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Polêmica marcou a vida de Jim Morrison, que faria 70 anos neste domingo

Luiz Antonio Mello

Do UOL, em São Paulo

08/12/2013 06h00

Poucos artistas têm --ou tiveram-- a vida tão manipulada e distorcida como Jim Morrison. E o que não falta na história do líder do The Doors, que neste domingo (8) completaria 70 anos de idade, é boato.

James Douglas Morrison nasceu em 8 de dezembro de 1943 na bucólica Melbourne, na Flórida (EUA), cidadezinha com cerca de 77 mil habitantes, e morreu em Paris em 3 de julho de 1971, aos 27 anos. Biógrafos conceituados seguem os rastros oficiais sobre a causa da morte, que atestam ataque cardíaco. Mas o corpo de Morrison não passou por autópsia, o que foi suficiente para levantar uma nuvem de versões contraditórias, incluindo overdose de heroína, ainda que Jim não tivesse fama de usuário da droga.

Fala-se de tudo: há teorias bizarras "comprovando" que o líder do Doors tenha sido assassinado pelo FBI; outras, "provam" que Morrison não morreu, que ele teria simulado a própria morte para deixar a cena e que ainda está vivo, morando em um mosteiro na Europa.

Só mesmo a companheira de Jim, Pamela Courson, poderia dizer o que aconteceu naquela fatídica madrugada, quando Morrison foi encontrado na banheira do apartamento onde o casal vivia na capital francesa. Única testemunha dos últimos momentos do cantor, Pamela morreu de overdose de heroína em abril de 1974, aos 28 anos, sem detalhar os fatos. Depois da morte de Jim, Pamela voltou a viver em Los Angeles reclusa e viciada na droga. Ela foi a única herdeira de Morrison.

Há quem imagine que, se estivesse vivo, Jim Morrison estaria comemorando os 70 anos cercado de filhos e netos em alguma cidade como a pacata Melbourne, onde nasceu. Nada muito estranho em se tratando do homem que concluiu o curso de cinema na Universidade da Califórnia e que, conversando com o amigo Ray Manzarek, fundou The Doors em 1965, no balneário de Venice. Manzarek morreu de câncer em maio do ano passado aos 74 anos.

Em busca da paz

O que seus colegas de banda, empresários e jornalistas confirmam é que Jim Morrison deixou os Estados Unidos em busca da paz. Ele não aguentava mais o assédio do público e da mídia, a perseguição policial (ele chegou a ser preso no palco) e, sobretudo, os seus fantasmas interiores superdimensionados pelo uso cavalar de bebidas e de drogas potentes como o LSD.

Ele ficou especialmente mortificado com a acusação --sem provas-- de que teria mostrado partes íntimas para a plateia num show do Doors em Miami, em 1969. Numa entrevista a revista "Rolling Stone", Manzarek disse que não viu isso acontecer e que o episódio prejudicou a banda. Mas, apesar do depoimento do tecladista e de várias pessoas que estavam nas primeiras do show, a polícia deu sequência ao processo de atentado ao pudor contra Jim.

O guitarrista Robby Krieger chegou a comentar que a estada de Jim Morrison em Paris seria temporária. Segundo Krieger, ele voltaria para Los Angeles assim que a poeira baixasse por conta do processo judicial de atentado ao pudor, que angustiava muito o cantor. O guitarrista disse não saber se Morrison voltaria para o Doors, mas essa hipótese é descartada pela maioria dos pesquisadores, já que ele estava farto dos palcos e estúdios.

Chamado de "rei lagarto", Jim continua provocando confusão até hoje. Seu túmulo no cemitério do Père Lachaise, em Paris, virou ponto de encontro de fãs, que acendem velas, bebem e causam tumulto no local. Familiares de pessoas que estão enterradas próximas a Jim até tentaram remover a sepultura do cantor para outro lugar, mas não conseguiram.

Endeusamento do The Doors

Com o Doors, Jim lançou sete discos entre 1967 e 1971, cultuados, endeusados e responsáveis por uma crescente legião de fãs em todo o mundo, em especial Estados Unidos. As letras de Morrison mostram influências nítidas do movimento beat de escritores como Jack Kerouac e Allen Ginsberg, e nomes de grosso calibre como Franz Kafka e Honoré de Balzac.

Ao longo de seu curto estrelato de seis anos, Jim Morrison falou muito pouco, daí a central de boatos que se formou à sua volta. Mas, alheio ao falatório, The Doors construiu uma discografia de qualidade. Em destaque está o álbum de estreia, "The Doors" (1967), de quando a banda abriu seu leque de influências sonoras que passam até pela bossa nova ("Light My Fire"), além do blues e jazz. A pancada mais forte ficou com a última faixa, a edipiana "The End" que Francis Ford Coppola inseriu na abertura do filme "Apocalypse Now".

Em 1970, quatro álbuns depois, The Doors voltou ao chamado rock básico gravando "Morrison Hotel", mas foi em "L.A. Woman", de 1971 (o último disco gravado com Jim), que a banda mostrou toda a sua potência musical e poética, e assumiu um romance com o blues. A voz já detonada do inchado e barbudo cantor, que muitos vêem como problema, deu um verniz ainda mais dramático ao réquiem de Jim à bordo do Doors. Ao longo que quase oito minutos a faixa-título "L.A. Woman" mistura drama, angústia e um quase alívio. Os elementos que nasceram e morreram com James Douglas Morrison.