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Atração de festival de jazz, Magary Lord leva swing baiano e "black semba" aos EUA

Magary Lord tem músicas cantadas por Ivete Sangalo, Seu Jorge e Banda Eva - Bruno Ricci/Divulgação
Magary Lord tem músicas cantadas por Ivete Sangalo, Seu Jorge e Banda Eva Imagem: Bruno Ricci/Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

26/04/2013 05h00

Nova Orleans, no estado de Louisana, no sul dos Estados Unidos, recebe a partir dessa sexta-feira (26) seu tradicional festival de jazz. A cidade que respira música abre as portas para grandes artistas do mundo todo, do guitar hero B.B. King a banda de indie rock Band of Horses. Entre eles, um baiano, de nome inspirado no vilão do Jaspion, quer levar um ritmo novo para os quadris norte-americanos.

Magary Lord tem seu próprio trio elétrico no Carnaval baiano, é figurinha mais do que conhecida no circuito Rio Vermelho, em Salvador, e um requisitado compositor --"Real Fantasia", de Ivete Sangalo, e "Don't Wait", da Cidade Negra, são apenas algumas das colaborações recentes. Na terra do jazz, ele virou Magary Lord da Bahia e apresentar, no domingo (28) seu "black semba" no mesmo palco que a banda Earth, Wind and Fire. Nada de axé, portanto.

"Não tem problema me chamarem de cantor de axé, até porque axé é uma palavra muito positiva, mas gostaria de ser conhecido como criador de um ritmo: o 'black semba'. É uma mistura de Michael Jackson, Benito Di Paula, Pixinguinha, Gilberto Gil e Novos Baianos com a batida do semba de Angola. Assim como o Luiz Caldas foi (com o axé), sou alguém que chega hoje com uma nova proposta", contou ele ao UOL.

Brasileiros selecionados para o festival de Nova Orleans

1985: Tania Maria
1991: Milton Nascimento
1995: Olodum
2000: Especial Brasil, com Chico César, Maracatu Nacao Pernambuco, Hermeto Pascoal, Ilê Aiyê, Carlos Malta & Pife Muderno e Cascabulho
2001: Dona Selma do Coco
2005: Charles Teony
2007: Marcelo Cotarelli
2009: Chico & Rogerio com Lateiros Curupira e Ilê Aiyê

De MacGaren a Magary
Francisco Pereira Chagas, de 36 anos, deixou de lado o nome na certidão ainda quando criança ao ser chamado pelos amigos de MacGaren. Um dos vilões da série japonesa "Jaspion", de tanto ser repetido, virou Magary. O Lord veio do pai, em referências aos gestos nobres e reais do pequeno garoto.

Cresceu ouvindo os discos dos pais e dos irmãos --de Donna Summer a Pixinguinha-- e ganhou aos dez  anos, da mãe confeiteira (como um prenúncio do que viria a se tornar), um bolo em formato de tambor. "Onde morei, os trios se juntavam antes de ir para a avenida. A concentração era em frente de casa. Minha mãe falava: 'vai comprar pão', e eu ficava em cima da casa vendo a movimentação".

Ele entrou em bandas, formou grupos com os primos, tocou com Gilberto Gil e chegou a ir à Itália acompanhar as apresentações do maestro Aldo Brizzi, em 1995. "Já viajei para alguns países, Índia, Austrália, Escócia, busquei um pouco de cada cultura para poder juntar. A percussão me deu essa abertura".

Ao sair "da cozinha da percussão" para tomar a "sala", como ele mesmo explicou, Magary lançou o disco "Magary Lord - Inventando Moda" em 2012. Seu single "Inventando Moda (Billie Jean My Love)" cita Michael Jackson, traz um passinho e tem a participação da carismática filha de 11 anos, Kallinde.

"Meu pai e os amigos dele estavam cantando a música sobre Michael Jackson, e eu cheguei e falei: 'estanho, hein?'. Achei estranha a música, mas um estranho bom", conta Kallinde, que assina a música com o pai.

  • Jorge Tadeu/Divulgação

    Magary com sua filha Kallinde; carisma da filha combinou com o ritmo da música "Inventando Moda"

"Funk é o fim da picada"
De lá para cá, Magary levou Kallinde nos programas "Esquenta!" e "TV Xuxa", ganhou fãs como Regina Casé e Elba Ramalho, e viu Caetano Veloso virar presença constante em seus shows.

A canção se tornou um hit baiano e venceu o Troféu Castro Alves de música mais executada do Carnaval (na mesma premiação, Magary conquistou melhor canção com "Circulô", interpretada pela Banda Eva, e foi eleito cantor revelação). Consagrado no ano em que saiu com seu trio na pipoca, o compositor analisa a festa: "É um pouco desconfortável quando o trio tem corda. É o lance de separar, sabe, sem querer. O Carnaval mudou muito. Ficou um pouco mercadológico".

Magary também se mostra mais arredio com algumas canções-chicletes de seus conterrâneos: "Sempre me incomodou esse tipo de música. Eu sendo da Bahia, essa coisa de 'quero te comer', 'mulher faça tal coisa'. Música de pagode hoje é alienação, eles criam uma dança que é sexo explicito. O funk é o fim da picada. A gente pode ver aí o Harmonia do Samba... que ritmo gostoso! Dá para dançar, tomar cerveja, ficar frenético, mas existem outras coisa que eu não quero nem citar".

E se opõe: "Minha mensagem é outra. Eu poderia até fazer um pagode, mas com uma letra sobre o arco-íris. Só porque você vai cantar pagode você precisa falar da mulher, do peito, da bunda até o chão? Antes da minha música divertir o pessoal, ela tem que me divertir. Minha mãe pode ouvir minha música".

Festival promete mais artistas baianos

Por e-mail, os produtores do New Orleans Jazz and Heritage Festival afirmaram que o evento está estreitando o relacionamento com o governo federal e do Estado da Bahia, e prometem mais atrações brasileiras nos próximos anos, especialmente os artistas baianos. "Estamos felizes em se reacender esse relacionamento com o Estado da Bahia e o governo para apresentar músicos brasileiros no Festival de Jazz neste ano e nos anos vindouros. Depois desse trabalho, promotores e etnomusicólogos locais para encontrar bandas brasileiras para este ano, estamos felizes de ter Magary Lord e Malê Debalê"

Filhos artísticos
Com três filhos, Magary Lord demonstra ser um pai coruja: "Meu filho de 16, Junior Lorde, canta, compõe e já tem música no YouTube, porque ele se inspirou em mim, e nas minhas músicas bonitas. Kallinde também, em breve, deve ter seu primeiro bloco infantil no Carnaval. Ela gosta de multidão. Chegou um dia, em um show, e disse que não ia subir ao palco. Perguntei: 'por que, amor?'. E ela: 'tem pouca gente'".

Animada com a vida de cantora, Kallinde disse que quer cantar para crianças e adultos. "As pessoas falam que eu vou ser uma grande mulher. Eu gosto disso. Quero cantar musica internacional".

A carreira fora do Brasil, por enquanto, não vai decolar agora. Magary quer que Kallinde fique em casa esudando durante a viagem a Nova Orleans. "Não quero que as pessoas achem que quero me aproveitar de minha filha".

Sem a filha, Magary promete muita dança no festival. "Estou preparando músicas diferentes, quero explorar com dois dançarinos, dançar o 'Tumba tá' (nova música de trabalho)".

Os organizadores do evento também estão animados. "Nós apreciamos a energia rítmica e divertida da música de Magary Lord e achamos que vai funcionar bem com a energia e atmosfera no festival de Jazz", disseram os produtores do festival em nota ao UOL. Além de Magary, o bloco afro Malê Debalê, também da Bahia, se apresenta em Nova Orleans