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"Eu lutei por ele até o final", diz Graziela, ex-mulher de Chorão

James Cimino

Do UOL, em Santos

07/03/2013 18h00

Em conversa com a imprensa após o sepultamento do ex-marido Chorão, a estilista Graziela Gonçalves disse que não são verdadeiras as alegações feitas por familiares de que o músico estava deprimido por causa da separação.

Nesta quarta (6), Graziela e o irmão de Chorão, Ricardo Abrão, chegaram a se desentender enquanto esperavam a liberação do corpo do cantor no IML de São Paulo. À noite, durante o velório, outra irmã de Chorão, Tania Wilma Abrão, acusou Graziela de ser culpada pela morte do músico.

"Isso é não é verdade. Eu lutei por ele até o final. Acabei perdendo a guerra para essa droga, que está acabando com todo mundo. Espero que isso sirva de lição para as pessoas", comentou Graziela. Ainda sobre os boatos envolvendo seu relacionamento com o cantor, a estilista disse que "as pessoas falam muitas coisas, mas não tem nada a ver."

Graziela e Chorão foram casados por 15 anos e estavam separados desde novembro de 2012, mas não chegaram a se divorciar.

Uma amiga da família já havia revelado ao UOL que Chorão estava enfrentando problemas com seu vício em cocaína, e que este teria sido o motivo da separação de Graziela.

Na manhã desta quinta (7), Graziela escreveu no site oficial da banda dizendo que amaria Chorão para sempre. No texto, ela agradece as composições feitas por Chorão sobre o relacionamento do casal. "Através das suas músicas, você transformou as nossas histórias em histórias para outros tantos casais do Brasil afora. Não existe forma mais generosa e bonita de se eternizar um sentimento", escreveu.

A estilista ainda chamou Chorão de "meu melhor amigo" e "meu grande amor infinito". "Como você me disse da última vez que nos falamos, eu também vou te amar para sempre, sempre, sempre, sempre...", concluiu.

No comunicado, Graziela também direcionou palavras aos fãs de Chorão. "Vocês eram a única razão do Alexandre querer continuar a fazer o que ele fazia", escreveu.

Velório e sepultamento
O corpo do cantor Chorão foi sepultado na tarde desta quinta, no cemitério Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, por volta das 17h.

Entre os familiares, acompanharam o sepultamento a ex-mulher, Graziela Gonçalves; a primeira mulher de Chorão, Thais Lima; o filho dela com o cantor, Alexandre; o irmão do músico, Ricardo Abrão; e a apresentadora Sônia Abrão, prima de Chorão. Também estiveram presentes no local integrantes do Charlie Brown Jr., o músico Marcelo Nova --com quem Chorão fez parceria no Acústico MTV-- e Falcão, vocalista do Rappa.

De acordo com informações da assessoria de imprensa do cemitério, o corpo de Chorão foi sepultado provisoriamente no quinto andar, onde poderá ficar por até três anos, aguardando a decisão da família sobre a cremação. O desejo do cantor de ter o corpo cremado só poderá ser realizado após liberação pela polícia. Ainda segundo a assessoria do cemitério, o local estará sempre aberto para os fãs que quiserem visitar o corpo de Chorão.

O velório de Chorão teve início às 23h20 de quarta, com a chegada do corpo à Arena Santos. O espaço ficou fechado por cerca de uma hora e meia apenas para a família e os amigos próximos, e depois foi aberto para fãs.

A ida da ex-mulher do cantor, Graziela Gonçalves, ao velório causou tensão no local. Pouco antes de sua chegada, a irmã de Chorão, Tania Wilma Abrão, dizia aos gritos que a ex-mulher era a culpada pela morte de seu irmão. A família acredita que a separação foi a responsável pela depressão que levou Chorão a morte. Mais cedo, no IML de São Paulo, o irmão do vocalista, Ricardo Abrão, já havia se desentendido com Graziela.

Fontes próximas a Graziela dizem que as drogas levaram Chorão à morte, e não a separação, como alegam os familiares. Uma amiga da família contou que o apartamento do cantor, na zona oeste da capital paulista, seria o reduto de Chorão para o consumo de drogas, o que incomodava Graziela, casada com Chorão havia 15 anos. Eles estavam separados desde o final de 2012, mas ainda não tinham oficializado o divórcio.

Apesar da confusão com alguns familiares, Graziela foi recebida com carinho pelo filho de Chorão, Alexandre, e por amigos do cantor presentes na cerimônia.

Mais de 2 mil pessoas haviam passado pela Arena Santos até a manhã de quinta.

Morte
Chorão foi encontrado morto na madrugada de quarta (6) em seu apartamento, que fica no oitavo andar de um prédio no bairro de Pinheiros, em São Paulo.

As circunstâncias da morte estão sob investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Segundo o delegado Itagiba Franco, da Polícia Divisionária do DHPP, o motorista e o segurança do músico chamaram o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) por volta das 4h30.

A equipe de socorro encontrou o corpo do músico de bruços no chão da cozinha, com as mãos machucadas e já sem vida, sozinho em casa. O apartamento estava revirado, sujo e havia bastante vestígio de sangue. Bebidas e pó branco também foram encontrados no local, mas o delegado não confirmou se era droga.

Em imagens feitas durante a perícia da Polícia no apartamento de Chorão, às quais o UOL teve acesso, o corpo do músico estava cercado por lascas que aparentam ser parte do enchimento de um saco de pancadas de boxe.

A lateral do abdome do corpo apresentava hematomas, e metade do rosto estava machucada e coberta por sangue. O dedo mínimo da mão direita também aparentava estar quebrado. No balcão da cozinha, próximo ao corpo, havia uma pequena quantidade de pó branco em cima de um catálogo de filme pornô, ao lado de um canudo feito com uma folha de cheque.

O exame toxicológico, que vai apontar se havia cocaína ou outras substâncias no organismo de Chorão, será divulgado em duas semanas. Itagiba revelou ainda que foram encontrados, na casa, frascos do ansiolítico Lexotan e uma pasta de dentes usada para adormecer a gengiva --Chorão costumava morder a boca quando estava ansioso.

De acordo com Itagiba, Chorão estava morto desde, pelo menos, o meio-dia de terça-feira. O delegado contou que, na última semana, Chorão se hospedou em quatro hotéis diferentes da capital paulista. Na última hospedagem, ele se desentendeu com funcionários do local.

O delegado afirmou ainda que Chorão acreditava que estava sendo perseguido. "Ele chegava em casa quebrando tudo, por isso a bagunça [no apartamento]".

Para o delegado, a hipótese de suicídio deve ser descartada. "Chorão tinha planos, não tinha esse perfil", contou o delegado. Ele acredita que o caso foi uma fatalidade e relacionar com overdose de drogas, neste momento, também seria "leviano".

Biografia

Chorão -- batizado de Alexandre Magno Abrão -- formou a banda Charlie Brown Jr. na cidade de Santos, no litoral de São Paulo, na década de 1990. Ele era o único integrante que permaneceu durante todas as fases do grupo, lançando nove discos de estúdio, dois álbuns ao vivo e duas coletâneas. O grupo vendeu mais de 5 milhões de discos e, em 2009, ganhou um Grammy Latino com o álbum "Camisa 10 Joga Bola Até na Chuva".

O último registro da banda é o disco ao vivo "Música Popular Caiçara", que saiu no ano passado e marcou a volta dos integrantes Marcão e Champignon à banda, que haviam deixado o grupo em 2005. A banda estava de férias e o retorno seria durante um show no próximo dia 22 em Campo Grande, no Rio de Janeiro. Um show no Credicard Hall, no dia 6 abril, em São Paulo também já estava marcado.

A vida pública de Chorão foi marcada por uma série de desentendimentos entre os integrantes da banda e com outros músicos, como a conhecida briga com Marcelo Camelo, integrante do Los Hermanos, em 2007. Chorão agrediu o cantor na sala de desembarque do Aeroporto de Fortaleza e foi detido pela Polícia Federal.

Além da carreira musical, Chorão também escreveu roteiros, como do filme "O Magnata" (2007), dirigido por Johnny Araújo, e do longa "O Cobrador", que ainda está em produção. Ele também era dono do Chorão Skate Park, em Santos, uma pista de skate indoor.

Casado há 15 anos com a estilista Graziela Gonçalves, Chorão havia se separado dela em meados de novembro de 2012, mas o casal ainda não tinham oficializado o divórcio. Ele deixa um filho, Alexandre, de 23 anos, fruto da relação com sua primeira mulher, Thais Lima.

Repercussão

Ao saber da morte de Chorão, amigos e colegas do universo musical lembraram de seus últimos contatos com ele, sempre destacando sua personalidade explosiva e obstinada. Champignon, baixista da banda Charlie Brown Jr., disse que, apesar das desavenças, ele e Chorão eram amigos. "A gente tinha uma relação profissional. Apesar das muitas brigas, éramos amigos há mais de 20 anos", falou.

"Chorão era um cara diferenciado. Era jovem por dentro, tinha essa rebeldia que o cara novo gosta", destacou o produtor Rick Bonadio, que lançou o álbum de estreia do Charlie Brown Jr. em 1997 e tinha voltado a falar com o músico recentemente para mostrar novas faixas.

O jornalista José Julio Espírito Santo, que trabalhava na gravadora Virgin na época do primeiro disco, lembrou que, apesar de ser "uma pessoa muito amável em certos momentos", o músico parecia sofrer de "um transtorno bipolar sério, e que talvez nunca tenha tratado". "Ele tinha uma relação de amor e ódio com Rick Bonadio e o resto da Virgin. Eu, por algum motivo, era excluído disso e ele sempre se fechava na minha sala para pedir conselhos ou só bater papo e ouvir uns discos."

Johnny Araújo, que dirigiu "O Magnata" e diversos clipes da banda, resumiu: "Ele tinha uma atitude rock'n'roll. Era polêmico por ser verdadeiro, amava música e sabia o que queria. Era preciso ter sensibilidade para entender o jeito dele".

Uma das últimas pessoas a ter contato com Chorão, o radialista Tatola da UOL 89 FM, recebeu uma visita surpresa do cantor no dia 28 de fevereiro, nos estúdios da rádio paulistana. Durante o programa "Quem Não Faz, Toma", o cantor levou uma música inédita, intitulada "Meu Novo Mundo". Fora do ar, ele contou que estava muito abalado por causa da separação. "O apartamento estava bagunçado porque ele estava reformando e vivia fazendo festas. Não tinha nada de briga. Ele estava triste e se enfiou onde não devia se enfiar."

Pelas redes sociais, diversas personalidades lamentaram a morte de Chorão, entre elas o apresentador Luciano Huck, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, a apresentadora Ana Hickmann e os ídolos da torcida do Santos Neymar e Robinho.