"Guinness" reconhece brasileira como violinista mais velha em atividade
Mais de oito décadas de dedicação à música renderam a Adelci Groia Paulino um título que ela mesma considerava “inesperado”: o de violinista profissional mais velha em atividade no mundo, conferido pelo “Guinness World Records”.
O reconhecimento acabou se tornando um presente de aniversário. Ocorreu na semana em que fez 98 anos, completados no último dia 29. Porém, o feito registrado no “Guinness” foi alcançado antes, em 26 de abril do ano passado. Nessa data, aos 96 anos e 363 dias, apresentou-se com a Orquestra Sinfônica Municipal de Santos (72 km de São Paulo), da qual é integrante.
“Devo esse título a minha mãe [Rosa Banza Groia], uma criatura extraordinária. Foi ela quem me orientou, me levou a estudar, a gostar de música quando mal havia professores de violino”, disse Adelci, que na sinfônica santista atuou como “spalla” --instrumentista responsável pela afinação da orquestra, antes da chegada do maestro, e eventual regente substituta.
Há algum tempo, porém, Adelci está fora de atividade: meses atrás, quebrou o braço direito e tem feito fisioterapia. “Ah, meu amigo, esta é minha maior tristeza. Levei um tombo, caí do lado direito e bati o braço no chão. Com isso, precisei parar de tocar. No momento, não posso demonstrar meu entusiasmo tocando. Mas vou voltar, se Deus quiser”.
A violinista Adelci Groia Paulino, 98, durante ensaio com a Orquestra Sinfônica Municipal de Santos
O trabalho
A inscrição de Adelci Paulino no “Guinness” foi resultado de três anos de trabalho por parte do figurinista e crítico de arte Jean Louis, de quem partiu a ideia, e da artista plástica Renata Migliati, que mora nos Estados Unidos e foi a “gerente do projeto”.
Com domínio da língua inglesa, foi Renata quem escreveu a petição enviada ao “Guinness”, redigiu cartas posteriores e acompanhou por completo o processo de inscrição de Adelci Paulino do antigo "Livro dos Recordes".
“Estive em Santos, e Jean me apresentou a Adelci; me falou da ideia dele, e eu decidi que faria se tornar realidade. […] Fizemos um trabalho muito importante em equipe”, disse Renata, em mensagem enviada do Texas, onde mora. O UOL não localizou o figurinista.
Desde os 12 anos
A violinista nasceu em Juiz de Fora (MG) e começou os estudos aos 12 anos. Adolescente, mudou-se para a casa de uma irmã no Rio de Janeiro, onde se formou pelo Instituto Educacional de Música. No Rio, conheceu Oswaldo Paulino (1915-2006), veterano da Revolução Constitucionalista de 1932, e então estudante de Medicina. Casaram-se no início da década de 1940. Mudaram-se para Santo, e o matrimônio durou 65 anos.
Adelci atuou na Orquestra Sinfônica Brasileira, do Rio, no ano de sua fundação (1940). Em São Paulo, participou de duas orquestras --a de Câmara da Sociedade Bach e a de Concertos. Em Santos, em 1950, ajudou a fundar a Sinfônica Municipal de Santos, da qual ainda é integrante. Também na cidade, em 1976, criou o Quarteto de Cordas Martins Fontes.
Dos três filhos de Adelci, um se dedica à música integralmente (o pianista Ricardo Paulino, que já participou de festivais na Europa e se apresentou em cruzeiros marítimos), e outro, em parte (o médico oftalmologista e cirurgião Eduardo Paulino).
Além do recente reconhecimento internacional, outras distinções que a violinista recebeu foram o título de Cidadã Santista, em 2001, por seu trabalho pela música, e a Ordem do Ipiranga, a mais alta honraria concedida pelo governo do estado de São Paulo, em 2005.
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