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Thiaguinho segue solo e confirma que grupos de pagode dos anos 90 enfraqueceram

Na gravação de seu primeiro DVD da carreira solo, Thiaguinho investiu na imagem de seu amigo Neymar (5/4/12) - Orlando Oliveira e Francisco Cepeda/AgNews
Na gravação de seu primeiro DVD da carreira solo, Thiaguinho investiu na imagem de seu amigo Neymar (5/4/12) Imagem: Orlando Oliveira e Francisco Cepeda/AgNews

Thays Almendra

Do UOL, em São Paulo

28/04/2012 07h10

Nos anos 90, bandas como Só Pra Contrariar, Negritude Jr., Exaltasamba, fizeram muito sucesso e alavancaram o pagode no Brasil. Quase duas décadas depois, esses grupos perderam a força e os vocalistas partiram para a carreira solo. Os músicos que restaram ou fazem shows esporádicos ou se separaram de vez, caso de Os Travessos e Soweto. 

O último a embarcar na empreitada solo foi o cantor Thiaguinho, do Exaltasamba, que no começo do mês de abril gravou o seu primeiro DVD sem o grupo. “Independência musical” é a justificativa de Thiaguinho por ter se desligado do Exaltasamba, após 9 anos na banda. Segundo ele, a missão no grupo estava cumprida e a busca por novos horizontes batia a sua porta. “Optei por fazer uma carreira sozinho para ter mais espaço para as minhas ideias, não que não tivesse no Exalta. É uma independência musical para a vida. Cada um tem uma necessidade de vida e a minha no momento foi essa”.

Existem vários fatores, mas é inegável que exista o fator financeiro. Se você tem oito pessoas e um cachê para dividir... Não estou dizendo que seja esse o caso do Thiaguinho, mas pode acontecer.

Marco Camargo sobre a decisão por carreira solo

O outro vocalista da banda, Péricles, também desistiu e optou por seguir o mesmo caminho. De acordo com o cantor, a decisão só foi feita depois que todos os integrantes concordaram em terminar o grupo. “O término do Exalta foi uma decisão em conjunto. Até desejei ter carreira solo em um tempo da minha vida, mas tentando lutar pelo grupo e pensando na longevidade da banda, desisti. Só que nesses últimos tempos fizemos uma reunião e, para o bem de todos, decidimos que o Exalta ia terminar e eu parti para carreira solo”. A banda anunciou a separação em 2011, mas fez shows até o início deste ano.

Exaltasamba, que era um dos representantes da força do pagode da década de 90, se desmembrou e seus vocalistas seguiram suas vidas rumo a projetos individuais. Thiaguinho diz que não sente medo de enfrentar essa nossa etapa. “O que eu quero fazer para a minha vida toda é cantar, é a única coisa de que eu não tenho medo e me sinto tranquilo em fazer."

A maldição da carreira solo

Mas partir para uma carreira solo não é garantia de sucesso. Quem não se lembra de Salgadinho, do Katinguelê, Rodriguinho, de Os travessos, Chrigor, do Exaltasamba? Esses vocalistas preferiram seguir sozinhos no auge do sucesso de suas bandas e, após a decisão, foram sumindo das paradas de sucesso.

Segundo o apresentador e produtor musical Marco Camargo, o insucesso pode acontecer devido a alguns fatores, como: o preconceito da sociedade e o esquecimento de onde o cantor surgiu.

“No mundo inteiro e, inclusive no Brasil, o público tem a tendência de não aceitar as pessoas que se separam, a não ser que seja por morte ou por algum acontecimento trágico. Quando isso não acontece, a crítica, a análise, o consumo e a esperança são muito maiores e os vocalistas não avaliam isso. De repente jogam para cima o sucesso para tentar se dar melhor que a própria banda. E esquecem que, jogando para cima o sucesso, podem estar buscando o insucesso”.

Trilha para o sucesso individual

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Em contrapartida, o cantor Alexandre Pires soube balancear o sucesso obtido no grupo Só Pra Contrariar. Ele deixou a banda em 2002 e seu irmão Fernando tomou conta do microfone. Segundo o cantor, ele acompanhou de perto todas as evoluções de seus parceiros e disse que queria ter se mantido por mais tempo no grupo, mas que a carreira internacional acelerou esse processo. Isso porque, em 2001, ele gravou um disco independente do SPC e o trabalho teve ótima repercusão, de forma que a carreira solo bateu em sua porta.

“O Alexandre é outro caso porque ele sempre cuidou dos irmãos, da banda e sempre cuidou do SPC. Ele não esqueceu da terra que pisou, mesmo depois do asfalto pronto”, diz Marco Camargo acreditando que seja um dos segredos para o sucesso individual.  

Mas eu acho que essa coisa do vocalista que se destaca mais, é balela. Eu vejo grandes bandas que estão aí vivas até hoje, como: Roupa Nova, Rolling Stones e vários outros, que se separam, e de repente voltam para fazer alguma coisa. É impressionante

Alexandre Pires sobre projetos de bandas com cantores solos

Com 10 anos de carreira solo e um novo DVD gravado neste mês, Alexandre Pires conta que conquistar a estabilidade na carreira solo não foi fácil. “Quando o público adota uma banda, ele adota uma banda, então fazer carreira solo é um recomeço. E isso para mim, no início, foi muito difícil. Era a presença física, a sonoridade, que era diferente da que eu fazia no SPC, mas eu sabia que era uma missão e o grupo sabia e entendeu. É por isso que a gente tem essa amizade, esse respeito e esse carinho.”

O Só Pra Contrariar participou da gravação do DVD “EletroSamba” de Pires. Segundo o cantor, um de seus grandes sonhos é juntar o grupo novamente para fazer uma turnê.

“A Legião Urbana, por exemplo, é uma banda viva. Ela sobrevive, é eternizada. O SPC é a Legião Urbana do samba. É impressionante isso”, emocionou-se.