Resultado do Prêmio Multishow dá atestado de óbito ao rock comercial
Não está fácil para o rock brasileiro. Se o Prêmio Multishow se propõe a traçar um retrato da atual música comercial no país --e consegue--, a cara do som contemporâneo é o pop para dançar, o pagode de festa, o sertanejo romântico. O evento, que neste ano chegou à 20ª edição, escancara uma lacuna do nosso cenário: a falta de bandas de rock com relevância para o mainstream. Lacuna essa que surge por dois motivos: a cena roqueira que não se renovou nem apresentou grandes rupturas; e a provável falta de interesse do jovem de hoje, que não se comove mais com esse gênero.
Com as recentes mudanças na MTV Brasil e, consequentemente, o futuro indefinido do VMB (Vídeo Music Brasil), o Prêmio Multishow tem a chance de brilhar sozinho no cenário da música brasileira contemporânea de forma mais ampla. É lá que artistas populares como Anitta e Naldo --as grandes novidades que apareceram no último ano-- podem ter seu momento de glória. O que se questiona é se estes cantores com tão pouco tempo de exposição possuem méritos suficientes para já se destacarem em premiações deste porte.
Já faz algum tempo que a importância de um prêmio no currículo dos astros ou para o conhecimento do público está banalizada. Afinal, o que um troféu acrescenta, de fato, à carreira do artista? E quem ainda se lembra dos ganhadores do ano passado? Com tantos fã-clubes conectados mundo afora, a premiação deixou de ser um simples atestado às boas obras para glorificar as bandas e artistas mais populares e pasteurizados através de votos do grande público.
Neste caminho, o Multishow cumpre o papel de salientar o nosso cenário presente para o bem e para o mal. Por meio das indicações sabe-se que o jovem gosta da música popular representada por Paula Fernandes e Michel Teló no sertanejo, da música pop com influências de funk vindos de Anitta e Naldo, do samba eletrônico do Oba Oba Samba House (que saiu direto da trilha sonora da novela "Salve Jorge"). Quem esteve na plateia do Prêmio Multishow, na noite de terça-feira (3) no Rio, presenciou a torcida da plateia: a cada vez que Luan Santana, Zezé Di Camargo e Luciano ou um integrante da Turma do Pagode passava em frente ao público, todos juntos cantavam uma música do determinado artista.
Por outro lado, o Prêmio aposta em um júri especializado --composto por jornalistas (que inclui a jornalista que aqui escreve), críticos e gente do ramo-- para tentar filtrar e lançar novos nomes para ouvidos cansados da mesmice. Neste ano saíram novidades interessantes como o capixaba Silva (vencedor na categoria "nova música") e a rapper indie Karol Conká (que levou a melhor como "artista revelação"), mas ambos em atividade há, pelo menos, dois anos. Nada tão novo assim.
O rock mainstream trouxe poucos representantes neste Prêmio Multishow 2013. Entre os indicados havia apenas Di Ferrero, do NX Zero, concorrendo a melhor cantor e perdendo para Luan Santana, e O Rappa entre os nomeados a melhor grupo mas superado por Sorriso Maroto. No rescaldo de 2012, o Fresno poderia ter sido selecionado por seu ambicioso "Infinito" com influências de rock progressivo, ou o Capital Inicial por "Saturno", que, apesar de não trazer novidades, é um importante representante do rock clássico.
Paralelos à indústria musical de massa, poderiam ser lembrados Vespas Mandarinas (do ex-VJ Chuck Hipolitho) e seu "Animal Nacional", a banda paranaense Nevilton e o disco "Sacode!", ou os goianos do Black Drawing Chalks com "No Dust Stuck On You". Mas, a depender do termômetro do Prêmio Multishow, o rock mainstream brasileiro morreu e os nomes interessantes do underground ainda não conseguem furar este bloqueio.
*A jornalista viajou a convite do Multishow
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