dubstep. O diferencial são os dois bateristas no palco, um de frente para o outro, enquanto três cantores soltam versos numa levada que lembra o funk. Quem ficou para assistir à última atração do festival encontrou uma banda divertida e frenética no palco.
Otto e Mundo Livre S/A: expressões locais
Mas a maioria do público foi embora com o encerramento do show de Otto. Prata da casa, o pernambucano lembrou sua passagem no primeiro Abril Pro Rock, há 20 anos, com a música "TV A Cabo", que ele também cantou naquela ocasião. "Foi aqui que fiz meu primeiro show, e foi daqui que saí para o resto do mundo", ele disse. Inquieto, Otto desceu do palco e foi cantar no meio do público, "de onde ele veio e a quem ele deve tudo".
Otto estava acompanhado por uma banda que tinha em sua formação integrantes da Nação Zumbi, Sheike Tosado e Cidadão Instigado, incluindo Fernando Catatau na guitarra. Gilmar Bola Oito, integrante da Nação Zumbi, foi assistir ao show de Otto e acabou subindo ao palco para cantar "Da Lama Ao Caos". Na última música, Otto ainda convidou Ortinho para cantar "6 Minutos" e se despedir do palco.
Antes dele, os norte-americanos do Antibalas trouxeram afrobeat para o palco do festival. Com 13 pessoas no palco, o grupo é um dos principais nomes do ritmo criado pelo nigeriano Fela Kuti. A banda ainda contava com o público do Mundo Livre S/A, atração anterior. O grupo de Fred 04, uma das atrações mais queridas do público pernambucano e pilar do movimento manguebeat, tocou músicas do mais recente trabalho, "Novas Lendas da Etnia Toshi Babaa", e clássicos como "Computadores Fazem Arte", "Expressão Exata" e "Meu Esquema".
Outra banda de destaque do dia foi a dos olindenses da Ska Maria Pastora, que lançou nesta noite o álbum "Às Margens do Rio Doce". O ska elegante do octeto segue sempre em andamento moderado, nada agitado.
Os norte-americanos do Nada Surf conseguiram levar alguns fãs dedicados à frente do palco, mas o rock com levada pop da banda não encaixou na programação do dia. Nem a participação do guitarrista Doug Gillard, do Guided By Voices, e do tecladista e trompetista Martin Wenk, do Caléxico, ajudaram. Oriundos do cenário indie dos anos 1990, o grupo veio mostrar ao vivo músicas do álbum lançado este ano "The Stars Are Indifferent to Astronomy", além de revisitar seu catálogo com "Popular" e "Happy Kid". A noite ainda teve os locais da Banda Dessinée, os paraenses de música instrumental Strobo, e o cantor paulista Leo Cavalcanti.
20 anos de festival
Marcelo Camelo toca no Abril Pro Rock, em Recife, em comemoração aos 15 anos do Los Hermanos
A segunda noite foi dedicada à música pesada. Enquanto o gênero sofria com desorganização no Metal Open Air, no Maranhã, o Abril Pro Rock recebia no Recife nomes como Exodus e Brujeria. O festival também abriu espaço para novidades locais como Tibério Azul e Bande Dessinnée. A produção ainda não divulgou o total de público que passou pelos três dias de festival.
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