Topo

"Era muito chato quando se emocionavam ao me ver", diz Maria Rita

Fabíola Ortiz

Do UOL, no Rio

27/03/2014 08h01

Sete anos se passaram desde que Maria Rita lançou "Samba Meu", seu primeiro álbum dedicado ao gênero que estampa no título. Agora, a filha de Elis Regina retorna ao estilo no disco "Coração a Batucar", que chega às lojas no dia 8 de abril. E, dessa vez, a artista de 36 anos se diz mais livre e com mais intimidade para poder até brincar com a voz.

Pela primeira vez, Maria Rita assina sozinha a produção do disco. "Insegurança, claro, bateu em alguns momentos. Mas na hora do martelo final não fiquei insegura, mas muito serena e certa das escolhas que tinha feito", disse ela em entrevista ao UOL.

Com 12 anos de carreira e ganhadora de seis prêmios Grammy Latino, Maria Rita disse que está mais madura para lidar com a timidez no palco, com jornalistas, fotógrafos e público. "Peso mesmo foi há 20 anos, quando era adolescente, e tinha aquela coisa de achar tudo um saco. Para mim, era muito chato quando as pessoas se emocionavam ao me ver. Aquilo era um peso para mim, essa sombra de ser parecida com a Elis fisicamente. Achava insuportável".

Cantora e produtora
Depois de CDs e DVDs oriundos de gravações ao vivo, Maria Rita quis voltar a fazer um disco "do zero", segundo ela, com direito a pesquisa de repertório, conceito e sonoridade. "O 'Coração a Batucar' vem mais livre e com a intimidade de sambistas. Faço com honra. Tenho uma relação íntima, fortíssima e instintiva com o samba desde a infância. O samba é sempre muito presente na minha vida".

A ideia ressurgiu em 2013, durante os preparativos para o Rock in Rio. Para o festival, Maria Rita preparou um repertório com sambas de Gonzaguinha que cantou no Palco Sunset. "Era um sonho para qualquer artista tocar ali. Foi arrebatadora a confirmação da saudade e necessidade minha de continuar [com o samba]. A certeza veio quase que atropelando".

O disco reúne entre os compositores Rodrigo Maranhão, Noca da Portela, Xande de Pilares, Arlindo Cruz e Joyce Moreno. São 12 faixas que trazem o espírito de roda de samba em terreiro. E, para isso, ela assumiu os riscos de gravar em estúdio como numa roda de samba. "Essa coisa de terreiro em círculo é uma coisa minha. Gosto de gravar ao vivo, buscando o humano e a emoção de cada um dos músicos interagindo. Cada um conseguiu olhar no olho do outro".

As gravações começaram no dia 19 de novembro do ano passado e antes do Natal já haviam terminado. "Foi bem rápido, me assustei bastante, no bom sentido. Tinha a sensação de que havia esquecido alguma coisa. E essa sensação se confirmou por um segundo no final, já na mixagem, quando resolvi chamar o Arlindo para fazer a última música do disco ['É Corpo, É Alma, É Religião']".

O repertório também tem o incremento do sambista Noca da Portela, que deu a Maria Rita uma música que mantinha inédita há 30 anos. "Eu quase caí da mesa. Fiquei bastante emocionada. É um repertório que veio acontecendo livremente, intuitivamente. Não encomendei nada, mas chegaram músicas escritas pensando na minha história".

À sombra de Elis Regina
Embora tenha convivido pouco com a mãe --Elis morreu quando Maria Rita tinha quatro anos de idade--, a cantora diz que durante a adolescência foi buscar entender a própria história. "Descobri uma mulher linda, inteligentérrima, apaixonada pela vida e pelos filhos, corajosa. Isso é muito inspirador".

  • Divulgação

    Os três filhos de Elis Regina: Maria Rita, Pedro Mariano e João Marcello Bôscoli

No começo da carreira, Maria Rita decidiu se afastar da imagem da mãe. "Eu virei as costas para ela. Eram insuportáveis as acusações de que eu a imitava. Levei até as últimas conseqüências". Recentemente, a cantora revisitou o repertório de Elis em "Redescobrir" e foi naquele momento em que percebeu a falta da mãe.

Questionada sobre o que Elis pensaria hoje da filha ao ver o disco de samba, Maria Rita disse não ter dúvidas de que a mãe a apoiaria. "A gente teria tido uma amizade muito bacana e teríamos sido muito próximas. Tenho certeza de que teria o apoio dela em todas as decisões difíceis que tomei".