"Não quero mais aprovação de ninguém", diz Flausino, que lança DVD com o Jota Quest
O Jota Quest passou 2011 comemorando os 15 anos do álbum de estreia, "J. Quest", com uma série de shows pelo país, mas o presente de aniversário só chega às lojas em maio: o DVD "Folia & Caos", que mistura depoimentos, bastidores e trechos de apresentações. Antes, em 29 de abril, uma prévia do conteúdo do DVD será exibida pelo canal Multishow, às 19h.
O grande destaque de "Folia & Caos" são as participações especiais. Milton Nascimento, Erasmo Carlos, Ney Matogrosso, Otto, Pitty e Seu Jorge são apenas alguns dos vários nomes a dividir o palco - ou uma cachaça no camarim - com o Jota Quest. "Tem uma coisa bem de pop rock e MPB aí, essa é a nossa galera", resume o vocalista Rogério Flausino sobre a diversidade dos convidados.
São as parcerias que mostram não só o lugar que a banda mineira chegou nesses 15 anos, mas também a postura descontraída - e ironicamente madura - com que eles lidam com a carreira. "Quer gostar do meu som, que bom, não quer, não tem problema, mas eu quero que goste de mim. Dá tempo da gente ser amigo. Dá tempo da gente se divertir, tomar um chope juntos, independente do som. Eu não estou mais nessa. Eu não quero mais aprovação de ninguém, quero só viver e me divertir", desabafa Flausino.
Em entrevista ao UOL, o vocalista deu mais detalhes sobre o DVD e comentou o hiato das grandes bandas de pop rock no Brasil.
UOL Música - O DVD tem muitas participações, de nomes consagrados como Milton Nascimento a novidades como A Banda Mais Bonita da Cidade. Como foi a escolha desses convidados?
Rogério Flausino - Dependeu sempre muito da agenda de cada um, porque era aos sábados, muita gente que queríamos ter convidado e não rolou, muita gente que não imaginávamos que iam pintar na parada e acabou pintando. O Milton, o Ney Matogrosso e o Erasmo, todos com 70 anos de idade, é do caralho isso, muito louco. E aí tem a moçada nova, da Banda Mais Bonita da Cidade, o Sabonetes, que é uma banda de Curitiba que estamos adorando, tem uma banda da Bahia chamada Baiana System... nem todos cantaram com a gente, mas muitos abriram os shows. Nem todo mundo temos o registro, porque não tinha espaço para isso. Em alguns momentos tivemos problemas técnicos, como a participação do Paulo Miklos e da Sandra de Sá, que o som ficou com ruído.
UOL Música - No DVD você diz que não quer que gostem do som, mas de você. Você acha que as parcerias devem ser mais baseadas na amizade e respeito do que afinidade musical?
Rogério Flausino - No caso dessas pessoas que tiveram ali, de nós para eles existe admiração artística musical mesmo. Só convidamos para tocar conosco pessoas que a gente paga pau. A galera nova a gente acha legal e está se conhecendo. Mas tem uma coisa bem de pop rock MPB aí, essa, é a nossa turma, essa é a nossa galera.
UOL Música - Os shows da turnê comemorativa tiveram um clima diferente dos shows “normais” do Jota Quest?
Rogério Flausino - Nossa, demais. A galera se jogou. A galera foi querendo se divertir, senti que eles foram para um aniversário, elas chegavam felizes de estar ali. Esse é um dos motivos de, agora com o DVD na mão, os fãs que não foram vão poder ir nos shows do “Folia & Caos”. Começa 30 de junho no Rio e 7 de julho em São Paulo, e devemos passar por umas dez capitais. Mas vai ser diferente dos outros shows porque vão ter as músicas novas e mais covers. Vamos tentar montar um show que toque os covers, as músicas novas e os hits. Estou f*****, vai ser show de três horas de novo.
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Capa do DVD "Folia & Caos", do Jota Quest
UOL Música - O que mudou no relacionamento da banda nos últimos 15 anos?
Rogério Flausino - Se você imaginar que continuamos juntos e cheios de gás, dá para entender que nosso relacionamento está melhorando, né? Se tivesse piorado não estava junto mais. Lógico que nós brigamos, discutimos, ficamos com raiva um do outro. Cada época um está mais gente boa, o outro está mais chato. Com a idade que temos, vou fazer 40 anos na quarta-feira (25), então o ponto de vista da vida é outro, ninguém mais é moleque, somos pais de família. Para continuar vivendo junto esse ideário de uma banda que fica rodando o país fazendo música, continuar com esse espirito depois de tanto tempo só mesmo sendo muito unido, respeitoso.
UOL Música - Você faria alguma coisa diferente na sua carreira?
Rogério Flausino - Olha, eu não gosto de falar que sim porque chegamos até aqui, o bicho pegou, estamos juntos. Se houveram coisas – e com certeza houveram - coisas que você vacilou, errou, os tropeços nos ajudaram a ficar calejado, a ficar esperto, a corrigir o traçado, então valeu. Apontar coisas nesse sentido seria injusto com nós mesmos. Lembro do começo do nosso perrengue, da falta de grana, de roubarmos a comida do café da manhã do hotel para comer mais tarde. Mas acima de tudo isso lembro da ingenuidade pueril da juventude, os caras que saíram de Minas Gerais não sabiam nem o que estavam fazendo direito e quando ela teve que acabar, a vida forjou o fim da ingenuidade, quando você cresce, você toma paulada. Se tem uma coisa que nunca mais vai acontecer é isso. O nosso espírito continua o mesmo, porém hoje tudo é muito pensado, calculado; o que vai dizer, o que vai gravar, o que pode e não pode, onde que vai e não vai. Eu acho tudo isso muito chato, muito ridículo. Esse DVD é esse BBB de cinco caboclos que estão juntos correndo atrás, segurando as petecas, cuidando da família, se divertindo e divertindo as pessoas, é isso que a gente é. Por isso que eu digo: quer gostar do meu som, que bom, não quer, não tem problema, mas eu quero que goste de mim. Dá tempo da gente ser amigo. Dá tempo da gente se divertir, tomar um chope juntos, independente do som. Eu não estou mais nessa. Eu não quero mais aprovação de ninguém, quero só viver e me divertir.
UOL Música - Vocês foram a última grande banda a sair de Belo Horizonte, depois de Skank e Pato Fu. O Tianastácia ficou conhecido mas não nessa proporção...
Rogério Flausino - Skank, Pato Fu e Jota Quest são as três bandas que ficaram grandes. Temos o Tianastácia com uma discografia super interessante, realmente criativa. Tem meu irmão Sideral, esta pra lançar seu quinto disco. Tem o pessoal do hip-hop também, o Renegado faz um trabalho bem interessante. O grande hiato que existe de bandas de pop rock não é mineiro, é nacional. Nós somos a geração 1990, se você pegar os anos 2000, quem se posicionou de uma forma bem conhecida é a Pitty, o Los Hermanos, e as bandas da Arsenal (Charlie Brown, CPM 22, NX Zero). Ao contrário dos anos 1990, que tínhamos mais de 25 bandas fazendo barulho. Naquela época existia um investimento de gravadora que não existe mais, as coisas mudaram muito. Porém você tem uma infinidade de bandas interessantes no underground, tocando nos bares, com seu trabalho sendo divulgado na internet, rodando o Brasil em festivais independentes, traçando caminhos difíceis, esperando um grande investimento, e isso não está acontecendo. Acredito que isso vá acontecer, mas é graças a essa coisa do download, da gravadora parar de vender e dos estilos populares no Brasil que de tempos em tempos vem e engolem tudo que veem pela frente, isso fica bem difícil para a galera do rock. Mas não pode desistir, vejo também muita gente reclamando mas que faz pouco, e bota a culpa no sistema. Temos é que pegar o boi pelo chifre. Se fosse fácil estava cheio de banda fazendo 15 anos aí.
UOL Música - Você tinha dito que o Jota Quest ia gravar um disco de inéditas antes das comemorações dos 15 anos, mas agora vocês tem essa turnê. Quando devem gravar disco novo?
Rogério Flausino - Devemos fazer esta turnê até acabar o ano. Quando nós retomarmos, em março, aí devemos voltar para o estúdio e gravar um disco.
UOL Música - Vocês lançaram um disco em espanhol alguns anos atrás, vocês têm noção de como foi a resposta do público latino-americano?
Rogério Flausino - Nós tivemos duas músicas de trabalho desse disco, “Encontrar Alguém” em 2010, que teve alta rotatividade, e “Na Moral” em 2011, com participação de Illya Kuryaki & The Valderramas, que tocou conosco no Sonidos. O bicho tava pegando demais com a coisa do “Quinze” e eles se embananaram por lá também, mas acabamos não fazendo a turnê que queríamos ter feito. Vamos decidir isso em breve, mas por enquanto isso está em stand-by.
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