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Turbonegro escala fã para o vocal e volta à cena após hiato de 5 anos

Da esq. para a dir., Happy-Tom (baixo), Rune Rebbelion (guitarra), Tony Sylvester (vocalista), Tommy Manboy (baterista) e Euroboy (guitarra), integrantes da banda norueguesa Turbonegro - Raymond Mosken/Divulgação
Da esq. para a dir., Happy-Tom (baixo), Rune Rebbelion (guitarra), Tony Sylvester (vocalista), Tommy Manboy (baterista) e Euroboy (guitarra), integrantes da banda norueguesa Turbonegro Imagem: Raymond Mosken/Divulgação

Eduardo Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

28/12/2012 13h47

Autoproclamados como “a maior banda underground do mundo”, os noruegueses do Turbonegro são conhecidos tanto por suas letras escrachadas e visual de filmes de terror quanto por sua legião de fãs, que chega aos shows uniformizada e se apresenta como Turbojugend. E foi graças a um destes fãs que a banda conseguiu sobreviver à saída do vocalista original, Hank Von Helvete e, após hiato de cinco anos, retornar à cena com “Sexual Harassment”, seu novo álbum, recém-lançado.

Gravado no estúdio de Jimi Hendrix, o Electric Lady Studios, em Nova York, o disco traz os vocais de Tony Sylvester, de nome artístico Duke of Nothing, cantor inglês que foi presidente do fã-clube do Turbonegro em Londres e que assume o lugar de Helvete com autenticidade e segurança. As dez faixas do álbum – o nono do grupo formado em 1988 – mantêm as raízes  hardcore e absorvem sonoridades de bandas como Stooges, Motley Crue, Judas Priest e Rolling Stones em sua fase dirty. O resultado são 32 minutos de guitarras ferozes, muita zoação e toda a energia que os rapazes parecem ter acumulado ao longo desses últimos cinco anos parados.

Para comentar o retorno da banda, o UOL conversou com o guitarrista Euroboy, um dos fundadores do Turbonegro. Na conversa, ele revela o motivo da saída do antigo vocalista e dá detalhes da gravação do novo álbum.

UOL - Depois dos últimos shows com Hank Von Helvete, vocês já tinham em mente essa proposta de encontrar novos membros para a banda? Caso contrário, qual foi a ocasião ou conversa que fez com que vocês se sentissem empolgados a ponto de recomeçar?
Euroboy - Já nos últimos anos da última década nós pressentíamos o fim da banda. Quando começamos, as ambições eram altas: tínhamos fãs em todos os lugares, o punk, influenciado pelo hard rock, havia se tornado mainstream, e alguns dos grupos com os quais cruzamos caminhos nos anos 1990, como Queens of the Stone Age e The Hives, de repente estavam no topo das paradas da MTV. No nosso inconsciente ficava aquele pensamento de que “isso pode acontecer conosco também”. Mas Hank Vol Helvete, o vocalista na época, vinha de uma fase de recuperação e recaída nas drogas desde a adolescência, e isso de muitas formas estava atrapalhando nossa escalada para que nos tornássemos uma banda profissional. Fizemos o último show juntos num festival em Budapeste, em 2009. Nunca pensamos em procurar um novo vocalista.


[Tony] é o Lemmy viajando de primeira classe. Trouxe o perigo de volta, a atitude e a urgência que as pessoas geralmente associam ao punk rock.

No verão passado, acabamos fazendo uma jam num evento que rolou no nosso fã clube em Hamburgo, na Alemanha. Era só uma brincadeira entre ex-membros do Turbonegro e amigos, e nosso velho camarada Tony Sylvester era apenas um dos convidados. Acabou que o cara mandou muito bem, estava tão entusiasmado e conhecia tão bem o estilo, que soou bom demais! Daí fizemos um show só com ele, tipo uma festinha vip. A reação do público foi sensacional. Percebemos então que nunca tínhamos sido realmente uma grande banda... até aquele momento!

Fãs de rock sempre ficam preocupados quando uma banda perde seu vocalista original – o Sepultura, por exemplo, decepcionou muita gente quando o Max Cavalera saiu...
Musicalmente falando, Tony tem um ótimo gosto e conhecimento. O fato de ter sido presidente do fã clube do Turbonegro em Londres mostra o quanto ele sempre foi apaixonado pelo som e o quanto ele respeita o passado da banda. Tony fez parte de algumas bandas de hardcore, mas há certas nuances de seu vocal que evidenciam as múltiplas influências de sua coleção de discos e uma relação de longa data com a cultura do rock. Como colocamos no press release, ele é o Lemmy viajando de primeira classe. Hank tinha aquela coisa de glamour vaudeville em sua performance, mas foi algo que acabou sumindo com o tempo, por conta das mudanças ocorridas em sua saúde e personalidade. Ficou uma coisa tipo David Lee Roth no leito de morte. Já o Tony trouxe o perigo de volta, a atitude e a urgência que as pessoas geralmente associam ao punk rock. Essa reciclagem tem sido aplaudida por fãs e críticos, que parecem preferir o lado punk rock da banda do que as tendências glitter.

E qual é a história com o novo baterista, o Tommy?
O Tommy foi nosso roadie nas antigas. Ele é o meu baterista favorito da cena de Oslo há muito tempo, e eu sempre quis tocar com ele. Fizemos até uns tributos ao Joey e Dee Dee Ramone. Algumas pessoas não sacam a importância dos bateristas nos grupos, especialmente na hora de compor – a natureza das músicas está praticamente em suas mãos.
 

  • Capa do álbum "Sexual Harassment", do Turbonegro, lançado pela gravadora Universal

Como tem sido a reação do público na turnê para promover "Sexual Harassment"?
Tem sido muito legal. Estamos esgotando ingressos, fazendo duas voltas para bis direto, e, claro, ajudando as pessoas a se autodestruírem em uma névoa de barulho, licor e batom masculino.

Nessa nova formação, como que ficou o papel de cada um no processo criativo? Vocês tiveram que ensaiar muito para deixar o repertório redondinho antes de entrar em estúdio?
O nosso tipo de som não segue um processo tradicional de composição, como algo que você poderia tocar num violão ou num piano. São basicamente riffs. Até agora, Happy-Tom e eu somos as forças criativas da banda. Mas a performance de cada integrante acaba somando alguma coisa no resultado final das gravações. É mais um recorte de frases, sons, jeito de tocar, textura e produção. Assim que pinta um título legal de música, a gente se junta em volta do laptop, ficamos chapados, e basicamente escrevemos as letras na hora, dando risada.

Depois de tanto tempo na estrada, como é olhar para trás e perceber a evolução toda que se deu no meio musical, em termos tecnológicos?
Acho que a maior mudança que rolou na música desde que começamos foi mesmo no aspecto tecnológico, com a reprodução em streaming, a internet e os smartphones. Outra coisa é o fato de que bandas das antigas com boa reputação, hoje, estão mais valorizadas e podendo realizar grandes shows, pois antes tudo era tomado por festivais. Também ficou mais fácil produzir um disco e distribuí-lo hoje em dia. Então, muita coisa melhorou. Para muitas bandas, como a nossa, agora é possível pagar as contas com dinheiro de shows e sobreviver assim. O ponto negativo talvez seja que bandas apaixonantes não surgem mais com a mesma frequência do que há quinze anos – um pouco da magia se perdeu. Aquela relação íntima que tínhamos com o disco físico ou a exclusividade de ter visto um espetáculo ou um show histórico num clube, faz parte do passado. Não me importo, sou feliz por ter crescido nos anos 1980-90, quando essas coisas reuniam algum significado.

Você sabe que no underground brasileiro vocês são bastante admirados?
Pois é! Eu sei sim, adoraríamos visitar o Brasil! Meu melhor amigo de infância é brasileiro, mudou-se para a Noruega quando tinha seis anos, então sempre tive uma relação com o país. Acho que, tirando o Happy-Tom, que também é surfista, nenhum de nós ainda teve a oportunidade de conhecer o Brasil. Quem sabe em breve!