Inspirado em "Metrópolis", disco do Sepultura traz música sobre boate Kiss
Foi olhando para trás que o Sepultura buscou título e inspiração para seu novo trabalho de estúdio. Mais precisamente em uma frase da personagem-robô Maria, do icônico filme "Metrópolis" (1927), de Fritz Lang: "The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart" (em tradução livre, O Mediador Entre a Mente e as Mãos Deve Ser o Coração).
O 11º disco sinaliza mudanças importantes para a banda formada há três décadas em Belo Horizonte. Além de ser o primeiro com o baterista Eloy Casagrante, de 22 anos, marca o retorno aos estúdios norte-americanos, sob tutela de Ross Robinson, produtor do divisor de águas do grupo, "Roots" (1996).
Musicalmente, "The Mediator..." é um disco moderno. Sem se prender ao passado de clássicos, explora a matiz sonora mais pesada desde a chegada do vocalista Derrick Green, com inclinações ao thrash metal tradicional e moderno, ao grindcore que resvala no death metal, além do groove característico desde os anos 1990.
Diretas, as letras exploram temas mundanos, a exemplo das do álbum anterior, "Kairos" (2011), lançado após duas peças conceituais. "A gente não está preso ao 'Metrópolis'. Estamos ligados só à ideia da frase. De não perder um sentimento humano, do coração, de querer questionar o argumento racional. Ficamos livres para falar de política, tsunami, Vaticano, luto. Coisas mais amplas que mexem com a condição humana", explicou ao UOL o guitarrista e compositor Andreas Kisser.
A produção de Ross Robinson acentuou o peso e os timbres soturnos dos instrumentos. Como de costume, os esforços de criação ficaram inteiramente nas mãos dos músicos, que tiveram de ser trancar por dois meses em uma casa à beira mar em Venice, na Califórnia. "Tive total liberdade para trazer minha característica ao som do Sepultura, o que é uma grande honra e também a parte mais legal. Não tivemos nenhuma interferência de empresário, de gravadora. Nada", contou Eloy.
Veja abaixo o faixa a faixa de "The Mediator..." feito por Andreas Kisser:
1."Trauma of War"
"É uma porrada que abre o disco. Tem aquela coisa tradicional do thrash metal. É uma letra sobre soldados que voltam para a sociedade e tem problemas para se readaptar. Viver com a herança brutal da guerra. Temos um amigo brasileiro que foi ao Iraque, ao Afeganistão, pelo exército americano, e a música foi baseado numas histórias que ele contou".
2."The Vatican"
"O Vaticano acho que é um grande inferno no mundo. A mensagem de Jesus é muito simples, como a de Maomé. Respeite você mesmo, os outros e o planeta. Nada mais que isso. E o Vaticano usa essa mensagem de uma maneira política. Queríamos mostrar um lado um pouco mais realista disso, sem mexer com espiritualidade nem com a crença de ninguém".
3."Impending Doom" e 4. "Manipulation of Tragedy"
"São duas músicas que são mais ou menos a mesma coisa. Aquela coisa de criar situações para que uma lei, ou uma outra situação possa ser impostas sem rebater, sem debate. Como ataques terroristas que serviram de desculpa para novas guerras. As músicas são sobre criar um caos para tirar vantagem política desse caos".
Sepultura comenta e mostra faixas do novo disco
5."Tsunami"
"Tem a ver, indiretamente, com o Tsunami de 2011 [no Japão], mas tem a ver com o fenômeno natural mesmo. Acho que não tem furacão, vulcão, nada mais destruidor do que isso. Talvez apenas um cometa caindo na Terra seria mais. Não tem como se defender. Fizemos a música como uma forma de respeito à natureza".
6."The Bliss of Ignorants"
"Essa música é simples, fala daquela coisa de achar que está tudo certo, tudo bem, quando na verdade não está. De termos a Copa do Mundo no Brasil e não percebemos o mundo desabando ao redor".
7."Grief"
"É um luto. Foi feita em homenagem aos jovens que morreram no incêndio [na boate Kiss] em Santa Maria (RS), no início do ano. Esse é um sentimento universal, com o qual todo mundo se relaciona na vida. Acontece em qualquer parte do mundo. Independente religião ou crença da política".
8."The Age of Atheist"
"É sobre essa confusão de credo que a gente tem hoje. Não só de religião, mas de informação. O que é real, o que é verdade. O que a imprensa tradicional mostra e o que a imprensa alternativa mostra. Essas várias versões dos fatos ao mesmo tempo, que gera uma confusão. De acreditarmos em tudo e duvidarmos de tudo".
9."Obsessed"
"É uma letra que o Derrick fez sobre coisas mais pessoais dele. Algo sobre voltar à infância. Aquela coisa de não conseguirmos resolver certas coisas que vêm de muito tempo atrás. Aquele sentimento de ansiedade".
10."Da Lama ao Caos"
"Música do Chico Science. Ele foi um gênio da música. Fez uma revolução na música brasileira. Ele gostava muito do Sepultura, e a gente também gostava muito do trabalho dele. Morreu muito cedo. Respeitamos muito a Nação Zumbi. Somos irmãos. E finalmente tivemos a oportunidade de fazer uma música em português. Fazia muito tempo que não fazíamos, desde 'Polícia' [Titãs] e 'Crucificados Pelo Sistema' [Ratos de Porão], na época do 'Chaos A.D.'".
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