Igreja organiza homenagem a Lou Reed; viúva revela que cantor morreu feliz
Um memorial para o cantor e compositor Lou Reed, que morreu no domingo (27) em decorrência de complicações no fígado, está sendo organizado em uma capela unitária em Newington Green, norte de Londres, ponto de encontro dos praticantes do Unitário, espécie de religião liberal que busca o crescimento espiritual a partir de ação social e da educação.
Músicos, artistas e fãs são esperados para participar do evento, chamado de “Wake on the Wild Side”. Segundo o “Mirror”, o evento busca celebrar a vida do fundador do The Velvet Underground e dar espaço para que as pessoas que se inspiraram no cantor e guitarrista possam fazer suas homenagens.
“O mundo seria bem diferente sem Lou Reed. Há muitas pessoas que sentem a necessidade distinta de lhe dizer adeus”, afirmou o reverendo ateísta da religião, Andy Pakula. "Este é um evento destinado a toda e qualquer pessoa cuja vida foi tocada por sua música e poesia, sejam eles antigos astros do rock, os jovens músicos ou apenas pessoas comuns".
O evento está programado para acontecer no domingo (3). Entre as recomendações: vestir-se de um jeito “selvagem”, do inglês “wild side”, em referência a uma das músicas mais famosos do cantor, “Walk on the Wild Side”.
Protesto
Ao contrário dos unitaristas, uma igreja batista norte-americana anunciou que irá realizar um protesto no funeral do fundador do The Velvet Underground, embora ainda não tenha sido divulgado local, data e detalhes da cerimônia e do sepultamento.
De origem fundamentalista, a Westboro Baptist Church é conhecida por fazer protestos em funerais de artistas que já se envolveram com drogas, como Cory Monteith, da série “Glee”, ou músicos, como no enterro do guitarrista do Slayer, Jeff Hanneman.
“Lou Reed instruiu o pecado orgulhoso. Os demônios do inferno cantarão em seu ouvido pela eternidade”, diz o tweet da igreja, cujos integrantes comparecem nos funerais carregando placas e cartazes. Chamado de poeta punk, o compositor ficou famoso por canções que falavam de drogas e prostituição, como "Heroin".
"Feliz"
A viúva de Lou Reed, a artista Laurie Anderson, escreveu uma carta a um jornal local de Springs, no Estado de Nova York, onde o cantor morreu no último domingo. Com uma espécie de obituário no "East Hampton Star", Laurie revelou que o marido morreu feliz, “observando as árvores”. Confira a carta na íntegra:
"Aos nossos vizinhos: que outono lindo! Tudo brilhando e dourado e toda aquela incrível luz suave. Água ao nosso redor. Lou e eu passamos muito tempo aqui nos últimos anos e, embora sejamos pessoas da cidade grande, esse é nosso lar espiritual. Na última semana, eu prometi a Lou que o tiraria do hospital e voltaria com ele para casa, em Springs. E conseguimos! Lou era um mestre do tai chi e passou seus últimos dias aqui sendo feliz e atordoado pela beleza e pelo poder e pela suavidade da natureza. Ele morreu no domingo, observando as árvores e fazendo a famosa posição 21 do tai chi, com apenas suas mãos de músico se mexendo no ar. Lou era um príncipe e um lutador, e eu sei que suas canções de dor e beleza no mundo vão encher muitas pessoas com a incrível alegria que ele tinha pela vida. Vida longa à beleza que descende e atravessa e sobrevoa todos nós."
Últimos momentos
De acordo com o médico Charles Miller, da Cleveland Clinic, em Ohio -- onde o cantor havia feito um transplante em abril --, Lou Reed voltou ao hospital nos últimos dias de vida após uma piora. No entanto, o próprio artista decidiu voltar para Nova York, ao saber que sua doença estava no estágio final.
"Ele morreu em paz, com todos seus amados em volta dele", disse o médico, segundo o jornal "The New York Times". "Nós fizemos tudo que podíamos. Ele queria realmente estar em casa".
Sóbrio desde 1980, Lou Reed era um praticante de Tai Chi, arte marcial reconhecida também como uma forma de meditação. "Lou estava lutando forte até o fim. Ele estava fazendo os exercícios de Tai Chi dele em menos de uma hora de sua morte, tentando se manter forte e se manter lutando", disse Miller.
Após a notícia do transplante de fígado, Lou Reed postou uma mensagem para os fãs em sua página no Facebook, em que se descrevia como um "triunfo da medicina moderna", e afirmou que estava ansioso para voltar aos palcos.
"Eu sou um triunfo da medicina moderna, física e química, sou maior e mais forte do que nunca. Meu tai chi e minha saúde têm me servido bem todos esses anos, graças ao Mestre Ren Guang-yi. Estou ansioso para voltar aos palcos, tocando e escrevendo mais músicas para me conectar com seus corações e espíritos", disse ele na época.
A história
Lewis Allan Reed nasceu em 2 de março de 1942, em Brooklin, Nova York (EUA). Considerado o 81º melhor guitarrista de todos os tempos pela revista norte-americana "Rolling Stone", Lou Reed é conhecido também como o pai da música alternativa.
Em 1964, ele trabalhou para a Pickwick Records, compondo canções para outros artistas. Ele fundou a banda Velvet Underground em 1964 junto com John Cale, com quem chegou a morar junto.
A banda foi um fracasso de vendas, mas se tornou um dos grupos mais influentes da história do rock e da música punk. O disco mais emblemático é "The Velvet Underground and Nico",lançado em 1967 com a imagem de uma banana na capa, desenhada pelo artista Andy Warhol. “Produzido” pelo artista Andy Warhol “The Velvet Underground & Nico” foi divisor de águas com o tempo. O som ficou mais corrosivo e barulhento com o segundo disco "White Light/White Heat”
Em carreira solo, Reed lançou discos que tornaram-se cultuados, como "Transformer", de 1972, produzido por David Bowie e que lançou o clássico "Walk on the Wild Side".
Reed visitou o Brasil em 1996 e em 2010 para promover seu livro "Atravessar o Fogo", no qual fez sessões de autógrafos em livrarias, e também para apresentar o show do disco "Metal Machine Music", de 1975. Contraditório, o álbum trazia apenas quatro músicas, com cerca de 15 minutos cada, sem vocais e com distorções de guitarras. Em três meses, o disco foi retirado das lojas.
Em 2011, ele lançou o álbum "Lulu", em parceria com o Metallica, mas o resultado parceria irritou seus fãs e os seguidores da banda. “Os fãs do Metallica querem me matar”, brincou Lou, à época.
“Eu sempre acreditei que há um incrível número de coisas que você pode fazer através de um canção de rock ‘n’ roll”, disse Lou Reed ao jornal "The New York Times". “E As coisas que eu tenho escrevido sobre não seria consideradas grandes coisas se eles aparecessem em um livro ou filme”.
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