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Emanuelle Araújo relembra época que era cantora de trio: "Não era feliz"

Toni Costa, Emanuelle Araújo e Lan Lan saúdam o deus do vento no novo disco do Moinho, "Éolo" - Divulgação
Toni Costa, Emanuelle Araújo e Lan Lan saúdam o deus do vento no novo disco do Moinho, "Éolo" Imagem: Divulgação

Tiago Dias

Do UOL, em São Paulo

30/03/2014 06h00

Aos 37 anos, a atriz e cantora Emanuelle Araújo está com a agenda cheia, mas continua tranquila, “zen”. Ela pretende voltar à TV, após participar do filme “SOS – Mulheres ao Mar”, e ao teatro. Além da agenda de shows com o Moinho, com disco recém-saído do forno. “Hoje em dia o meu ‘agitado’ é zen. A gente vai aprendendo com a maturidade. Sem agonia, como se diz na Bahia”, ela completa, devidamente relaxada, ao UOL.

Na música, Emmanuelle Araújo curte o novo rebento “Éolo”, lançado pela banda que mantém com a percussionista Lan Lan e o guitarrista Toni Costa. Não são apenas companheiros de trabalho, ela reforça. “Eles são meus padrinhos de casamento. A gente se frequenta. Lan Lan é minha irmã”. “Éolo” significa deus do vento na mitologia grega, e mostra que o Moinho está cada vez mais pop. Autoral, mas cheio de referências. Revisitando gêneros, mas criando novos caminhos dentro do ritmo que os levou a tocar nas casas noturnas da Lapa, no Rio de Janeiro: o samba de Dorival Caymmi, de Tom Jobim, de Vinicius de Moraes.

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"Ser cantora de carnaval não deixa você fazer outras coisas. Você vive em função da venda de abadá. Isso não tem nada a ver comigo"

“O samba ainda é muito presente. Foi o ponto de partida, é a espinha dorsal. Essa é ainda a nossa essência. Mas a mistura está no nosso sangue. Temos influencias distintas. Quando tocávamos Caymmi sempre vinha um solo ‘hendrixano’ do Toni. Nos últimos anos, a gente percorreu muito. Viramos uma banda de estrada, e essas composições novas refletem isso”, explica. 

‘Aqui não vai dar’

Há 12 anos, no entanto, Emmanuelle estava em cima de um dos trios mais visados do carnaval baiano. Estava, como dizem, “bombando”. Ela questiona o uso do termo. “Minha visão de bombar é muito relativa. Até porque quando eu bombei muito, eu não era feliz. Então o que é isso?”

Foi ela que aos 22 anos substituiu Ivete Sangalo na Banda Eva, onde foi vocalista durante três anos, até virar as costas firmemente para a possibilidade de virar uma das divas do axé.

“Foi uma decisão que eu não tinha como não tomar. Apesar de amar o carnaval. Sou uma foliã, sou aquela que vai atrás do trio elétrico mesmo, mas estar em cima do trio é outra coisa. Você ser cantora de carnaval não deixa você fazer outras coisas. Você vive em função da venda de abadá. Isso não tem nada a ver comigo”, conta.

“Foi maravilhoso o tempo com o Eva, mas havia uma restrição artística que em um ano e meio de banda eu já tinha percebido. ‘Aqui não vai dar’, pensei. É preciso de um talento ali para aquela indústria além da parte musical”, ela explica.

Mesmo gostando de fazer com que o povo “tirasse o pé do chão”, ela guardava outras vontade. “Gosto de cantar para que fiquem com o pé no chão”.

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Na guerrilha, largou tudo e acabou deixando Salvador para se reinventar como atriz e cantora no Rio de Janeiro. “Queria espaço para cantar coisas que não lotam o Maracanã. Se eu tivesse esse espaço em Salvador na época, não teria nem saído. Existe uma cena musical alternativa em Salvador que é muito reprimida. Agora as coisas começam a mudar. Experimento para o artista é muito importante, porque senão entra essa pressão para ‘dar certo’”.

O Moinho surgiu livre da obrigação de “bombar”. “Em nenhum momento, falamos: ‘vamos montar algo que vai explodir’. Não, vamos montar algo pra gente. A ideia era resgatar aquela música que a gente amava, de 1980, aquele início da música baiana, dos blocos afro, que ficou muito perdida e deveria ser o centro”.

Talvez por isso ela esteja tão centrada e zen. “Quando vejo minhas amigas que nasceram para isso [ser cantoras de trio], acho lindo. É uma questão de gosto. Mas a gente precisa se encontrar, senão você nunca vai ser 100%”, ensina.