"Jesus do Metal", Detonator recria História em "Bíblia do Heavy Metal"
Maurício Dehò
Do UOL, em São Paulo
16/08/2013 11h27
As camisetas pretas e a pose sisuda podem passar uma imagem séria, mas heavy metal e humor andam lado a lado há muito tempo, seja com bandas como a fictícia Spinal Tap, fantasias de horror como as do Gwar ou simplesmente em letras despojadas. Mas o personagem Detonator, criado pelo humorista Bruno Sutter, leva as gracinhas a um nível poucas vezes visto. A nova investida, quem diria, é na literatura. O “Jesus Cristo do Metal” resolveu contar a sua versão da criação do mundo, em uma bíblia no mínimo inusitada.
”A Bíblia do Heavy Metal - O Antigo Testamento”, projeto de Sutter com a Edições Ideal, é o primeiro de dois lançamentos que levam o nome de Detonator. Nesta estreia, quase como uma introdução, conta-se as desventuras do “Deus Metal”, parodiando fatos reais da história e os subvertendo com contextos da música pesada para explicar o surgimento do gênero -- e do mundo. Uma segunda parte, “O Novo Testamento”, enfatizará a saga do vocalista, criado há quase uma década como líder do Massacration, junto ao grupo de comédia da MTV "Hermes e Renato".
Bruno Sutter, que também prepara um disco do personagem, conta que a ideia era escrever uma biografia, mas que ela evoluiu de forma diferente. “Eu já tinha um contato com a Ideal para fazer a biografia do Detonator. Mas, para fazer, eu queria contar os primórdios de como começou o heavy metal. Afinal, o metal está aí desde sempre, e como tinha muita história antes do Detonator, pensei em fazer uma bíblia, com esta brincadeira de dividir em dois livros”, explica o humorista da MTV, completando. “Afinal, o Detonator é o Jesus Cristo do heavy metal.”
Sutter é o responsável por toda a parte escrita. E ele conta que pegou influências de um livro do Chaves ("Chaves - a História Oficial Ilustrada") para, além dos textos, rechear o livro com muitas imagens, entre desenhos e fotografias dele próprio fantasiado de figuras como Calígula, Mozart e até um tal de Latvno.
“Escrevi tudo. Como já faço o personagem há muito tempo, já tenho bem certo o universo do Detonator, com essas teorias de Deus Metal, essas brincadeiras. Foi gostoso fazer, fiz em duas semanas e meia. Quando se está inspirado, tem que aproveitar e ir embora”, conta ele.
Do Big Bang ao Renascimento, a publicação passa pela era dos dinossauros, pelos romanos e a Idade Média, entre outras épocas. A relação com a religião é grande, e tem explicação.
“O metal é uma religião pra muita gente, mas nunca foi abordado nessa forma. O humor pode ser usado para fazer essa analogia. Quem ouve Metal é diferente de quem gosta de outros estilos. Usei elementos históricos para fazer uma sátira, misturar realidade com ficção”, detalha Sutter, que usa uma linguagem descontraída com direito até a alguns palavrões. “Mas não é descabido, é uma hora que cabe, que seja inesperado. É coisa de adolescente. O palavrão usado na hora certa tem uma dose de humor legal, não pode ser escatológico.”
Os adolescentes são o público alvo de Sutter, o mesmo público que acompanha o Detonator na MTV, em programas como Rocka Rolla, ou nos lançamentos musicais que fez com o Massacration. Depois de sofrer um bocado com o preconceito dos fãs mais radicais, o humorista acredita que ganhou o respeito no mundo do metal.
“Hoje em dia eu posso te dizer, com certeza, que é uma minoria mesmo (de críticos). A maioria do público é bem-humorado. Essa história do metaleiro agressivo, sisudo, é mais coisa do passado. Tudo que tem massificação na mídia tem uma dose de rejeição, e comigo não é diferente, mas hoje é uma minoria”, diz ele.
O humorista ainda não tem previsão para o lançamento da segunda parte da “saga”, mas planeja colocar o Novo Testamento nas prateleiras em 2014.