Após ser liberado pela polícia, Emicida não assina boletim de ocorrência e se defende
Do UOL, em São Paulo
14/05/2012 09h24
Após ser detido em Belo Horizonte, por suposto "desacato à autoridade", depois de cantar a música "Dedo na Ferida" durante um show na capital mineira, o rapper paulista Emicida foi liberado por volta das 22h30 de domingo (13) e em seu blog se defendeu das acusações. Ele afirmou que não assinou o boletim de ocorrência, pelo fato do documento estar incorreto.
"Acabo de ser liberado. Desacato de autoridade, por cantar uma música. Obrigado pelo apoio", escreveu o paulistano em seu Twitter.
"Na versão que foi registrada no boletim de ocorrência, policiais afirmam que Emicida teria dito uma frase diferente da que o vídeo comprova. Por isso, o músico não assinou o documento. A alegação dos policiais é a de que ele teria dito a seguinte frase: 'Eu apóio a invasão do terreno Eliana Silva, região do Barreiro, tem que invadir mesmo, levantem o dedo do meio para cima, direcione aos policiais, pois todos esses tem que se fuder'.
"Em nenhum momento o rapper se dirigiu diretamente aos policiais militares que trabalhavam no evento ou pediu que o público fizesse algum gesto obsceno a eles. O show ocorreu sem nenhuma confusão ", explicou a assessoria do rapper no blog de Emicida. Ouça abaixo o áudio do show:
Entenda o caso
Em contato por telefone com o UOL, o irmão e empresário do rapper, Evandro Fióti, contou que a polícia deu voz de prisão logo depois do fim do show. Por volta das 19h30 de domingo (13), Emicida foi levado algemado para a 36ª Delegacia Seccional do Barreiro, conforme contou um policial do distrito por telefone.
Segundo o empresário, no início do show Emicida fez a leitura de um texto desaprovando a desocupação de um terreno na região do Barreiro, onde famílias estão acampadas desde o último dia 21, na capital mineira. "Nessa hora, o pessoal levantou o dedo do meio contra os políticos e as autoridades, mas os policiais que estavam no local se sentiram ofendidos e não quiseram deixar em branco. E, na verdade, a música fala da instituição como um todo, como um denúncia geral, e não sobre aquelas pessoas que estavam no show, naquele momento", disse Fióti ao UOL. Acompanhado de um advogado, Emicida prestou depoimento sobre a canção.
Em nota, a assessoria de imprensa da Polícia Militar de Belo Horizonte afirma que, durante a música, o rapper incitou o público a fazer gestos obscenos --como mostrar o dedo no meio-- para a PM que fazia a segurança do evento e para políticos.
O show gratuito que Emicida apresentava era parte do festival Palco Hip Hop. A equipe do festival está dando apoio ao rapper no incidente com a polícia. Cerca de uma hora após Emicida publicar a mensagem no Twitter, o tópico #LiberdadeEmicida já estava em primeiro lugar entre os assuntos mais comentados do Brasil no microblog. O rapper Criolo, o apresentador Marcelo Tas, a cantora Maria Rita e o deputado federal Jean Wyllys apoiaram o músico.
A letra de "Dedo na Ferida", lançada em março deste ano, aborda questões como repressão, a polêmica que envolve moradores de Pinheirinho e da cracolândia de São Paulo, e faz críticas à polícia. "F***-se vocês, f***-se suas leis! / Homens de farda são maus / era do caos / Frios como halls, engatilha e plau! / Carniceiros ganham prêmios na terra onde bebês respiram gás lacrimogêneo".