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Em sua primeira apresentação no país, Pulp causa comoção com mais de 2 horas de show

O vocalista jarvis Cocker durante apresentação do Pulp no Via Funchal, em São Paulo  - Fernando Donasci/UOL
O vocalista jarvis Cocker durante apresentação do Pulp no Via Funchal, em São Paulo Imagem: Fernando Donasci/UOL

Daniel Solyszko

Do UOL, em São Paulo

29/11/2012 04h53

Quase 35 anos após seu surgimento na cidade industrial britânica de Sheffield, uma versão levemente mais palatável e urbanizada de Cubatão, o Pulp aportou na noite desta quarta-feira (28) para sua primeira (e única) apresentação no Brasil, no Via Funchal de São Paulo. Com um repertório centrado no período de maior sucesso, quando a banda se tornou uma das mais populares da cena britpop dos anos 90, o Pulp se apresentou para uma plateia de hipsters e nostálgicos pelos anos 90 durante pouco mais de 2 horas.

A banda começou em grande estilo tocando a clássica “Do You Remember The First Time”, do álbum “His ´N` Hers”, de 94, por trás de uma cortina semitransparente. Após alguns minutos de estranheza, onde a plateia deve ter se perguntando que inferno seria ver o show inteiro daquele jeito, a cortina se abriu de maneira bombástica revelando um letreiro com o nome da banda em neon, num estilo cabaré-kitsch que combinava perfeitamente com a performance do vocalista Jarvis Cocker.

Comunicativo, Cocker interagia com a plateia o tempo todo, arriscando os comentários gringos de praxe, ainda que plenamente consciente da tosquice de seu sotaque. “Is it legal?” perguntava entre uma música e outra, além de apresentar “Underwear”, de “Different Class” (95), como sendo uma canção sobre “calcinha”. O lado dançante que diferenciava a banda de conterrâneos como o Oasis, e de certa maneira os aproximava da cena eletrônica, esteve presente em ““F.E.E.L.I.N.G.C.A.L.L.E.D.L.O.V.E.” e a clássica “Disco 2000”.

O Pulp segue uma tradição clássica de escrever canções baseadas no cotidiano da classe operária inglesa, que vai desde bandas dos anos 60 como os Kinks até rappers atuais como Dizzee Rascal.  Nos anos 90, esse tipo de “atividade recreativa”, que também foi bastante retratado pelos livros de Irvine Welsh (de “Trainspotting”), consistia basicamente em uma trinca formada por sexo compulsivo, litros de cerveja no pub e consumo sortido de drogas no final de semana.   

Um dos melhores retratos sobre raves e a clássica depressão que costuma acompanhar o consumo de ecstasy no dia seguinte, “Sorted For E´s And Wizz”, foi apresentada com uma projeção de lasers esverdeados que cobriam o lugar de cima a baixo, enquanto Cocker se perguntava no palco “And what if we never come down?”. Outro ponto alto da noite foi “This is Hardore”, que começou com Cocker dançando em cima das caixas de som em estilo andrógino antes de um solo melancólico de piano preparar o terreno para uma execução bombástica.

Maior hit da banda, “Common People” foi a última música antes do bis, e a que mais levantou a plateia. A letra autobiográfica sobre uma garota rica e esnobe que quer transar com alguém de classe inferior por curiosidade e emoção foi cantada em coro pela plateia. A arrogância “invertida” de Cocker divide as classes sociais entre aqueles que agem por mera diversão e aqueles que agem por desespero: “You´ll never watch your life slide out of view/ And dance and drink and screw/ Because there´s nothing else to do”.

O bis teve como destaque “Mis-Shapes”, outro hino de vingança de classes, além de uma performance cativante de “Live Bed Show”, que imagina um talk show composto por um monólogo de uma garota que se recorda das suas aventuras sexuais (“This bed has seen it all”). “Razzmattaz”, mais uma letra de superação amorosa (“You started gettting fatter/ Three weeks after I left you”), também foi uma das que mais causaram comoção.  

De maneira bastante apropriada, “Something Changed” encerrou o show com sua letra sobre como um encontro afetivo casual pode mudar a vida em um par de horas, enquanto Cocker dava os primeiros sinais de cansaço após pular o show inteiro de maneira ininterrupta. “Vocês não tem que acordar cedo para trabalhar amanhã?”, perguntava, como quem poderia tocar mais duas horas se a resposta fosse não.