"Confio na Justiça", diz Rita Lee após audiência de processo movido por PMs em Sergipe
A cantora Rita Lee esteve em Aracaju (SE) nesta quinta-feira (8) para depor em audiência no 7º Juizado Especial Cível. A artista responde a um processo por danos morais impetrado por 35 policiais militares que se sentiram ofendidos pela cantora durante um show ocorrido em janeiro deste ano durante o Projeto Verão, na Atalaia Nova, município de Barra dos Coqueiros. Cada militar entrou com uma ação especifica, cobrando uma indenização no valor de R$ 24.880. A decisão deve sair na próxima semana.
Rita Lee chegou ao fórum por volta das 8h, acompanhada pelo marido, o músico Roberto de Carvalho, uma funcionária, e a ex-senadora e vereadora de Maceió (AL) Heloísa Helena (PSOL). Durante cerca de seis horas, eles foram ouvidos pela juíza substituta Andrea Caldas, da Comarca de Nossa Senhora do Socorro. Além deles, um dos policiais militares, representando os demais, também foi ouvido. As testemunhas de defesa confirmaram a versão de que os militares agiram com truculência utilizando-se de cassetetes e provocaram a cantora Rita Lee fazendo gestos de prisão.
No dia 28 de janeiro, durante sua apresentação de despedida na Praia Atalaia Nova, a roqueira criticou a agressividade de policiais – que faziam a segurança do evento – contra alguns fãs que fumavam maconha. "Isso é força brutal. Vocês não têm o direito de usar a força na meninada que não está fazendo nada. Eu sou do tempo da ditadura. Pensam que eu tenho medo? Sou mulher, tive três filhos, tenho uma neta. As pessoas estão esperando eu cantar, não é a gracinha da vocês. Agora venham me prender”, disse Lee no momento. Ela acabou sendo presa ao fim do show por desacato a autoridade.
A defesa de Rita Lee contestou o valor indenizatório, que segundo os advogados causaria “dano inestimável ao patrimônio da mesma”. Inicialmente, foi apresentada uma proposta aos policiais de uma quantia individual de R$ 1,5 mil. Durante a audiência, a defesa da artista também cogitou que os policiais assinassem um documento para formalizar que agiram de maneira truculenta, em compensação, ela assinaria um termo assumindo que se exaltou durante o show. A sugestão foi imediatamente descartada pelos militares.
“É uma discrepância por parte da cantora. Chega a ser indecente e até imoral. Não aceitamos e não aceitaremos”, disse o coronel Adolfo Menezes, que no dia comandava, com o coronel Enilson Aragão, os cerca de 150 policiais militares durante o evento.
“O que houve na verdade é que a Polícia Militar estava fazendo o trabalho ostensivo garantindo a ordem pública e então a cantora Rita Lee se sentiu incomodada com a presença desses policiais militares, que só estavam fazendo o trabalho deles”, disse um dos advogados dos policiais, Plinio Karlo Moraes. Ele revelou ainda que a juíza fez alguns requerimentos, entre eles um vídeo do show que está em posse da Secretaria Estado da Cultura e a lista dos policiais militares que faziam presente no evento. "Eles tiveram a honra manchada, então esperamos que o poder judiciário reconheça o dano moral e arbitre um valor indenizatório”, concluiu o advogado.
A vereadora e ex-senadora alagoana Heloisa Helena saiu da audiência momentos antes de Rita Lee e defendeu da amiga. “Eu contei apenas o que eu vi, muita brutalidade numa ação totalmente inaceitável e indevida”, disse ela, que estava no dia do show.
Rita Lee saiu da sala de audiência se mostrando confiante. Ela lamentou o fato, mas disse que espera voltar a Aracaju para fazer show e “botar a rapaziada para cima, para pular e dançar”. “Eu estou tranquila, confio na Justiça, amo meus fãs e o povo de Sergipe. Vim depor com muita aflição porque nunca aconteceu isso, mas correu tudo bem”, disse a cantora, aparentando tranquilidade. Já dentro da van que a levaria para o hotel, tirou fotos com dois fãs que estiveram no fórum e aguardaram a artista.
“Ela se exaltou [durante o show], mas vim aqui prestar solidariedade a esta grande artista da cultura brasileira”, disse a servidora pública, Thais Morgado, fã de Rita Lee.
“Tiradenta”
Na quarta-feira, pelo Twitter, Rita Lee fez críticas à audiência. “A vaca profana se encaminha para o matadouro dos canalhas. A bruxa caminha serena para a fogueira da Inquisição. O cordeiro se prepara pada ser sacrificado em nome dos senhores da guerra”, escreveu.
Na véspera de audiência sobre ação de danos morais movida por policiais, Rita Lee posta foto de boneca sendo enforcada (7/11/12)
A roqueira ainda colocou uma foto no seu Instagram em que uma boneca de cabelos vermelhos e empunhando uma guitarra, muito semelhante a ela, aparece sendo enforcada. “Tiradenta”, colocou na legenda.
O filho de Rita, Beto Lee, também usou seu Twitter para alfinetar a ação movida pelos policias. “Hoje minha velha embarca para Sergipe, onde ficará frente a frente com 32 policiais que foram 'ofendidos' por 1 senhora de 64 anos. What a joke!”, escreveu.
Em resposta a ele, várias personalidades da música brasileira se manifestaram na rede social. "Tô aqui na torcida, na reza com velas, danças e afins - que esse exagero de palhaçada seja assim reconhecido", disse a cantora Maria Rita.
O roqueiro Tico Santa Cruz também mandou seu apoio à cantora: “Sua mãe vale mais que todo esse exército de paus mandados! Prevalecerá o espirito superior”. Lulu Santos se manifestou, criticando o processo. “Chocante, desnecessário e arbitrário isto tudo. Estamos juntos”, escreveu.
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