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"Me considero um porta-voz do pagode dos anos 90", diz Péricles

Rafael Maia

Do UOL, em São Paulo

03/12/2013 11h05

Trabalhando na divulgação do segundo álbum em carreira solo, "Nos Arcos da Lapa", o cantor e compositor Péricles, ex-Exaltasamba, disse que se considera um porta-voz do pagode dos anos de 1990. Não apenas pela história à frente de um dos grupos de pagode mais bem sucedidos da música brasileira (foram 23 anos como vocalista do Exaltasamba), mas pela paixão pelo estilo musical que o catapultou para a fama.

Péricles afirmou acreditar que a sua trajetória o legitima e o autoriza para, sem soar pretensioso, poder "apresentar para uma nova geração" os artistas que ajudaram a consolidar, nos anos 90, o que ele chama de parte integrante da vida do brasileiro --em oposição a ser apenas um "movimento musical".

"Arcos da Lapa" que sai em CD e DVD foi gravado na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Nele, Péricles canta a história do pagode por meio de versões sucessos de crítica e de público, com músicas de grupos e artistas como Arlindo Cruz, Katinguelê, Art Popular e Fundo de Quintal, por exemplo.

A palavra que move o compositor é o amor, seja pela música, pelo desejo de não rotular e quebrar as barreiras musicais entre os diferentes estilos, seja pelos fãs, a quem Péricles, depois de tantos anos, quer surpreender e agradar. "A música que eu faço, esse CD, é uma homenagem que tem muito de mim, mas também é o que os fãs querem ouvir", afirmou, concluindo que ainda sente o a necessidade de se firmar no mercado e na memória do público.

UOL - Como surgiu a ideia de fazer o "Arcos da Lapa"?
Péricles - Surgiu em conjunto com colegas e a gravadora. Eu já havia ouvido o grupo MBM, de São Paulo, fazer uma coisa parecida. Também fui a algumas festas com o tema. Ninguém ainda tinha gravado nada e tinha muita coisa que as pessoas nem mais lembram. Então a ideia, desde o começo, foi mesmo fazer uma homenagem. E hoje em me considero um porta-voz dos pagodeiros dos anos 90.

Você presta uma homenagem ao pagode dos anos 90 com seu novo trabalho. Você se considera um dos consolidadores do estilo junto com o Exaltasamba?
Tem muitos nomes além de mim. O Exaltasamba foi, sim, muito importante, mas também tem o Leandro Learte, que contribuiu bastante. Também não posso esquecer do Salgadinho, do próprio Belo. Se eu for parar para pensar, existem vários nomes que contribuíram muito mais do que eu. O Gustavo Lins, o Délcio Luiz são nomes muito claros para mim.

O que muda do "Sensações", seu primeiro trabalho solo de 2011, para esse?
Eu sigo aqui a minha história de me firmar tanto no mercado como no coração dos meus fãs e do público. Eu ainda trabalho próximo de alguns integrantes do Exaltasamba. Eles ainda contribuem com boas ideias, acabamos sempre nos encontramos nos festivais sempre que possível. Dois deles fazem parte da minha banda. Então o "Arcos da Lapa" significa mesmo mais um passo na minha trajetória e é um trabalho feito também para os fãs. Acho que é o que eles queriam ouvir.

Com o Exaltamba, foram lançados mais de 20 trabalhos nos 23 anos em que você esteve à frente do grupo. Hoje em dia, tudo ainda soa como novidade?
Pode parecer estranho, mas pra mim ainda é tudo muito novo. Eu estou vivendo essa esperiência, procuro vivê-la intensamente, mas com todo o cuidado. Eu sinto a necessidade de sempre querer fazer o melhor, tanto pra mim quanto pro público, e espero sentir esse friozinho na barriga pra sempre, porque é o que me impulsiona a fazer melhor e procurar novos desafios.

No "Sensações", você cantou com Luan Santana. Agora, você canta com Xande e Mumuzinho. Como se dá a escolha das participações?
Quem direciona isso são as músicas do CD. Tem que ter a ver com a música. No "Sensações", o Luan canta "Cuidado Cupido". Embora as pessoas não encarem ele como um sambista, ele é um grande sambista. Eu busco sempre quebrar barreiras com as participações, porque eu acho que a música não pode ter essas fronteiras. As escolhas são minhas, eu faço pensando em quebrar essas barreiras, porque eu quero que o meu trabalho seja um instrumento pra isso. Nesse agora, eu canto com  Ana Clara, por exemplo, que é uma menina em quem eu acredito muito, é uma aposta minha, ela ainda vai fazer muito sucesso.

"Arcos da Lapa" é um trabalho de homenagem a nomes importantes do pagode. Quais são as suas inspirações e seus ídolos?
Além de todos esses que fazem parte do CD, como Arlindo Cruz, Délcio Luiz e por aí vai, eu não posso deixar de citar nomes como Roberto Carlos, Chico Buarque, Djavan, porque eles falam de amor de uma maneira que eu nunca vou conseguir falar. É simples, porque o amor é simples. É claro. Meu problema é que eu penso demais nas palavras. Não funciona com o amor. Mas é muito bom ter essas pessoas por perto, ter esses caras como amigos. O João Bosco é um outro grande ídolo meu.

Existem planos de um CD de músicas de inéditas?
Claro que sim, tenho muitos planos e algumas coisas que já estão andando. Mas eu quero curtir ainda bastante o "Arcos da Lapa". Já começamos a fazer alguns shows, em São Paulo, no Rio. Queremos percorrer as grandes capitais com uma pequena turnê do álbum ainda e depois viajar pelo Brasil, pra dentro do país, porque a ideia de fazer um CD de homenagem ao pagode dos anos 90 é levar, uma década e meia depois, essas músicas para a cabeça e o coração das pessoas.