Com show intimista, Rufus Wainwright canta até samba em SP
Tiago Dias
Do UOL, em São Paulo
10/05/2013 10h49
Rufus Wainwright desembarcou no Brasil e, pela segunda vez, se apresentou aos fãs apenas com seu piano no HSBC Brasil, em São Paulo. Mesmo que suas canções cantadas com uma voz naturalmente potente e dramática fizesse com que o clima etéreo permeasse sob o palco - de "The Art Teacher" a "Poses", que inicia e encerra o show - , o cantor que nasceu em Nova York, mas se criou no Canadá, deu pulos, contou histórias, fez piada e até arriscou um samba com a ajuda de instrumentos tocados pelo público.
Rufus já tinha contado ao UOL que vinha ao Brasil sem salto alto - em referência ao show da turnê de "Release the Stars", de 2008, quando cantava com brincos, roupão e um sapato feminino -, mas que traria "notas altas". E assim foi. Deixou em casa a banda e o apelo pop de seu último disco, "Out of the Games", e revisitou toda a carreira em um show de 1 hora e meia com virtuosismo.
Duas músicas desse trabalho, a faixa-título do álbum e "Jericho", trouxe Rufus no violão, animado, dando pulos. "Esse disco era para ser pop, com Mark (Ronson) na produção, mas na mesma época saiu 'Gangnam Style'", brincou.
Em "Candles", já no bis, propôs uma interação com a plateia: "Fiquei ouvindo samba. Não consegui dormir ontem à noite, e acho que tem uma canção minha que pode ser tocada assim. Trouxe alguns instrumentos, alguém de vocês sabe tocar?". As luzes se acenderam e Rufus distribuiu um bumbo e maracas, tudo com cara de brinquedo. "Podem diminuir a luz. Eu sou a estrela", pediu, bancando a diva. E fez uma ótima versão de "Candles" com o batuque brasileiro.
Com "Who Are You New York?" e "Martha", revisitou o delicado "All Days Are Nights: Songs for Lulu" (2010), gravado só com piano em homenagem a mãe Kate McGarrigle, morta em 2010. Ao tocar mais tarde "Zebulon", do mesmo disco, lembrou que a mãe tinha o acompanhado em seu primeiro show no Brasil em 2008. "Ela morreu de câncer, mas antes ela se divertiu muito aqui. Foi uma viagem de família. Obrigado, Brasil, por ter dado um pouco desse clima brasileiro para ela", agradeceu.
O cantor aproveitou e também homenageou o amigo Jeff Buckley, que morreu afogado no auge da carreira em 1998. "Sentia inveja. Resolvi não gostar dele. O que é muito horrível de um artista sentir do outro. Ficamos amigos, mas ele morreu 3 semanas depois", contou antes de cantar "Memphis Skyline" e "Hallelujah", de Leonard Cohen, avô de sua filha de 2 anos.
O alívio cômico vinha tão fácil quanto ele balançava a cabeça no piano. Com um violão terrível, que usou só porque o instrumento trazia o adesivo da Hello Kitty, cantou "California", mas esqueceu a letra para os risos da plateia.
Rufus continuou: disse que havia assistido filmes no avião e que tinha adorado "Cidade de Deus". "Uau! Tem uns caras gostosos lá", e revelou ter visto uma filmagem de Tom Jobim cantando com várias mulheres no palco. "Eram todas esposas dele? Quando eu envelhecer, quero cantar com uns 10 homens do lado".
O público seleto, distribuído em poucas mesas, agradeceu às notas e risos altos.
Rufus Wainwright ainda toca, pela primeira vez, em Porto Alegre nesta sexta-feira (10), no Teatro do Bourbon Country.
Set list
The Art Teacher
This Love Affair
Matinee Idol
Vibrate
Out of the Game
Jericho
Who Are You New York?
Martha
Memphis Skyline
Hallelujah
California
11:11
Going to a Town
Pretty Things
Montauk
Zebulon
Cigarettes and Chocolate Milk
Bis
Millbrook
Candles
Poses