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Anitta vira ídolo pop em 2013, mas terá "prova dos nove" ano que vem

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

23/12/2013 08h00

O Brasil viu surgir neste ano uma forte aspirante a ídolo pop. A carioca Larissa de Macedo Machado apareceu com o que manda o figurino próprio do gênero: hit chiclete, dança sensual, estilo sexy-sem-ser-vulgar, voz afinada, aparente simpatia e um nome artístico, Anitta --em "homenagem" à protagonista da série "Presença de Anita" (2001), espécie de Lolita brasileira, interpretada por Mel Lisboa.

Anitta em dígitos

  • 150 mil cópias do disco de estreia vendidos
  • 1° lugar entre as músicas mais compradas no iTunes, com “Show das Poderosas”
  • 26 mil execuções de “Show das Poderosas” nas rádios
  • 41 aparições em programas de TV
  • 533 mil seguidores no Twitter
  • 5 shows por semana
  • 3 trocas de roupas por show

A beleza e as roupas curtas deixaram muitos homens "ba-ban-do" e muitas mulheres --a quem Anitta chama de "manas"-- inspiradas, sobretudo pelas canções picantes e motivacionais, no estilo girl power. A receita provou ser um sucesso.

Anitta foi, de longe, a cantora que mais deu o ar de sua graça em programas de televisão em todo 2013. Segundo o colunista do UOL Maurício Stycer, foram 41 participações em programas diversos, da Globo à Rede TV!, de ponta em novela ("Amor à Vida") a pitacos esportivos em programa da madrugada ("Corujão do Esporte").

E o ano ainda não acabou. Ela vai cantar nos programas musicais da Globo, emissora que escancarou as portas para o apelo juvenil da cantora. Além do "Show da Virada", Anitta já gravou um dueto com Roberto Carlos (como em um diálogo cantado, ela defende a onipresente "Show das Poderosas" e ele responde com "Se Você Pensa").

Até o "rei", ao que parece, se derreteu pela cantora de 20 anos. Sem contar comerciais (para uma marca de camisinhas), o pseudo-romance com Eduardo Sterblicht do "Pânico", as fotos da infância (que mostram uma garota normal, longe do verniz mercadológico que a acompanha hoje) e as participações em shows de Ivete Sangalo a Preta Gil.

Conquistas
Tanta exposição é apenas o reflexo dos 150 mil cópias vendidas de "Anitta", seu disco de estreia lançado em julho; o título de revelação do ano pela Associação Paulista de Críticos de Artes, a APCA; as 26 mil vezes que a música tocou nas rádios e a nomeação de artista do ano no Brasil escolhida pelo serviço da Apple. A lista é extensa.

As conquistas são inerentes do talento de uma artista pop, mas para a conta fechar há muitas outras características a serem levadas em consideração. Há dois anos, Anitta balançava o quadril com mais propriedade no palco do Furacão 2000. Era uma MC e, junto com a história de que cantava no coral de uma igreja evangélica na infância, bradava seu amor pelo batidão e rimava sobre o cabelo (em "Proposta" ela mandava um recado para o peguete: "não toque no meu cabelo, você não é não escova"), namorava Mr. Thug --integrante do Bonde da Stronda-- e posava com facilidade para colunas de fofoca. Capitalizada pelo guru da Furacão, Rômulo Costa, a cantora até então tinha a fama de ser a criadora do "quadradinho".

A grande mudança tem pouco mais de um ano e não foi apenas resultado de um amadurecimento artístico, mas também de um encontro entre a adolescente e a empresária Kamilla Fialho. Com olhar mais afiado, Kamilla deu uma repaginada em Anitta do jeito que o mercado --carente de música pop que hoje faz o dinheiro girar no segmento--, queria. Antes, houve tentativas com boy bands como Br'oz e Dominó, e com cantoras como Kelly Key. Hoje, as gravadoras se beneficiam das cantoras de axé, como Ivete Sangalo e Claudia Leitte, que carregam a aura de divas.

Anitta aproveitou a cirurgia de desvio de septo no nariz e fez alguns procedimentos estéticos. "Perguntei se ela queria mudar mais alguma coisa. Ela disse que o nariz e o peito a incomodavam. Então, aproveitamos para que ela botasse silicone também", contou Kamilla em uma entrevista ao jornal "Extra".

O pop que bebe do funk
O pancadão, mais uma vez, fornecia matéria-prima para a bravata no mundo pop. Bonde do Tigrão manteve a tradição da batida e ganhou, em 2001, um contrato com a multinacional Sony Music, mas acabou morrendo na praia. Já em 2013, meses antes de Anitta, Naldo veio com passinhos, letras sexuais e muita produção, mas ao longo do ano perdeu um pouco o fôlego com relatos de falta de tato com fãs e com a maneira com que lida com as próprias questões pessoais, tão expostas na mídia.

Anitta trouxe do funk a sensualidade implícita nas letras e mensagens herdadas do funk melody, e o contato com adolescentes. Mas o batidão já não dita mais o ritmo e o quadril agora só mexe sob uma coreografia definida. Neste sentido, a Anitta é hoje mais Beyoncé do que Valeska Popozuda.

A saída de Anitta da Furacão foi traumática. Ela disse, antes de lançar o primeiro disco, que estava irritada com a gerência de Rômulo. Quando conheceu Kamilla, mudou de escritório, mas deixou o antigo guru com uma carta na manga pela quebra de contrato: uma liminar na justiça para receber R$ 5 mil por cada show feito pela cantora. Isso quando as apresentações ainda não eram uma super produção, com dançarinos e cenários próprios, sob o custo de R$ 60 mil por show, segundo rumores não confirmados pela equipe de Anitta. Kamilla contou que pagou muito mais do que uma multa de R$ 260 mil pelos direitos de agenciá-la.

Se você acha que já leu e ouviu demais sobre Anitta é bom se preparar porque 2014 reserva um espaço além da música. Ela estreia em janeiro o programa musical "Sai do Chão!", na Globo, ao lado de Naldo e Thiaguinho, e participa, pela primeira vez, das gravações de um filme, o "Copa de Elite". "Pedi um papel pequeno porque eu queria muito fazer. Gosto de atuar, fiz teatro por um ano, mas não continuei por falta de tempo. Gosto de trabalhar com tudo que aprendi", disse a cantora em entrevista ao jornal "Extra". O primeiro DVD virá em breve e será gravado no dia 15 de fevereiro no HSBC Arena, no Rio.

Resta saber não apenas se a cantora vai angariar mais fãs ou sofrer com uma exposição exagerada na mídia, mas se esses novos trabalhos vão demonstrar o nascimento de uma artista de verdade ou ser apenas uma febre passageira.