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Com 1h30 de atraso, Guns N' Roses faz cover de si mesmo em show morno em SP

Leonardo Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

28/03/2014 23h36

Depois de fazer os fãs aguardarem 35 minutos em Belo Horizonte e subir ao palco pontualmente às 22h em Brasília, o Guns N’ Roses deu início ao show desta sexta-feira (28), no Anhembi, em São Paulo, com 1h30 de atraso, retomando a infame tradição de promover longos atrasos. A quarta das nove apresentações da maior turnê brasileira do grupo teve início às 23h30, sem a chuva anunciada pela previsão do tempo, e para um público que, embora em grande número, não chegou a lotar as dependências do sambódromo.

Como era de se esperar, a demora irritou parte da plateia. Antes do show, alguns chegaram a apontar para os pulsos com os braços levantados, indicando insatisfação com a espera, entre tímidos gritos de “Guns N’ Roses”. Heterogênea, a plateia era majoritariamente jovem, muitos vestidos a caráter, com uma verdadeira profusão de bandanas e saiotes xadrez improvisados –visual clássico de Axl Rose.

O constante frenesi causado pela banda em seus áureos tempos, no entanto, parece cada vez mais distante da realidade deste novo Guns. Espécie de projeto solo de um frontman sem a voz e o pique frenético do passado. Efeitos claros de seus já 52 anos.

Ao lado do tecladista Dizzy Reed, um dos únicos integrantes da formação original, Axl e asseclas entregaram um show morno, saudosista e praticamente sem surpresas, que conseguiu despertar uma reação mais apaixonada do público em poucos momentos, como em “Welcome to The Jungle”, “November Rain” e “Paradise City”.

Abrindo com “Chinese Democracy”, o repertório foi dividido de forma equilibrada, com lugar para todos os álbuns de estúdio do grupo. Os hits, todos eles, estavam lá, intercalados pelas pouco inspiradas faixas do disco de inspiração chinesa lançado em 2008.

Guitarrista ensina riff de "Sweet Child O' Mine"

Ver o Guns N’ Roses em 2014 é como assistir à uma banda cover de luxo, com instrumentistas habilidosos e sem muito carisma, que seguem à risca uma estratégia traçada por Axl no início dos anos 1990, quando injetou o DNA da megalomania no grupo. Época em que o rock mais direto, inspirado em Rolling Stones, Aerosmith e New York Dolls, deu lugar a músicas longas, turnês extensas e shows não menos quilométricos. 

Voluntária ou não, a opção por se autoemular faz com que o Guns tropece no próprio roteiro. Com 2h40 de duração, o show perde apelo não só com as faixas de “Chinese Democracy”, mas também com as várias passagens dedicadas aos demais integrantes. Quando parece que enfim a apresentação vai decolar, entra o solo de um guitarrista aqui –um deles, de Ron Thal, com trecho do tema da vitória da Fórmula 1—, uma música cantada por outro integrante acolá. Nesses momentos de quebra de ritmo os bares lotam.

Momentos como os assobios desafinados em “Patience” e o vocal pouco convincente de “Nightrain” também não ajudaram. Mas nem tudo foram armas, houve, também algumas flores. “You Could Be Mine” e “Civil War” , do álbum "Use Your Illusion", de 1991, ganharam boas versões.

Na hora de homenagear as influências, houve ainda espaço para “Holidays In The Sun”, dos Sex Pistols --cantada pelo baixista Tommy Stinson--, versões instrumentais de “Babe, I'm Gonna Leave You”, do Led Zeppelin, e “You Can't Always Get What You Want”, dos Rolling Stones, além da cover de “The Seeker”, do The Who. O clássico da banda britânica foi recebido com total indiferença pelo público, que muitas vezes parecia jovem e com o gosto musical comprometido demais para se lembrar.

Plebe Rude

Antes da atração principal, a Plebe Rude, banda clássica do rock de Brasília, trouxe acordes mais punks à noite hard rock, que também contou com show do Doctor Pheabes. Atração de abertura na capital federal, o grupo que hoje conta com Clemente do Inocentes, veio a São Paulo a pedido do próprio Guns N’ Roses, que já gravou um álbum de covers voltado ao gênero dos Sex Pistols, “The Spaghetti Incident?”, de 1994.

À vontade, mesmo frente a um público que desconhecia seu setlist, a Plebe venceu pela pegada e pela inclusão de duas versões espertas. “Should I Stay or Should I Go?”, do The Clash, e um trecho de “Faroeste Caboclo”, da Legião Urbana.

Após ouvirem gritos pedindo por Axl Rose, a redenção de Philippe Seabra (guitarra e vocal), Clemente (guitarra e vocal),  Fred Ribeiro (baixo) e Marcelo Capucci (bateria) veio apenas no último número, com seu maior sucesso, a clássica e sempre atual “Até Quando Esperar”