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Disco de MV Bill tem questões femininas e protesto contra "ditadura do hip-hop"

?Eu fui criado, no fim da minha infância e na maior parte da adolescência, com 4 mulheres em casa. Aprendi a ser mais sensível às questões femininas", diz MV Bill - Divulgação
?Eu fui criado, no fim da minha infância e na maior parte da adolescência, com 4 mulheres em casa. Aprendi a ser mais sensível às questões femininas", diz MV Bill Imagem: Divulgação

Tiago Dias

do UOL, em São Paulo

02/08/2013 14h06

Com produção independente e distribuição gratuita, “Monstrão”, o novo EP de MV Bill, traz o rapper e ativista de braços tatuados e cruzados na capa. A imagem de Bob Wolfenson e as primeiras batidas da pesada faixa de abertura, que dá nome ao disco,  podem afastar os mais sensíveis. No entanto, por dentro do disco, as questões e a influência femininas estão mais do que presentes. Assim como a voz de sua irmã, Kmilla CDD. Parceria familiar, já conhecida do disco anterior, “Causa e Efeito” (2010). Mas aqui, Kmila participa de seis das nove faixas e divide os vocais, as rimas e o clima por igual com o irmão.

“Eu fui criado, no fim da minha infância e na maior parte da adolescência, com 4 mulheres em casa. Tudo era 4 vezes mais, eram quatro de TPM. Eu aprendi a ser mais sensível às questões femininas, embora eu não consiga representar esse universo. No hip-hop a gente costuma ser insensível. Uso a voz da minha irmã”, ele explica em entrevista ao UOL.

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    Kmila CDD, irmã de MV Bill, dá voz à sensibilidade do rapper

É Kmila que discute a relação com o parceiro na música e no clipe de “Estilo Cachorro 3” e que, segundo MV Bill, sai vitoriosa do embate. “É a mulher que manda no final. Em ‘O Soldado Que Fica’, é ela que determina o final. Fico assistindo o clipe e tenho a sensação que eu imaginei quando escrevi. Ela entra, por telefone, reclamando do marido que está no tráfico, ela sempre foi contra”.

Essa sensibilidade não é nova, mas serve para acentuar ainda mais o perfil combatente do rapper.  Ativista, escritor do elogiado “Falcão - Meninos do Tráfico” (ao lado do parceiro Celso Athyde) e fundador da Cufa (Central Única das Favelas), MV Bill acompanhou, indignado, as notícias das ameaças que o Afroreggae vem sofrendo no Complexo do Alemão e na Vila Cruzeiro - está última, atingida por balas na noite de quinta-feira (1).

“Isso nunca aconteceu com a Cufa, graças a Deus. Mas eu e o Centro repudiamos totalmente o que está essas atitudes”, diz. Assim como nas rimas de “O Soldado Que Fica”, o rapper também avalia a vida na favela pós-pacificação. Morador da Cidade de Deus, ele cita o caso do Amarildo Dias, da Rocinha, desaparecido desde que foi levado à sede da UPP no dia 14 de julho

“Essa é uma pergunta que estava sendo feita muito timidamente, poucas vezes, e que agora tem tomado outras vozes e se ampliando: quem vai cuidar da família do Amarildo? A família já diz que espera que ele esteja morto. Isso é muito doloroso. Estamos falando da maior favela do Rio de Janeiro, a maior do mundo, na zona sul carioca e como uma UPP dentro. Aliás, foi a própria UPP que tirou o cara da casa dele. É uma questão de honra que a polícia apresente uma solução”, critica.

Ele acredita que a questão não é ser contra ou favor das UPPs,  mas sim discutir justiça social e participação mais direta do governo. “Desde o início eu falo que é algo que precisa de ajustes. Uma coisa é ocupação, outra é a pacificação. A polícia não pode ser a única representatividade do governo nesses lugares. O papa mesmo estava aqui e disse, ‘sem justiça social não haverá paz’”.

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    Capa de "Monstrão", novo EP de MV Bill

"Ditadura do hip-hop"

Com o sample de “Alegria Alegria”, canção de Caetano Veloso que marcou o comportamento (político) em 1967, “Eu Vou” parece falar das manifestações que tomaram o Brasil desde o mês passado. “Parece mesmo, mas eu fiz essa música pensando em outro movimento. Existe quase uma ditadura dentro do hip-hop, que, claro, não é uma ditadura de verdade como naquela época, mas que é na base da proibição”.

O rapper reclama da patrulha que sofre cada vez que aparece na TV, que fala de um projeto na TV Globo e até mesmo quando  fez uma ponta no filme “Odeio o Dia dos Namorados”.

Para os “haters”, ele avisa que estreia nessa sexta-feira no Canal Brasil a nova temporada do programa “O Bagulho é Doido”, prepara novo livro sobre sua infância na favela (mais uma vez a quatro mãos, com Celso Athayde) e de mais uma participação como ator em uma minissérie que a Fox estreia ainda esse ano. 

“Essa coisa que você não poder falar com mídia, como esse portal, por exemplo. Sempre que tiver convites, eu falo. Eu não tenho problema com isso, não. Nunca tive. Sempre apareço. Pensei muito nessa parada de televisão. Pessoas ortodoxas são contra isso”, rebate.