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De volta a Buenos Aires, Ivete Sangalo faz "noite de Carnaval" em show com lotação esgotada

A cantora baiana lotou o Luna Park na noite desta sexta-feira (10/9/12) - Maria Martha Bruno/UOL
A cantora baiana lotou o Luna Park na noite desta sexta-feira (10/9/12) Imagem: Maria Martha Bruno/UOL

Maria Martha Bruno

Do UOL, em Buenos Aires

11/08/2012 07h26

A noite desta sexta-feira (10) de 14 graus de temperatura em Buenos Aires foi de carnaval e de fanatismo em uma das casas de shows mais importantes da cidade, onde mais de 8 mil pessoas foram conferir o show de Ivete Sangalo, que voltou à Argentina onze anos depois de sua última apresentação no país.

A maioria do público que lotou o Luna Park, arena na região central da cidade, era formada por argentinos e, entre eles, foi possível identificar membros de pelo menos dois fã-clubes locais da baiana. Ao fim da apresentação, enquanto dezenas de fãs cercavam a entrada do camarim da cantora, quase uma centena se acotovelava na saída, inclusive em volta do carro que a levaria embora da arena.

Com uma apresentação de quase duas horas e meia, Ivete incendiou o Luna Park com um desfile de sucessos, colocando os portenhos para fazer trenzinho e dançar até o chão, como em um autêntico carnaval baiano. Logo na abertura explosiva com “Brasileiro”, em que o telão exibe imagens emblemáticas do país, a cantora trocou alguns dos versos para “Eu sou argentino” e de cara ganhou o público, que durante todo o show não se cansava de chamar por “Ivête, Ivête”. Com a temperatura sempre alta, ela introduziu “Acelera aê” com um “Te quiero, Buenos Aires”, para receber em seguida uma chuva de bandeiras argentinas lançadas pelos fãs no palco.
Sem abrir mão de exaltações clássicas, como “sai do chão” e “bate na palma da mão”, Ivete Sangalo também adaptou algumas convocações, ao pedir “Manos arriba!” e “Salta, Argentina!”, antes de “Sorte grande (Poeira)”, uma das músicas que mais empolgaram o recinto. Durante a canção, a baiana fez ecoar no Luna Park o “tchu, tchu, tcha” que já ultrapassou as fronteiras brasileiras e inclusive faz sucesso em algumas estações de rádio portenhas.

A conexão Brasil-Argentina (e América Latina) continuou quando Ivete cantou músicas em espanhol, como “Darte”, que cantou com o colombiano Juanes no show do Madison Square Garden (Nova York), em 2010, e, sobretudo, quando convidou ao palco o cantor argentino Diego Torres, para “Ahora ya sé”. Bem-humorada, ela o chamou de guapo (lindo), disse que há dois anos se apaixonou por ele, lembrou que um dos membros de sua banda também se chama Diego, mas se esqueceu de rasgar a seda para o Diego mais querido dos argentinos. Ao falar sobre o primeiro contato com o cantor, Ivete lembrou um episódio curioso: “Quando liguei para o Diego, ele atendeu e perguntou quem era. Quando respondi que era a Ivete, ele não acreditou, porque com essa minha voz grossa, pensou que fosse um homem. E eu, quando eu ouvi aquela voz, pensei: ‘meu Deus, o que vou fazer da minha vida?!’”.

  • Devidamente paramentado com o agasalho da seleção brasileira, o argentino Martín Roca (último à direita) exibe a bandeira de seu fã-clube com dois amigos antes do show (10/8/12)

Ovacionado pela plateia, Torres contou que, desde que gravou com Ivete, era cobrado pelos admiradores pela ausência da cantora no país: “Agora poderei andar nas ruas de Buenos Aires tranquilo. Antes, os fãs da Ivete voavam no meu pescoço perguntando por ela. Agora todos vocês a têm”. Quase ao fim do set latino, com “Corazón espinado”, do grupo Maná e de Carlos Santana, um problema técnico aparentemente abreviou a música, quando dois estalos no sistema de som deram início a um ruído altíssimo que fez os músicos inclusive taparem os ouvidos.

Além de levar para a Argentina o carnaval fora de época (e de lugar), Ivete Sangalo admitiu que uma das intenções de seus shows no exterior é ajudar os brasileiros que vivem fora a matarem as saudades de casa: “Sabemos que há uma comunidade de brasileiros que vive aqui. Um dos motivos para fazermos estes shows internacionais é porque sabemos que muitos sofrem com saudades de casa”. Depois de dois de seus sucessos mais estrondosos, “Festa” e “Abalou”, o analista de sistema Michael Pinheiro, que mora na capital argentina há dois anos, garantiu que a estratégia da baiana deu certo: “De uma certa maneira foi um carnaval. É uma das coisas de que a gente sente mais falta mesmo. Foi uma noite brasileira e carnavalesca em Buenos Aires. Deu pra matar as saudades sim”.

Pudera. Além de fazer um apanhado de sua carreira desde os tempos de Banda Eva, a noite contou com um punhado de canções brasileiríssimas, como “País tropical” (Jorge Ben), “Não quero dinheiro” (Tim Maia), e um set final, que levou os argentinos ao êxtase, com as lambadas “Chorando se foi” (versão do grupo Kaoma da original boliviana “Llorando se fue”, muito famosa em todo o resto da Amxérica Latina) e “Preta”, de Beto Barbosa. Ivete Sangalo ainda apresentou uma de suas músicas novas, que, segundo fãs, tem o título provisório de “Dançando” e invoca uma indefectível coreografia de mãos na cabeça e mãos na cintura. A baiana se despediu agradecendo pela noite “incrível e inesquecível” e prometeu voltar à cidade mais vezes.

Paixão nacional
 

  • Fundadora do fã-clube Nación Ivete, Julieta (segunda, da esquerda para a direita) levou a mãe (à esquerda) e as amigas para conferirem o show da cantora (10/8/12)

A energia que Ivete esbanja no palco é um dos motivos quase que unânimes para a paixão dos portenhos pela cantora. Uma das fundadoras do fã-clube Nación Ivete, a administradora Julieta Farbiarz, de 28 anos, tem o verso “Eterna paixão”, da música “Eternamente”, tatuado na nuca. Ela mora em Salvador há três anos e disse já ter visto cerca de 40 shows da baiana. Em visita à família na cidade, decidiu levar a mãe, Patrícia, que se disse “elouquecida” por Ivete, para conferir uma apresentação da cantora pela primeira vez. Outra forma de se manter conectada ao mundo de Ivete Sangalo são as aulas de axé music que a argentina faz em Salvador, com um dos dançarinos da banda da estrela.

O mesmo fanatismo também levou o analista de recursos humanos Martín Roca, 27, a fundar o fã-clube Beleza Rara. “Sou apaixonado. Quero me casar com ela e ainda não perdi as esperanças”, brincou. Ele chegou a morar na Bahia por três anos, depois que passou um carnaval em Salvador em 2003 e ficou encantado com o que viu. Dois anos antes, já fã de Ivete, conferiu os dois únicos shows que a baiana havia feito em Buenos Aires, na boite brasileira Maluco Beleza. Ao fim do show da noite desta sexta, admitiu que a energia e a maneira como a baiana contagia o público são impressionantes, mas disse preferir apresentações menores, como as realizadas em 2001, talvez para ficar mais perto da musa.