Em autobiografia, Max Cavalera expõe mágoa por separação do Sepultura
O titulo da autobiografia de Max Cavalera não poderia ser mais propício: "My Bloody Roots – Toda a Verdade Sobre a Maior Lenda do Heavy Metal Brasileiro". Traduzido pelo jornalista Roberto Mugiatti e lançado no Brasil pela Editora Agir, o livro conta a trajetória do músico de 44 anos desde sua infância em São Paulo ao estrelato com o Sepultura.
Capa da edição brasileira da autobiografia "My Bloody Roots", de Max Cavalera
Autobiografia de Max Cavalera
Editora: Agir
Páginas: 208
Preço: R$ 39,90, em média
No livro, o ex-Sepultura revela os primórdios do que viria a ser uma das maiores bandas de heavy metal do mundo após se transformar em um garoto revoltado por causa da morte de seu pai, quando tinha dez anos de idade. "Se ele não tivesse morrido talvez nunca tivéssemos nos tornado músicos", diz ele.
Max também conta histórias hilárias sobre o inicio da banda em Minas Gerais, desde o primeiro show em Belo Horizonte como um trio até a expulsão do vocalista Wagner Lamounier (que mais tarde formaria o Sarcófago e se tornaria o inimigo número 1 do grupo). Segundo Max, Wagner roubava e vendia os cabos de guitarra da banda. "Acho que era cleptomaníaco".
No livro, Cavalera também revela seus problemas com drogas e alcoolismo, e sobre sua internação em uma clinica de reabilitação, que foi mantida em segredo até a publicação da biografia.
Cicatrizes pós-Sepultura
O desligamento de Max do Sepultura parece ter deixado algumas feridas que ainda não foram cicatrizadas. Max dá a entender que a mágoa criada pela separação ainda é latente. Ele não deixa claro o que realmente realmente aconteceu, mas afirma que as desavenças entre os integrantes e a mulher dele, Glória Cavalera, até então empresária da banda, começaram após a morte de seu enteado Dana, após sofrer um acidente de carro em 1996 e não resistir, aos 21 anos.
Mas admite que depois da tragédia com Dana a "banda deveria ter dado um tempo para que as coisas esfriassem", o que não aconteceu porque os outros músicos queriam continuar realizando shows "sem respeitar o luto do vocalista". Cavalera não dispensa elogios a mulher. Segundo ele, o Sepultura só conseguiu chegar ao estrelato por causa dela. "Gloria deixou de empresariar outras bandas para se dedicar somente ao Sepultura e sem ela nunca teríamos chegado onde chegamos".
Max também não poupa alfinetadas ao baixista Paulo Jr. --único integrante da formação inicial do Sepultura que ainda permanece na banda. Em certos momentos é chamado de "babaca" e considerado um músico que "não sabia tocar". Outro nome que não escapou foi de Monika Bass Cavalera, ex-esposa de Iggor Cavalera e atual empresária do Sepultura, que é mencionada como "piranha". "Quando a conheci, ela deu em cima de mim, mas não quis nada com ela. Algumas semanas depois, estava saindo com meu irmão".
Em contrapartida, Andreas Kisser, atual guitarrista do Sepultura, sempre é citado de maneira carinhosa e nota-se que ainda existe respeito pelo ex-companheiro de banda. "Sempre nos demos bem, havia uma química muito grande quando tocávamos juntos", ele conta.
Sem medir palavras
É interessante notar que, independente do livro, Max Cavalera sempre foi quem mais fez declarações sobre seu desligamento do Sepultura e nunca mediu palavras. Em sua defesa, ele diz que nas entrevistas esse é um assunto constante e que simplesmente responde o que lhe perguntam.
Já os atuais integrantes do Sepultura, quando questionados, sempre são cuidadosos e raramente soltam alguma declaração que poderia gerar polêmica. Fato que nos leva a refletir sobre quem realmente está certo em toda essa história: o ex-vocalista que não tem medo de dizer tudo ou os atuais membros que parecem ter receio de revelar algo?
De qualquer maneira, Max deixa bem claro que desistiu de tentar uma reunião com a formação clássica do grupo, pois não obteve sucesso nas vezes que falou com Andreas Kisser sobre a ideia.
O músico deixa claro que o Soulfly, atual banda dele, é a prioridade. E não poderia ser diferente. Ao longo dos anos o Soulfly se tornou tão grande quanto o Sepultura, e conseguiu resgatar em seus recentes trabalhos a velha sonoridade do thrash metal que fazia nos inicio dos anos de 1990.
O livro também conta com depoimentos de artistas como Mike Patton (Faith No More), Dino Cazares (Fear Factory), Mille Petrozza (Kreator), Ozzy Osbourne, Sharon Osbourne, David Vincent (Morbid Angel), David Ellefson (Megadeth), e prefácio escrito por Dave Grohl (Foo Fighters e ex-Nirvana).
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