Supermercado de cultura pop reabre em Londres em clima de museu dos anos 90
O cachorrinho olhando para a vitrola no cartaz da Oxford Street, um dos principais centros comerciais de Londres, comemora: "Nipper voltou para casa". Depois de 13 anos e uma série de crises, a HMV --principal "supermercado de cultura pop" da capital britânica, com 4,5 mil metros quadrados-- reabriu suas portas no endereço original, de 1921. E reabriu com o mote original: "Nós somos entretenimento", em uma demonstração de que lojas físicas ainda podem sobreviver em meio ao mercado digitalizado em computadores e smartphones.
A volta ao endereço original em certo sentido parece também uma volta no tempo. Com um de seus três andarares totalmente dedicado à música, a loja oferece seu espaço quase exclusivamente para CDs, aqueles discos prateados que continham em média uma hora de músicas e que dominavam o mercado de música até cerca de dez anos atrás --alguém ainda se lembra? Uma visita ao local em muitos momentos lembra um passeio por um museu de como era a cultura pop nos anos 1990.
"Eu nem tenho mais um equipamento para tocar CDs, mas estou comprando discos para ouvir no computador", disse Danielle Roberts, 20 anos, estudante de Cambridge, em visita à loja nesta semana. Roberts estava comprando um álbum da banda Avenged Sevenfold, por 8 libras (R$ 28). "Sai quase o mesmo preço de comprar no iTunes, mas vem com a capinha, é legal", avaliou.
Nem mesmo os vinis --mais velhos que os CDs, mas que vivem um ressurgimento em todo o mundo com a revalorização de suas gravações-- consegue ter muito espaço entre as caixas de CDs. É possível encontrar um ou outro (especialmente em lançamentos recentes de gravações clássicas em novas embalagens), mas falta um espaço realmente dedicado a eles.
Em um comunicado, o grupo Hilco disse que a loja da rua Oxford foi reaberta com o objetivo de resgatar a herança do lugar e dar foco total à música. A área que atualmente é dedicada apenas a CDs vai passar por uma reforma para passar a receber eventos como lançamentos de livros e pequenos shows ao vivo. "A HMV é a única loja que ainda tem catálogo", disse o presidente da Hilco, comparando seu departamento a supermercados generalistas.
Supermercado pop
Localizada em uma das áreas mais movimentadas de Londres, a HMV da rua Oxford tem três andares dedicados a tudo o que pode haver em termos de cultura pop: além de CDS e vinis, há filmes e séries em DVD e Bluray, camisetas, posters, canecas, chaveiros, vídeo-games, brinquedos e livros. Muito disso faz referência a clássicos (camisetas de Pink Floyd, vinil dos Rolling Stones, livro sobre Jim Morrison, por exemplo), mas também há espaço para lançamentos, novidades e tendências.
Apesar de a loja parecer um museu em alguns momentos, o foco em cultura pop é parte de uma transformação da empresa, que havia passado a dar espaço demais a equipamentos eletrônicos (agora confinados a um pequeno canto da loja). Logo na entrada da nova-velha HMV, Blurays e DVDs chamam mais a atenção de que qualquer outra coisa. À esquerda, as velhas prateleiras com lançamentos e coletâneas de músicas em CDs que fizeram a história da marca estão de volta.
A parte de camisetas é uma das que chamam mais atenção no térreo, e dá uma boa demonstração da mudança nos padrões de consumo. Há mais desenhos com a palavra "Bazinga" (bordão da série "The Big Bang Theory") de que símbolos de bandas de rock como Iron Maiden e Ramones, que dominaram no passado. É mais um símbolo de que séries de TV agora ganham mais atenção do mercado de que as velhos roqueiros.
A HMV tem ainda uma seção inteira de livros, sempre ligados aos mesmos temas pop, com várias obras de Irvine Welsh e Nick Hornby, além de biografias de músicos como Neil Young, Dave Grohl e Bob Dylan. Ao fundo da loja, no andar térreo, há video-games (com destaque para "Call of Duty" e "GTA 5"), equipamentos eletrônicos (fones de ouvido e pequenas caixas de som) e até mesmo brinquedos. A HMV tem muito espaço para posters, bolsas, canecas, adesivos, tudo sempre com referência desse mundo pop que é o principal produto da loja.
História
A HMV da Oxford Street foi inaugurada em 1921 e se tornou um dos principais centros de divulgação da indústria musical da Europa. O endereço foi usado para finalizar a demo que garantiu aos Beatles, em 1962, seu cotrato com a gravadora EMI. A loja recebeu lançamentos de Madonna, Coldplay, e serviu, em 1995, para um show do Blur no seu telhado. É isso que o grupo da marca vai buscar recriar a partir de agora.
A loja havia fechado em 2000, e sido substituída por uma loja de roupas Footlocker, no que foi visto como o início do fim do mercado de música como era conhecido até então em todo o mundo. O retorno ao endereço original, após a aquisição da marca pelo grupo Hilco (em um acordo de cerca de R$ 175 milhões), é um símbolo de que a indústria não morreu, mesmo que pareça anacrônica.
A reabertura da HMV foi recebida com festa e ironia pela imprensa britânica. "Apesar dos downloads digitais, da pirataria e da péssima economia, ainda há vida no velho cão", destacou o jornal "Independent". A ironia é que, ao reabrir a loja original, a rede vai fechar uma outra loja (até maior) que tem na mesma região. A HMV ainda tem 150 lojas no Reino Unido e 109 no Canadá, e pretende lançar seu site na internet e aplicativo para celular nos próximos meses.
Apesar do investimento e do trabalho para refazer a marca HMV em seu endereço original, a rede ainda enfrenta um forte desafio. Segundo analistas ouvidos pelo jornal "The Guardian", cerca de 30% da música consumida no Reino Unido atualmente é baixada em formato digital, e este volume pode chegar a 45% em 2015. Além disso, quase 74% de todas as compras de música, filmes e séries no país foram realizadas pela internet.
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