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Em novo álbum, Raimundos desperta curiosidade ao enveredar por ska e dub

José Norberto Flesch

Do UOL, em São Paulo

14/02/2014 04h00

"Ela comeu tanto que andava com a barriga arrastando no chão, perdeu o controle, tava estufada, cheiro horrível de merda que empesteou o recinto". Assim começa "Cachorrinha", faixa que abre "Cantigas de Roda", primeiro disco de inéditas do Raimundos em 12 anos. Sem gravadora, a banda produziu o álbum pelo sistema de crowdfunding. Avisou aos fãs, em agosto de 2013, que começaria uma vaquinha para arrecadar R$ 55 mil. A quantia cobriria todos os custos para que o grupo fosse a Los Angeles, na Califórnia (EUA), para gravar o novo trabalho CD no estúdio Firewater, de Billy Graziadei, líder do Biohazard. Detalhou os gastos em um site na internet, conseguiu o dinheiro e, sete meses depois, mostra o resultado.

  • Divulgação

    Capa do disco "Cantigas de Roda" (2013), do Raimundos

"Cantigas de Roda" sai três meses antes de "Raimundos", primeiro trabalho da banda, completar 20 anos. Dá para sentir que o grupo não perdeu o jeito para compor boas canções. "Gato da Rosinha", por exemplo, é um hit pronto para as rádios, mas a banda preferiu antecipar o álbum com a fraca "Politics". É neste ponto, talvez, que mais faça diferença não pertencer a uma gravadora. Ter mais gente para debater ou orientar sobre qual deveria ser a primeira música a lançar seria benéfico.

Nos fóruns criados a partir da audição, um dos assuntos mais discutidos era, ainda, se Raimundos sobrevive sem Rodolfo, vocalista que deixou o grupo há 13 anos e tem inúmeros fãs. Pois o disco vale também para rebater quem acha que Raimundos sem Rodolfo não é Raimundos. Exceto pelo fato de que o guitarrista Digão fica mais "preso" no palco por ter que cantar e tocar, a supervalorização do ex-vocalista vem à tona com este conjunto mais que razoável de 12 canções.

Ouça "Politics", dos Raimundos

Como há 20 anos, o Raimundos ainda toca pesado, alterna nuances de metal e punk, e canta letras com sacanagens ("Cera Quente", "Gordelícia"), mas desperta curiosidade maior quando envereda por caminhos não tão conhecidos em sua trajetória, como em "Dubmundos", um ska com participação de Sen Dog, do Cypress Hill. Há várias faixas com poder de fogo, principalmente para os shows, entre elas "Importada do Interior", puro metal e com potencial para a abertura das tradicionais rodas em frente ao palco.

Nos anos 1990 era legal ouvir Raimundos porque a banda fazia som divertido. Essa veia continua. "Ele beijava, beijava o Danado dela; ele cheirava, cheirava o Danado dela; passava a mão no Danado dela; alisava, alisava o Danado dela", diz a letra de "Gato da Rosinha", a melhor música do Raimundos desde "Mulher de Fases", que saiu no disco "Só no Forevis", de 1999.

"Cantigas de Roda" foi apresentado virtualmente primeiro a quem participou do crowdfunding. Cada apoiador, como a banda chama cada fã que colaborou, recebeu o disco e mais um "agrado", de acordo com o pacote que comprou, que pode ser uma cópia autografada ou até acesso a conversas online com os integrantes.