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"Quando boto a cabeça no travesseiro há altos e baixos porque bebo muito", diz Zeca Pagodinho

Alexandre Coelho

Do UOL, no Rio de Janeiro

16/04/2013 18h58

Em sua terceira década de carreira, Zeca Pagodinho lança no próximo mês o combo de CD e DVD "30 Anos - Vida que Segue". A produção, em vez de fazer um apanhado da trajetória do artista, reúne grandes sambas do passado e de autores que o influenciaram. Ele recebeu jornalistas em um hotel na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, para contar detalhes do trabalho, gravado durante dois shows em de dezembro do ano passado.

Questionado sobre o que mais se lembra sobre esses 30 anos de carreira, Zeca Pagodinho respondeu com bom humor. "Quando boto a cabeça no travesseiro há muitos altos e baixos, porque eu bebo muito durante o dia", brincou.

Referência no samba, Pagodinho disse que sempre procurou trabalhar com "os melhores". O novo trabalho é um exemplo: em vez de rearranjar seus antigos sucessos, o artista preferiu citar suas referências musicais e apresentar essa herança às novas gerações.

AgNews
[Na minha época] O samba era tocado baixo, a gente ouvia o cantor. Às vezes, eles deixavam a gente cantar uma música, porque nossa batida era diferente, e eles torciam o nariz

Zeca Pagodinho sobre os antigos sambistas

"Quem viveu aquela época vai lembrar e gostar. E quem não viveu, vai conhecer. A gente procurou fazer os arranjos como eles eram. A opção por esse repertório é porque foi onde eu comecei, é sobre a minha paixão pelo samba, pela música brasileira. A partir daí, a vida me levou e fez de mim um artista", falou.

A lista de homenageados inclui Candeia ("Preciso Me Encontrar"), Zé Kéti e Elton Medeiros ("Mascarada"), Paulinho da Viola ("Foi Um Rio que Passou Em Minha Vida") e Adoniran Barbosa ("Trem das Onze"), entre outros. O material será lançado no dia 23 de maio.

Também compila clássicos como "Aquarela Brasileira" (Silas de Oliveira), "Volta Por Cima" (Paulo Vanzolini) e "Quem Parte Leva Saudade" (Francisco Scarambone). O CD/DVD conta também com a participação de convidados como Paulinho da Viola, Marisa Monte, Velha Guarda da Portela, Yamandú Costa, Hamilton de Holanda e Roberto Menescal.

A escolha dos convidados, segundo o próprio Zeca Pagodinho, foi por afinidade. "Eu mesmo convidei a Marisa o Paulinho. Já o Leandro Sapucahy eu encontrei no shopping. Como eu gosto dele, o convidei para gravar comigo. Ele representa bem a juventude, a geração dele", explicou.

A única faixa inédita no trabalho se chama "É Vida Que Segue (Por que Não?)". A música, que não estava prevista para ser incluída no repertório, foi gravada já com videoclipe com a participação de Xuxa e do coro dos alunos da Escola de Música do Instituto Zeca Pagodinho. "Essa música não tinha a ver com o projeto, mas ela me tocou e tocou quem a ouviu. Quando o Serginho [Meriti, compositor] cantou a música todo mundo parou, e eu decidi que iria gravá-la com as crianças de Xerém".

Letra decorada
Uma outra paixão explica a escolha pelo repertório: a admiração pela Velha Guarda, em especial a da Portela, sua escola de Carnaval de coração. Os encontros com antigos sambistas não apenas moldaram a música e o caráter de Zeca Pagodinho, como foram seu passaporte para o meio artístico.

"Quando a gente os vê cantando, eles têm uma organização que é só deles. Os violões, o cavaquinho, o jeito de cantar. Há uma coisa meio mística. É uma preciosidade. E eu comecei no primeiro Terreiro da Portela, na casa da Tia Doca, onde mostrei meus primeiros trabalhos. [Na minha época] O samba era tocado baixo, a gente ouvia o cantor. Às vezes, eles deixavam a gente cantar uma música, porque nossa batida era diferente, e eles torciam o nariz", recordou.

Zeca Pagodinho admitiu que, no repertório de 19 músicas, uma lhe deu mais trabalho do que ele imaginava: "Mascarada". "A gente [família] cantava essa música em casa quando eu era garoto, mas de algumas partes eu não lembrava mais. Meu medo era errar em um show para a imprensa e convidados. Ouvi a música umas 500 mil vezes. Ninguém lá em casa aguentava mais. Mas eu encarei e gravei de primeira".

Água e Jogos Olímpicos

Questionado se aceitaria participar da abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, caso fosse convidado, Zeca Pagodinho não perdeu a oportunidade de brincar. "Com essa pinta de atleta? Olimpíada de quê? Ta maluco?! A bola está aqui na barriga!".

Pagodinho voltou a descontrair o ambiente ao pedir água, algo raro para o notório cervejeiro. "É só hoje, porque eu estou com um problema na garganta. Fico até constrangido. Mas se o meu médico bobear, daqui a pouco eu vou abrir uma [cerveja] ali escondido", brincou.

Para os próximos 30 anos, Zeca Pagodinho diz que deixa nas mãos de Deus, mas que pretende continuar tomando sua cerveja e cantando samba. De preferência, ao lado dos velhos amigos com quem costuma dividir o palco em suas apresentações. "Eu os conheci no morro, no botequim, e não no palco. Na hora de tocar, tem que tocar, não pode jogar água para fora da bacia. Mas, fora do palco, é tudo compadre".