No dia em que Jimi Hendrix faria 70 anos, ele ainda é o guitarrista mais influente da história
![Jimi Hendrix, que completaria 70 anos nesta terça (27), ainda permanece uma referência como guitarrista - REUTERS/COPYRIGHT AMALIE R. ROTHSCHILD/THE BETTMANN ARCHIVE](https://w3.i.uol.com.br/novas-midias/2011/11/23/jimi-hendrix-1322078433275_615x300.jpg)
Um dos negros mais conhecidos na história da música popular, descendente de índios e escravos norte-americanos, ícone da década de 60 do século 20, símbolo maior da psicodelia na música e guitarrista mais famoso de todos os tempos, Jimi Hendrix completaria 70 anos nesta terça-feira (27). Com apenas 4 discos lançados enquanto estava vivo, Hendrix se tornou uma figura tão lendária que é quase impossível dissociar sua imagem da música.
Suas técnicas de execução e experimentações em estúdio se tornaram revolucionárias, e ajudaram a transformar o rock de um gênero ingênuo para adolecentes em algo mais ousado e ambicioso. “Ele foi um catalisador de várias inovações feitas por contemporâneos, como o uso de microfonia, que já era praticado por Jeff Beck e Pete Tonwshend, a exploração de recursos sonoros com o amplificador Marshall e os pedais de fuzz e wah-wah”, conta Márcio Okayama, professor de guitarra do IG&T em São Paulo.
Se atualmente esse lado mais virtuoso de Hendrix é o aspecto mais lembrado da sua música, em 1967, quando o primeiro disco do trio Jimi Hendrix Experience, “Are You Experienced”, foi lançado, seu psicodelismo soava como algo futurista e alienígena para os ouvintes da época. “Eu gostava muito de solos de guitarra, e até então era raro os guitarristas solarem. Hendrix mexeu com todo mundo, aquele lance de tocar de costas, tocar com a língua, ninguém tinha visto aquilo antes. Ele foi o primeiro a querer fazer outra coisa”, explica o crítico musical Leopoldo Rey.
Hendrix e os anos 60
Para além da virtuose e das técnicas revolucionárias, a imagem de Hendrix está profundamente ligada a uma época particular onde o rock era um dos principais elementos culturais de expressão. Os movimentos de contracultura, drogas lisérgicas como o LSD, protestos sociais e a Guerra do Vietnã eram apenas alguns de uma série de elementos que informavam sua música.
“Ele era símbolico de um certo jeito de olhar para o mundo. Ele tinha uma guitarra lisérgica, e atuava num estado mais elevado de percepção da mente”, diz Claudio Prado, que atualmente é coordenador da ONG Laboratório Brasileiro de Cultura Digital e morava em Londres quando Hendrix surgiu.
Prado esteve ligado a Caetano Veloso e Gilberto Gil durante o período em que eles estiveram exilados em Londres, e conta que juntos assistiram à histórica apresentação de Hendrix no Festival da ilha de Wight, uma das últimas do guitarrista. “Eu brincava de percussão e fiz uma gravação da gente tocando. Resolvi levar a fita para apresentar à organização do festival”, conta ele, que conseguiu agendar uma apresentação dos músicos brasileiros e ainda ganhou acesso livre aos outros shows do festival.
“Eu consegui um crachá que dava acesso a tudo, e vi o show de Hendrix da parte de trás do palco”, diz Prado, que diz ter falado rapidamente com o guitarrista numa roda de amigos . “Me lembro de ele tocar o hino americano com sons de metralhadoras. Ele se reconhecia como norte-americano, mas ao mesmo tempo trazia a guerra para dentro da música, expressando o horror do que estava sendo praticando pelos EUA no Vietnã naquele momento”, diz.
Há quem acredite, no entanto, que o aspecto político das performances de Hendrix é mais ambíguo. “Apesar de estar associado ao movimento hippie, ele tinha uma coisa de não ser exatamente um hippie, pois já havia sido militar”, explica Rey. “Quando ele tocou o hino americano em Woodstock não era algo do tipo ‘viva a pátria’, mas a execução era cheia de efeitos de bomba, e ele gostava daquilo”, conta.
No Brasil
Enquanto Prado e os tropicalistas estavam imersos na cultura underground inglesa da época, o Brasil vivia o período de maior repressão da ditadura militar, e havia preconceito em relação à música de Hendrix tanto por parte dos setores mais conservadores da sociedade quanto de alguns estudantes de esquerda que viam o rock como símbolo de alienação imperialista. “Havia muita resistência”, conta Rey. “Quando ele e Janis Joplin morreram, os dois com 27 anos, o rock ainda era muito associado com drogas. Pouca gente falava de rock na época. A música era muito relacionada com a contracultura”, diz.
Na época, os discos de Hendrix eram difíceis de serem encontrados no país, e muitas vezes fãs como Rey tinham que apelar para cópias importadas. “Os discos demoravam muito para serem lançados aqui, e às vezes nem saiam, ou saíam sem informação nenhuma”, conta ele. “Não era uma coisa que tocava no rádio, com raras execeções. Depois que ele morreu, começou a vender mais”, conta.
Influência
Em uma época saturada de cultura retrô e reciclagem de antigos estilos musicais, é interessante lembrar dos aspectos mais modernistas da música de Hendrix. Embora tenha começado a carreira em bandas de soul e R&B, quando se lançou em carreira solo o músico partiu para territórios totalmente inexplorados, incorporando dissonâncias pouco usais e experimentações diversas. Para Hendrix, essa postura de constante inovação se refletia no seu culto à eletricidade (um dos termos usados por ele em entrevistas e músicas era “Eletric Church”) e o uso de improvisações, que muitas vezes o aproximava do jazz.
“Ele tinha uma mentalidade de sempre ir para frente: antes de morrer, ele queria deixar o rock e trabalhar com Miles Davis. Muitos discutem se ele poderia ser comparado com um músico de jazz. A essência do improviso de jazz era algo que ele tinha. Eu tive aulas com o Mike Stern (ex-guitarrista da banda de Miles Davis) e ele disse que o Miles sacou isso, ele gostava de harmonias estáticas”, conta Okayama.
Hendrix teve pouco impacto durante a explosão do punk rock, embora tenha permanecido um ícone para guitarristas mais virtuosos. No final dos anos 80, ele voltou a se estabelecer como uma forte referência na cena alternativa, influenciando desde a neopsicodelia de shoegazers como o My Bloody Valentine até o hip hop dos Beastie Boys, que sampleou solos do músico em “Jimmy James”. “Ele é citado como influência por pessoas que vão desde um virtuoso como Steve Vai até bandas novas alternativas. Tornou-se a primeira referência para todos”, diz Okayama.
Sobre a influência de Hendrix nos seus alunos do IG&T, Okayama diz que ela não é tão grande como poderia parecer: “Estamos numa época muito fragmentada, muita gente descobriu Hendrix junto com uma série de coisas na semana passada. É um pouco a minha função explicar quem são artistas assim e em que contexto surgiram. Mas acho que entre os músicos da sua época ele ainda é um dos que mais servem de referência”, conta.
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