"Nunca gostamos do termo grunge", diz guitarrista do Alice In Chains
Ídolos da geração grunge, o Alice in Chains foi um dos grupos responsáveis pela renovação do heavy metal no início da década de 90, trazendo peso e uma atmosfera mórbida e depressiva para o estilo. Uma das principais atrações do Palco Mundo do Rock in Rio na quinta (19), o grupo ainda passa por Porto Alegre no dia 24, onde toca no Pepsi On Stage, e em São Paulo no dia 26, onde se apresenta no Espaço das Américas. Em entrevista por telefone para o UOL, o guitarrista e fundador da banda, Jerry Cantrell, falou sobre metal, grunge, influências e exigências “gourmet” no camarim.
A banda já tocou anteriormente no Brasil no extinto Hollywood Rock, em 1993, quando o grunge - rótulo usado para agrupar especialmente bandas de Seattle como Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e o Alice in Chains - estava em alta. Mais recentemente, voltaram para tocar no SWU em 2011, já com o novo vocalista, William DuVall, que substituiu Layne Staley, morto por overdose em 2002. “Nos últimos 12 anos nosso show tem sido a mesma coisa”, diz o guitarrista, rindo. “Mas temos muito orgulho de sempre operar em alto nível”, completa, sem falsa modéstia. Sobre o repertório, ele avisa que deve tocar um pouco de cada disco.
Segundo Cantrell, a participação da banda na atual edição do Rock in Rio surgiu através de um convite do Metallica, atração principal do quarto dia do evento. “Eles pediram e nós aceitamos”, diz ele, que afirma achar “ótima” a escalação da quinta, composta por diversos grupos e artistas com quem já dividiram o line-up anteriormente em outros festivais.
Nunca gostamos de ser chamados de 'grunge'. Acho que nenhum grupo de Seattle gosta do termo. Todas as bandas eram únicas, nenhuma queria ser igual à outra
Apesar de apresentar um estilo diferente da maioria das bandas de Seattle durante o auge do grunge e de nunca ter feito parte do catálogo de gravadoras emblemáticas do estilo, como a SubPop, que ajudou a catapultar o sucesso da maioria das bandas locais, Cantrell conta que a cena local era bastante unida. “Nós íamos nos shows uns dos outros, dividíamos dinheiro, equipamentos, tudo”, diz.
Mas, enquanto colegas como Nirvana e Mudhoney tinham forte influência do punk rock e da cena indie de então, as referências do Alice Chains vinham quase todas de metal e rock clássico. “A maioria das coisas que fazíamos quando começamos era inspirada pelo rock inglês clássico, mas também ouvíamos bandas americanas como Van Halen e Aerosmith. Uma grande influência foi o AC/DC. Mas também gostávamos de Iron Maiden, Judas Priest, Scorpions, Pink Floyd, Led Zeppellin...”, conta.
Outra coisa em comum entre os colegas de geração era o repúdio ao rótulo “grunge”. “Nunca gostamos de ser chamados de 'grunge'. Acho que nenhum grupo de Seattle gosta do termo. Todas as bandas eram únicas, nenhuma queria ser igual à outra. Soundgarden era diferente do Nirvana, que era diferente do Pearl Jam, que era diferente do Screaming Trees, era uma coisa original”, diz.
Usando o heavy metal como sua principal inspiração, o Alice In Chains surgiu durante o auge da estética “poser” do estilo, com artistas como Warrant e Poison carregando na maquiagem e cantando letras hedonistas sobre carros e garotas. O som e o visual da banda, ao contrário, era cru, despojado e pesado, quase uma fantasia de morbidez narcótica. “Não estávamos interessados em fazer música leve, bonitinha. Queríamos fazer algo real. Então muitas coisas vinham de sentimentos ou de experiências pessoais”, explica.
Não somos negativos, apenas refletimos as coisas ao nosso redor, assim como as coisas dentro de nós. Você comete mil erros. Há muita beleza na vida, mas para chegar lá é preciso que você passe por muita m..."
Cantrell concorda ao ouvir se ele acha que o Alice In Chains foi um dos principais responsáveis por dar uma guinada radical na definição de metal durante a década de 90. “Fomos com certeza parte de uma mudança”, diz ele. “Novas gerações chegam e mudam tudo, isso é normal. Mas, dito isso, gosto de muitas bandas dos anos 80, é apenas um ‘sabor’ diferente”, conta ele. “Amávamos música e arte, mas óbvio que também queríamos fazer sucesso”, completa.
Longe de ser uma mera fonte de temas para as letras, depressão e vício em drogas parecem ter sido constantes na carreira do grupo, que só retomou as atividades três anos após a morte de Staley, quando DuVall assumiu o microfone. “Não somos negativos, apenas refletimos as coisas ao nosso redor, assim como as coisas dentro de nós. Você comete mil erros. Há muita beleza na vida, mas para chegar lá é preciso que você passe por muita merda”, relativiza Cantrell.
Com uma lista de pedidos de camarim que inclui culinária asiática e sucos naturais, quando questionado se isso não parece irônico considerando a imagem “junkie” da banda, ele ri, surpreso por saber que as exigências tinham sido divulgadas. “Quando você é jovem tudo bem”, diz ele sobre beber e usar drogas em viagens, “mas quando fica mais velho precisa se cuidar melhor, cuidar da ‘máquina’ para que ela funcione. Não é fácil manter a forma em turnê, ficar um ou dois anos na estrada pode ser bem exaustivo”, finaliza.
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