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"Passei a vida esperando para tocar com minha própria banda no Brasil", diz Steve Morse

O guitarrista Steve Morse, do Deep Purple, que vem ao Brasil com o G3 para shows em São Paulo - Getty Images
O guitarrista Steve Morse, do Deep Purple, que vem ao Brasil com o G3 para shows em São Paulo Imagem: Getty Images

Pedro Carvalho

Do UOL, em São Paulo

11/10/2012 16h52

Velho conhecido do público brasileiro, o guitarrista Steve Morse já esteve por aqui algumas vezes com o Deep Purple. Mais do que isso, em sua carreira de cerca de 40 anos, se consagrou como um dos músicos mais versáteis do planeta.

Após tocar com grandes nomes do jazz como Pat Metheny, Jaco Pastorius e John McLaughlin, do rock como Kansas e misturando tudo isso com o Dixie Dregs e na carreira solo, Morse agora faz parte do projeto G3.

Formado além dele, pelos virtuoses da guitarra Joe Satriani e John Petrucci (ex-Dream Theater), o G3 é um show no qual cada um tem um set solo reservado para mostrar seu próprio repertório e uma jam session no final com os três mostrando juntos suas habilidades

Em turnê pelo Brasil, o G3 se apresenta em São Paulo nesta quinta (11) e sexta-feira (12), no Credicard Hall.

UOL - Como é voltar ao Brasil, desta vez com o um projeto diferente?
Steve Morse - É muito legal, passei a vida esperando para tocar minha própria música com a minha própria banda no Brasil. E no final do show rola uma jam com o John Petrucci e o Joe Satriani e a gente se diverte muito.

O legal é que os shows individuais são curtos e bem variados, então o público não fica de saco cheio. Acho um ótimo formato, parecido com o que eu fiz no começo dos anos 80 com o John McLaughlin e o Paco de Lucia.

Você é um representante da era de ouro dos heróis da guitarra. No fim dos anos 70 e começo dos 80 apareceram você, Eddie Van Halen, Joe Satriani, Steve Vai, Yngwie Malmsteen e muitos outros. Mas você sempre foi o mais versátil. De onde vem essa facilidade para transitar em tantos estilos?
Quando eu era moleque e ia aos shows, rolavam coisas como o trio de jazz do Dave Brubeck abrindo para o Led Zeppelin seguidos pelo Jimi Hendrix e Janis Joplin com Ravi Shankar no dia seguinte e alguém depois tocando música country. Essa variedade era normal na época. Acho que se você gosta de vários estilos você vai naturalmente conseguir tocá-los.

Além disso eu toquei em bandas cover durante muitos anos. Eu tive uma banda com uma vocalista que cantava músicas de Carly Simon seguidas de material da Janis Joplin, Led Zeppelin e por aí vai. Acabava sendo natural. Eu não acho que deveria haver fronteiras tão rígidas entre os estilos. Apenas recentemente virou regra as turnês terem bandas exatamente do mesmo tipo. E deve ser chato ver um show só com músicas iguais.

Você aproveita as técnicas de um estilo quando toca o outro? O jazz por exemplo ajuda no hard rock e vice-versa?
Boa pergunta. Ajuda sim. Por exemplo, tocar violão clássico me ajuda na guitarra elétrica e vice-versa. No caso do jazz, eu diria que conhecer a estrutura dos acordes deixa o rock muito mais fácil. Se você se acostuma a tocar jazz, as bases do rock ficam moleza.

De todas as bandas e projetos nos quais você tocou, qual foi o maior desafio nessa adaptação a um estilo novo?
Eu diria que foi quando eu toquei com o (baixista, morto em 1987) nos anos 70. E Pat Metheny. Ambos eram tão poderosos com sua criatividade que era um desafio acompanhá-los. E eu guardo essa lembrança com muito carinho, porque os dois me inspiraram muito.

A turnê acústica com o John McLaughlin e o Paco De Lucia também foi um grande desafio. Tive que aprender a tocar flamenco, sendo que minhas origens estão mais no rock e na música clássica. Foi uma grande experiência. Sempre que você tem que tocar outro estilo isso ajuda você a tocar entender melhor a música de maneira geral.

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    Steve Morse (à direita) divide o palco com o vocalista Ian Gillian durante show do Deep Purple

Você costuma conhecer seus fãs? Que tipo de retorno você recebe deles?
Bem, eles sempre querem ter certeza de que você está dando o seu melhor. Os ingressos são caros no mundo todo e o show é sempre uma coisa importante para eles. Você tem que dar coração e alma para a plateia, porque eles se sacrificaram para estar ali. E o maior retorno que eu tenho é o reconhecimento de estar fazendo isso. Eu sempre me arrisco e toco algo diferente. Se fosse tudo sempre igual eles ficariam entediados e não viriam a vários shows. Então, minha fórmula é fazer o melhor, mas sempre correndo riscos.

Quando você entrou no Deep Purple foi difícil decidir quando ser fiel às versões originais e quando fazer arranjos diferentes no seu estilo?
Passei a juventude toda tocando música dos outros ao vivo. Mas mesmo assim eu tomava liberdades com os solos. E vi que a plateia tolera isso, desde que você trate a música com respeito, mantendo a autenticidade.

Por exemplo se tiver uma parte do solo que é muito melódica, da qual todo mundo se lembra, eu mantenho essa parte igual e só depois inventou minha própria versão.  A fórmula é essa, liberdade com respeito.

Quais são as novidades no campo do Deep Purple?
O Deep Purple está gravando um grande álbum com o produtor Bob Ezrin, que gravou clássicos com o “The Wall” do Pink Floyd e álbuns clássicos do Kiss, Alice Cooper, Lou Reed e outros. Ele decidiu fazer o álbum de estúdio definitivo com o Deep Purple.

Nós já gravamos muita coisa. Eles estão terminando os vocais, eu acabei de gravar os solos, estive em Nashville gravando e compondo com eles e acho que vai ser um dos melhores álbuns da banda. E a turnê vai começar logo que terminar a do G3.

O tecladista original, Jon Lord, que esteve na banda entre 1968 e 2002, morreu recentemente. Como isso afetou a banda?
No dia em que ele morreu, eu estava no estúdio gravando e vieram me contar. Me pegou de surpresa, porque eu pensava que o tratamendo havia sido bem-sucedido. Eu tinha acabado de tocar com ele numa gravação. O último contato que tivemos foi um e-mail muito emocionado me agradecendo e logo depois ele havia nos deixado. Todo mundo ficou surpreso, fora talvez o  (bateria) Ian Paice, porque as esposas dos dois são irmãs, então eu acho que ele já sabia.

Por causa da morte dele, a banda mudou algumas letras do álbum novo. O Ian (Gillan, vocalista), sempre fala sobre fatos da vida dele nas letras e tem muito material ali que parece estar falando sobore o Jon.

Uma mensagem final para os fãs brasileiros?
Obrigado por virem aos shows e eu garanto que vocês vão se divertir muito e, principalmente, vão ver uma grande variedade de tipos de música. Nos vemos no show do G3!